segunda-feira, 8 de agosto de 2016

À busca da assepsia político-partidária


Conforme apuração realizada por equipe de ISTOÉ, foram confirmadas as suspeitas de que a campanha à reeleição da presidente da República afastada havia utilizado gráficas para a lavagem de dinheiro do petrolão. Na última semana, o relatório entrou em fase final de redação e uma perícia deverá ser oficialmente divulgada neste mês.
As empresas VTPB, Focal e Red Seg não conseguiram comprovar a prestação dos serviços declarados durante a última eleição, fato que reforça os indícios de que elas eram mesmo de fachada e serviram de ponte para o pagamento de propinas do petrolão, no fabuloso montante de R$ 52 milhões, recebidos da campanha petista de 2014.
A Focal foi a segunda empresa que mais recebeu recursos do PT, no total de R$ 24 milhões, só perdendo para o marqueteiro da campanha publicitária. As citadas gráficas não apresentaram notas fiscais, comprovantes de pagamento, ordens de serviço, contratos trabalhistas ou de subcontratação de terceiros, além de extratos de transferências bancárias que justificassem as atividades próprias da prestação de serviços para a campanha da candidata petista, a custo milionário.
Os citados documentos seriam de fundamental importância para provar que as citadas gráficas não teriam sido usadas como empresas laranjas pelo PT, tendo por finalidade esquentar dinheiro ilegal, proveniente de propina.
Fica muito claro que a inexistência da documentação probante tem o condão de comprometer a campanha à reeleição da presidente afastada e incrementa as dificuldades da sua situação política, o que pode contribuir para levar ao seu afastamento definitivo pela Justiça Eleitoral, se isso não ocorrer antes, por via do Senado Federal, no julgamento do impeachment.
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral disse que “A ausência da devida comprovação de gastos eleitorais, principalmente quando envolver altos valores, pode indicar a ocorrência de graves fraudes e até lavagem de dinheiro, com sérias consequências”.
Ele também disse que a ausência de comprovação dos gastos eleitorais indica a existência de fraudes graves, punível com a cassação da chapa, segundo prevê a legislação eleitoral.
As aludidas gráficas foram visitadas pelos peritos do TSE, tendo ouvido de seus donos histórias fantasiosas e mirabolantes, na tentativa de comprovar a colocação de seu maquinário a serviço da última campanha presidencial da petista, mas as versões, repetidas também à ISTOÉ, não têm a menor consistência nem verossimilhança, uma vez que a comprovação dos serviços ditos contratados não foi feita até o dia 24 de junho, diante da falta da entrega da documentação exigida pela Justiça Eleitoral, fato que torna impossível a absolvição das gráficas pela perícia da Justiça Eleitoral.
Os proprietários da Focal argumentam que, no período da campanha, a empresa chegou a ter 200 funcionários, mas não foram apresentados ao TSE os respectivos contratos de trabalho e ainda alegaram, como desculpa, que eles prestavam serviços semanais, sem vínculo trabalhista. Eles também argumentaram que os equipamentos de offset utilizados para atender ao PT estariam acondicionados em outro imóvel, sem ter apresentado as notas fiscais das máquinas, nem comprovado os registros sobre os ativos da gráfica, em 2014, o que caracteriza irregularidades nos pagamentos realizados na campanha eleitoral petista.
O certo é que a suspeição das atividades empresariais não mereceu a devida justificativa, ficando a certeza absoluta de que a ausência de comprovantes documentais somente confirma a ilicitude na transação em apreço.
Já a versão da empresa VTPB é ainda mais inacreditável, em termos de estrutura física, por se tratar de gráfica sem impressora, nem scanner, sequer máquina de xerox, ou seja, não existe nada, à exceção apenas do endereço fiscal registrado em uma quitinete, mas assim, nessas condições precárias, seus donos asseguram que a estrutura micro condiz com os R$ 22,9 milhões recebidos da campanha da presidente afastada. A empresa, segundo as explicações dos donos, fazia intermediação entre os políticos e as gráficas, na produção de “santinhos”, mas não foram apresentados notas fiscais ou contratos que comprovassem essas subcontratações, nem comprovantes de pagamentos ou ordens de serviço.
A empresa Rede Seg., que recebeu o valor de R$ 6,15 milhões da campanha presidencial petista, sendo a 8ª maior beneficiária de repasses, sequer entregou cópias ou originais do livro contábil, porque ele inexiste, como também não há escrituração da empresa. Na sede dessa gráfica, há somente uma guilhotina de papel e uma impressora, cujo proprietário, um ano antes da campanha, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, era motorista e ganhava salário mensal de R$ 1.490,00, fato que não condiz com quem amealhou a dinheirama acima.
Há suspeita de que os valores repassados às empresas Focal, VTPB e Red Seg eram oriundos do esquema criminoso do petrolão, cujos fatos foram levantados a partir de delações premiadas de donos de empreiteiras presos em decorrência das investigações da Operação Lava-Jato.
Diante da inconsistência das informações e dos elementos colhidos pelos peritos do Justiça Eleitoral, há forte indício de que as empresas fornecedoras de material gráfico possam fazer parte do esquema de lavagem de dinheiro, por meio de serviços gráficos, indicados na prestação de contas da campanha da petista.
          Embora os levantamentos realizados já sejam suficientes para o julgamento do processo em apreço, conforme a constatação da inexistência de material probante da prestação de serviços gráficos à campanha da reeleição da petista, a relatora do pedido de cassação da presidente afastada houve por bem pedir o compartilhamento de provas e informações obtidas pelas investigações da Polícia Federal, enquanto o presidente do TSE ponderou que “nem todas as diligências foram cumpridas pelo TSE e há outras em curso, de modo que há de se aguardar uma maior quantidade de elementos para elaboração do relatório final da perícia”.
Em que pese a visível morosidade da Justiça, os brasileiros anseiam por que os casos inquinados de irregulares sejam resolvidos e julgados com a maior celeridade possível, como forma de contribuir não somente para o aperfeiçoamento e a modernização da democracia, mas em especial para que o veredicto seja capaz de promover as necessárias assepsia do sistema político-eleitoral, condenação dos culpados e lição pedagógica, com vistas a se evitar a reincidência de irregularidades semelhantes a que ora se examina. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 08 de agosto de 2016

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