segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Irresponsabilidade administrativa


          O site do jornal americano The Washington Post publicou artigo com severas críticas às condições em que a Olimpíada está ocorrendo, ganhando destaque os problemas estruturais e administrativos do Rio de Janeiro, como roubos de profissionais de comunicação estrangeira, atletas e turistas, morte de soldado brasileiro em emboscada, alteração na cor das águas das piscinas, entre muitas precariedades.
Segundo o citado site, as dificuldades verificadas na Olimpíada certamente não existiriam em um país rico.
O texto afirma que, em 2009, quando o Brasil foi escolhido como sede do evento em apreço, as condições do país eram bem melhores que agora, quando são visíveis as deficiências, que se acentuaram no embalo das crises política e econômica, envolvendo o afastamento provisório da presidente da República do Palácio do Planalto e o alto índice de desemprego, entre outros fatos nefastos que contribuem para que o Brasil esteja em situação bastante delicada.
O artigo também abordou a situação crítica da segurança pública, dizendo que as arenas olímpicas, em especial, confundem-se com postos militares, ante a exagerada proteção de 85 mil pessoas (militares e civis) cuidando da segurança.
O jornal ressalta que o prefeito do Rio de Janeiro havia garantido que a cidade seria o lugar mais pacífico do mundo, “Mas não foi o caso”, à vista do episódio em que um ônibus olímpico teria sido atingido por balas:  “A delegada que investiga o caso afirma que, na verdade, foi uma pedra, mas passageiros insistem que ouviram o som de tiros.”.
O site americano ressalta que as soluções foram “procuradas freneticamente”, mas sem sucesso: com medo de ataques terroristas, os torcedores foram revistados de forma mais rígida no primeiro dia da competição, o que causou filas e fez com que vários deles ficassem do lado de fora, sem ver os jogos.
O texto diz que, para resolver a alteração na cor da água das piscinas olímpicas, “colocaram mais cloro e prejudicaram os olhos dos jogadores de polo aquático”.
O The Washington Post menciona a existência de queixas à comida do refeitório da Vila Olímpica e à estrutura de hospedagem dos atletas.
No fim das contas, o vírus da zika, que era a maior preocupação por atletas e delegações, foi pouco comentado, tendo ficando em planos secundários, diante da inexistência de registro de caso dessa doença.
De acordo com o texto, o que salva os turistas e competidores de tantos problemas são o carinho e a hospitalidade dos brasileiros, que se esforçam para mostrar seu lado alegre e feliz, em que pesem as crises que afetam o país.
O conjunto das precariedades apresentado no evento é demonstração inequívoca de que o país ainda não estava preparado e em condições, principalmente econômicas, para realizar empreendimento da magnitude da Olimpíada, o que vale dizer que houve precipitação e incompetência do presidente da República, que deveria, como medida primordial, promover o saneamento das questões sociais e econômicas do país para depois assumir, com segurança, responsabilidade da maior importância, como a Olimpíada.
À toda evidência, a Olimpíada é evento que atrai a tenção do mundo e serve de espelho do país para refletir suas qualidades e mazelas, mas, infelizmente, até agora só foi possível a exposição de quadros de vexames, fiascos, trapalhadas e precariedades de toda ordem, em sequência de despreparos somente comparáveis com as republiquetas desestruturadas e perdidas na incompetência.
Sob o prisma da razoabilidade e da responsabilidade pública, os recursos gastos com a Olimpíada deveriam ter a destinação dos programas condizentes com o atendimento das necessidades da população, em estrita sintonia com a finalidade pública, eis que megaevento como esse é contrário aos princípios da administração pública, sobretudo quando há extrema deficiência na prestação dos serviços básicos ao povo, que, em última análise, não se beneficia, absolutamente em nada, dos empreendimentos resultantes da sua realização.
Na verdade, todo esforço do governo para realizar a Olimpíada terá preço muito alto para os brasileiros, que serão convocados para o sacrifício em decorrência da gastança que jamais deveria ter ido para esse empreendimento, porquanto o bom senso e a razoabilidade sinalizam que o país tem  importantíssimas prioridades, que estão martirizando a população, notadamente no que diz respeito às mazelas na saúde, na educação, na segurança pública, nos transportes, na infraestrutura, no saneamento básico, entre tantas precariedades comparáveis às existentes nas republiquetas, onde os governantes não se preocupam com o bem-estar da população e fazem gastos a seu bel-prazer, em prejuízo da população.
Tendo por base o conjunto das precariedades afloradas e denunciadas pelo mundo civilizado, por ocasião da Olimpíada, os brasileiros precisam se conscientizar sobre a imperiosa necessidade de exigir dos governantes a priorização dos gastos públicos, de modo que os programas de governo sejam obrigados a contemplar somente projetos e atividades que visem ao atendimento das necessidades básicas da população, com embargo dos megaeventos dispendiosos, inúteis e dispensáveis, contrários ao interesse público. Acorda, Brasil! 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de agosto de 2016

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