Segundo
laudo pericial elaborado pela Polícia Federal, com base em levantamentos de
mensagens, documentos e fotos encontrados no celular do arquiteto da OAS, que
teria ido ao sítio de Atibaia, São Paulo, “exclusivamente
para dirimir dúvidas do casal Lula da Silva”, o ex-presidente da República
petista teria supervisionado a reforma da cozinha gourmet ali instalada, que
teve o custo de R$ 252 mil.
Conforme
os elementos coletados, as reformas no sítio custaram a “bagatela” de R$ 1,2
milhão e tiveram início em novembro de 2010, ainda quando o petista se
encontrava na Presidência da República, e se estenderam até outubro de 2014, cuja
área foi acrescida de 520 metros quadrados.
O
aludido laudo revela que “Os peritos
apontam para evidências substanciais que a cozinha gourmet foi reformada e
instalada entre o período aproximado de março a junho de 2014, tendo sido
acompanhada por arquiteto da OAS, sob o comando de Léo Pinheiro e, segundo
consta nas comunicações do arquiteto da construtora, com orientação do
ex-presidente Lula e sua esposa”.
Em
mensagem de WhatsApp,
o citado arquiteto afirma que estava indo a um churrasco em Atibaia, com o
então presidente da OAS, na “fazenda de
lula”. Ele disse que aí “passar o dia”
com o petista e sua mulher. Possivelmente com a finalidade do acobertamento de negócio
estranho, o arquiteto inicia a mensagem pedindo “sigilo absoluto”.
O
sítio em questão é objeto de investigação da Operação Lava-Jato, por força da
descoberta de que empreiteiras envolvidas no petrolão, a exemplo da OAS e Odebrecht,
realizaram reformas no local, à vista da documentação em poder da Polícia
Federal.
Os
investigadores suspeitam que o ex-presidente, que sempre negou ser o dono da
propriedade, recebeu propinas das referidas construtoras, em troca de contratos
firmados com a Petrobras.
Na
verdade, o imóvel em causa está registrado oficialmente no nome de dois
empresários amigos do filho mais velho do petista, sendo que um deles é sócio do
filho mais velho do ex-presidente.
Entre
as informações e os documentos apreendidos, foi identificado e-mail enviado
pelo arquiteto ao empresário que tem seu nome como proprietário do sítio, que o
enviou, de imediato, para outro filho do petista. O e-mail continha a
maquete digital da cozinha.
Os
peritos da Polícia Federal concluem, no final da análise, que o sítio foi comprado
pelos citados empresários para o uso da família do ex-presidente, diante da
constatação de que, "Logo após a
assinatura do contrato particular, foram elaborados os primeiros desenhos
arquitetônicos para acomodar as necessidades da família do ex-presidente. No
final do mês de outubro de 2010, foi assinada a escritura pública de
compromisso de compra e venda do imóvel em questão. Tão logo o antigo
proprietário entregou as chaves do imóvel, iniciaram-se as primeiras
intervenções no Sítio, entre os meses de novembro e dezembro de 2010".
Outra
constatação importante apontada pela Polícia Federal foi o “discordante”
patrimônio de um dos proprietários com o valor pago pelo sítio, de
cerca de R$ 1,7 milhão. Consta do laudo que “O montante de aproximadamente 1,7 milhão de reais, dispendidos entre
2010 e 2011, apresenta-se discordante frente aos rendimentos, bens e direitos
declarados no seu imposto de renda” e que o engenheiro que fez as primeiras
reformas no sítio, em 2011, integrava os quadros da construtora Odebrecht.
A
análise realizada sobre os materiais e documentos apreendidos no sítio em causa
indica que o local passou por amplas reformas para atender às demandas do
ex-presidente e da sua família.
Os
peritos também afirmam que havia diversos objetos ligados ao petista e à esposa
dele, não tendo sido encontrado nenhum objeto pessoal das pessoas supostas
proprietárias do imóvel em apreço.
Em
nota, a defesa do ex-presidente alega que ele não é dono do sítio em questão, nestes
termos: "O ex-presidente reafirma
que não é o proprietário do sítio, que é, conforme está na escritura, de
Fernando Bittar. (...) O
ex-presidente sempre agiu dentro da lei antes, durante e depois da presidência
da República, por isso é reconhecido em pesquisas como o melhor presidente da
história do Brasil".
Não
precisa ser especialista em coisa alguma nem esforço para ser entendida a
clareza do laudo em tela, que mostra, com farta evidência material a ligação do
ex-presidente com as reformas realizadas no sítio, que também não necessita ser
da propriedade dele para a implementação das melhorias que jamais seriam
feitas, com tantos detalhes e requintes, caso elas não se destinassem ao mais
ilustre político nacional.
Certamente
que o petista não teria se exposto tanto para a realização de esplendorosa
reforma de cozinha para uso de amigos, por melhores que eles fossem, porquanto
os indícios não deixam dúvida de que os questionados beneficiamentos, às
expensas de construtoras, tiveram destino certo, possivelmente para recompensar
algo que também precisa ser esclarecido, tendo em vista que empresários não se
empenhariam ao extremo para simplesmente agradar, sem o devido retorno, a exemplo
de possível facilitação, por meio de contratações.
Nos
países sérios, nem precisava de tantas provas para se concluir pela
irregularidade na reforma do imóvel em situação que tal, ante a consistência
dos fatos que não fariam sentido senão na forma relatada com base nas
constatações materiais e testemunhais, conquanto as argumentações de que o
ex-presidente sempre agiu em conformidade com a lei não ilidem as suspeições
que pesam sobre seus ombros, ante a inconsistência de alegações desacompanhadas
de elementos probantes, que teriam o condão de mostrar a inocência sobre a
acusação.
Nesses
países, reformas nas condições semelhantes às aqui apontadas merecem o repúdio
não somente da Justiça, mas também da sociedade, por se caracterizarem
irregulares envolvendo pessoa pública, que fica sujeita à justa penalização, de,
no mínima, o seu banimento da vida pública, para sempre.
Convém
que os brasileiros se conscientizem sobre a premente necessidade das
investigações sobre os fatos denunciados, não importando a relevância das
pessoas envolvidas, que têm o dever constitucional e legal de prestar contas
sobre seus atos e de provar a sua licitude, como forma de reafirmação dos
princípios da moralidade, honestidade e dignidade, entre outros, que devem
permear a vida dos cidadãos de bem. Acorda, Brasil!
ANTONIO
ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 1º de agosto de 2016
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