quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A responsabilidade dos envolvidos


Apesar de o marqueteiro da campanha da petista e sua mulher terem alegado que receberam US$ 4,5 milhões em conta na Suíça, originários de esquema planejado na corrida eleitoral, a presidente da República afastada voltou a rechaçar seu envolvimento em suposta irregularidade pelo uso de caixa dois, para financiar sua campanha, tendo afirmado que o problema sobre o crime é dos delatores e do Partido dos Trabalhadores, procurando, com isso, se eximir de qualquer responsabilidade sobre procedimento irregular ocorrido na sua reeleição.
A petista disse que "Se ele (o marqueteiro) recebeu US$ 4,5 milhões, não foi da organização da minha campanha, porque ele diz que recebeu isso em 2013. A campanha começa em 2010 e, até o fim do ano, antes da diplomação, ela é encerrada. Tudo o que ficou pendente sobre pagamentos da campanha passa a ser responsabilidade do partido. Minha campanha não tem a menor responsabilidade sobre em que condições se pagou dívida remanescente da campanha de 2010. Não é a mim que você tem de perguntar isso. Ele (o marqueteiro) tratou essa questão com a tesouraria do PT.".
Integrantes da cúpula do PT demonstraram profunda irritação com a entrevista concedida pela presidente afastada, que atribui ao partido a responsabilidade pelo pagamento de despesas, via caixa 2, ao marqueteiro contratado pelo PT, em 2010.
A presidente afastada afirmou que após a eleição, a campanha dela não tinha mais responsabilidade sobre o pagamento de dívidas, que seria assumido pelo partido.
Um integrante da executiva do PT lembrou que não é a primeira vez que a presidente afastada lava as mãos diante de questão relevante e não assume a culpa pelo ocorrido, quando o escândalo entra na órbita dela e envolve a sua responsabilidade, que nunca a assume, como seria natural.
A propósito, quando houve o estouro do escândalo do petrolão, os interlocutores mais próximos do ex-presidente da República petista, no partido, ficaram contrariados com o fato de a petista ter jogado a responsabilidade pela destruição da Petrobras na gestão anterior, da época do governo do ex-presidente, ou seja, como se na gestão dela não tivesse ocorrido qualquer irregularidade.
Esse integrante da executiva ressaltou, em tom de desabafo, que a presidente afastada só está pensando em tentar resgatar a biografia dela, demonstrando não ter o menor compromisso com a defesa do PT, lembrando ainda que, "Enquanto isso, a tropa de choque do partido no Congresso e nas ruas é quem tenta salvar o mandato de Dilma no impeachment", dando a entender possível ingratidão por parte da petista.
À toda evidência, o produto da irregularidade que veio à tona agora, i.e., o serviço prestado e pago por meio do caixa 2, já foi entregue diretamente à presidente afastada, que se beneficiou das publicidades prestadas pelo marqueteiro na sua campanha presidencial, ficando a responsabilidade pela ilicitude em apreço, segundo a interpretação dela, para o partido, como se a petista não fosse o cerne da contratação do marqueteiro.
Diante desse entendimento, parece fácil se concluir que as ameaças de se fazer o diabo para elegê-la e reelegê-la não implicariam nenhum respingo na pessoa dela, que poderia ficar imune às responsabilidades, inclusive quanto à prática de caixa 2.
A presidente afastada precisa se conscientizar de que ela é a pessoa que tem total culpa pelos malfeitos envolvendo a sua campanha eleitoral, por se tratar de projeto indissociável do partido e dela, porque as despesas de campanha estão vinculadas, no caso, à candidata e, sem o que, nem existia campanha e muito menos marqueteiro.
O partido tem toda razão em rechaçar a responsabilidade única pelas ilicitudes ocorridas na campanha eleitoral, em especial porque a candidata do partido não tem autonomia nem independência e muito menos desvinculação quanto às responsabilidades sobre os fatos ocorridos na campanha, visto que eles foram adotados visando à vitória da petista, não importando os fins empregados para o atingimento dos meios.
No caso, o caixa 2 se enquadra perfeitamente no jogo sujo contra tudo e todos, inclusive os adversários, por haver gastos de maneira irregular, em contrariedade às normas eleitorais, cuja responsabilidade deve ser atribuída aos envolvidos que se beneficiaram, principalmente ao candidato, que é o principal interessado nas contratações de publicidade, conquanto elas deveriam ser realizadas somente em estrita observância à legislação aplicável à espécie.
A negativa de responsabilidade pelas irregularidades das despesas de campanha conspira, com enorme gravidade, contra a presidente afastada, por mais uma vez não ter a sensatez de assumir a sua culpa por atos que estão visceralmente ligados a ela, a exemplo da compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, quando ela, na qualidade de presidente do Conselho de Administração da Petrobras, simplesmente atribuiu a falha ao assessoramento, eximindo-se, de forma inexplicável e injustificável, da sua indiscutível responsabilidade.  
Os brasileiros precisam compreender, em definitivo, que a presidente da República afastada, diante desse episódio do caixa 2, considerado de extrema gravidade, à vista do inconteste ferimento dos princípios da legalidade, transparência, honestidade e dignidade, não tem sensibilidade suficiente para assumir a sua parcela de culpa por fatos irregulares que estão visivelmente vinculados à pessoa dela, sendo capaz, sem o menor escrúpulo, de atribuir a culpa somente a outrem, no caso, ao seu partido. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 10 de agosto de 2016

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