Ao
inaugurar a nova capital do Brasil, o mais importante presidente da República
brasileiro, Juscelino Kubitschek de Oliveira, proferiu lapidar discurso, que,
diante da sua relevância histórica e patriótica, merece ser transcrito para o
conhecimento das novas gerações de brasileiros, que somente ouviram falar sobre
esse magnífico e eternizado homem público, que se tornou grandioso também por
ter construído Brasília, que é considerada marco de modernidade e evolução da
arquitetura mundial, sendo elevada, em tão pouco tempo, ao patamar valioso de patrimônio
cultural da humanidade.
Esse
título significa o legado que simboliza que Brasília passa a pertencer, em termos
culturais, a todos os povos, ante a sua importância mundial como verdadeiro
ícone de propriedade histórica, como forma de identidade da memória da vida de
determinada civilização.
A
construção de Brasília, a capital de todos os brasileiros, teve a duração,
pasmem, de apenas 3 anos de intensas atividades de arquitetura e engenharia
especializadas, em monumental esforço de verdadeiro estadista, que teve a
felicidade de priorizar investimentos públicos no progresso do país, conforme
mostra a materialização do que é agora a capital federal para o Brasil.
Transcrevo
abaixo trechos do discurso histórico do presidente Juscelino Kubitschek, que
fora pronunciado à nação há exatos 64 anos, na festiva noite inaugural do dia
21 de abril de 1960, por ocasião da inauguração oficial de Brasília, que também
passou a ser denominada capital federal.
“Não
me é possível traduzir em palavras o que sinto e o que penso nesta hora, a mais
importante de minha vida de homem público. A magnitude desta solenidade há de
contrastar por certo com o tom simples de que se reveste a minha oração.
Dirigindo-me a todos os meus concidadãos, de todas as condições sociais, de
todos os graus de cultura, que, dos mais longínquos rincões da Pátria, voltais
os olhos para a mais nova das cidades que o Governo vos entrega, quero deixar
que apenas fale o coração do Vosso Presidente”.
(JK
quis consignar o
seu perfil humano e sensível, ao externar a sua forte emoção, diante da
conclusão da mais suntuosa obra pública em toda a história brasileira).
“Não
vos preciso recordar, nem quero fazê-lo agora, o mundo de obstáculos que se
afiguravam insuportáveis para que o meu Governo concretizasse a vontade do
povo, expressa através de sucessivas constituições, de transferir a Capital
para este planalto interior, centro geográfico do País, deserto ainda há poucas
dezenas de meses. Não nos voltemos para o passado, que se ofusca ante
esta profusa radiação de luz que outra aurora derrama sobre a nossa Pátria”.
(JK resume os inumeráveis
obstáculos políticos e de toda natureza enfrentados para a construção
de Brasília, os quais se faziam intransponíveis e quase lhe custaram o mandato,
mas eles se tornavam ínfimos à vista de tão monumental obra).
“Quando
aqui chegamos, havia na grande extensão deserta apenas o silêncio e o mistério
da natureza inviolada. No sertão bruto iam-se multiplicando os momentos felizes
em que percebíamos tomar formas e erguer-se pôr fim a jovem Cidade. Vós todos,
aqui presentes, a estais vendo, agora, estais pisando as suas ruas,
contemplando os seus belos edifícios, respirando o seu ar, sentindo o sangue da
vida em suas artérias.”.
(Inúmeras
vezes, JK deixava o Rio de Janeiro, que era a capital federal, voando à noite
para Brasília, representada por imenso cerrado, até então intocado pelo homem, para
acompanhar de perto construções solitárias em pleno descampado).
“Somente me abalancei a
construí-la quando de mim se apoderou a convicção de sua exequibilidade por um
povo amadurecido para ocupar e valorizar plenamente no território que a
Providência Divina lhe reservara. Nosso parque industrial e nossos quadros
técnicos apresentavam condições e para traduzir no betume, no cimento e no aço
as concepções arrojadas da arquitetura e do planejamento urbanístico modernos.”.
(JK mostra
a convicção para construir a capital, tendo se certificado da existência de
condições estratégicas e de infraestrutura nacional para seguir em frente).
“Surgira
uma geração excepcional, capaz de conceber e executar aquela ‘arquitetura em
escala maior, a que cria cidades e, não, edifícios’, como observou um visitante
ilustre. Por maior que fosse, no entanto, a tentação de oferecer oportunidade
única a esse grupo magnífico, em que se destacam Lúcio Costa e Oscar Niemeyer,
não teria ela bastado para decidir-me a levar adiante, com determinação
inflexível, obra de tamanha envergadura”.
(JK reconhece que foi fundamental contar com a colaboração
de homens excepcionais, dotados também de inteligência e força de vontade).
“Pesou,
sobretudo, em meu ânimo, a certeza de que era chegado o momento de estabelecer
o equilíbrio do País, promover o seu progresso harmônico, prevenir o perigo de
uma excessiva desigualdade no desenvolvimento das diversas regiões brasileiras,
forçando o ritmo de nossa interiorização. No programa de metas do meu Governo,
a construção da nova Capital representou o estabelecimento de um núcleo, em
torno do qual se vão processar inúmeras realizações outras, que ninguém negará
fecundas em consequências benéficas para a unidade e a prosperidade do País.”.
(É
notória a caracterização do
dinâmico homem público e estadista de escol, com visão estratégica de futuro,
que tinha a faculdade de pensar no amanhã do país).
“Viramos
no dia de hoje uma página da História do Brasil. Prestigiado, desde o primeiro
instante, pelas duas Câmaras do Congresso Nacional e amparado pela opinião
pública, através de incontável número de manifestações de apoio, sinceras e
autenticamente patrióticas, dos brasileiros de todas as camadas sociais que me
acolhiam nos pontos mais diversos do território nacional, damos por cumprido o
nosso dever mais ousado; o mais dramático dever. Só nos que não conheciam
diretamente os problemas do nosso Hinterland percebemos, a princípio, dúvida,
indecisão.”.
(JK reconhece que
Brasília marcaria nova e definitiva etapa na história do Brasil).
“Mas
no País inteiro sentimos raiar a grande esperança, a companheira constante em
toda esta viagem que hoje concluímos; ela amparou-nos a todos, a mim e a essa
esplêndida legião que vai desde Israel Pinheiro, cujo nome estará perenemente
ligado a este cometimento, até ao mais obscuro, ao mais ignorado desses
trabalhadores infatigáveis que tornaram possível o milagre de Brasília.”.
(JK
reconhece a força do mutirão humano, que é
capaz de gerar esperança, sem a qual nada teria sido possível).
“Em todos os instantes
nas decepções e nos entusiasmos, levantando o nosso ânimo e multiplicando as
nossas forças, mais de que qualquer outro amparo ou guia, foi a Esperança
valimento nosso. Um homem, cujos olhos morreram e ressuscitaram muitas vezes na
contemplação da grandeza – aludo, novamente, a André Malraux – viu em Brasília
a Capital da Esperança. Seu dom de perceber o sentido das coisas e de encontrar
a expressão justa fê-lo sintetizar o que nos trouxe até aqui, o que nos deu
coragem para a dura travessia, que foi a substância, a matéria-prima espiritual
desta jornada. Olhai agora para a Capital da Esperança do Brasil.”.
(JK elege o poder mágico e invisível da esperança como
sentimento nobre que
foi impregnado na alma de Brasília, tanto que ela passou a ser chamada como a capital
da esperança, expressão que passou a ser evocado em alusão à esperança em fluía
permanentemente no ar).
“Ela
foi fundada, esta cidade, porque sabíamos estar forjada em nós a resolução de
não mais conter o Brasil civilizado numa fímbria ao longo do oceano, de não
mais vivermos esquecidos da existência de todo um mundo deserto, a reclamar
posse e conquista.”.
(JK pretendia acabar com a crítica histórica de que os
brasileiros não davam a devida importância ao interior do país).
“Esta
cidade, recém-nascida, já se enraizou na alma dos brasileiros; já elevou o
prestígio nacional em todos os continentes; já vem sendo apontada como
demonstração pujante da nossa vontade de progresso, como índice do alto grau de
nossa civilização; já a envolve a certeza de uma época de maior dinamismo, de
maior dedicação ao trabalho e à Pátria, despertada, enfim, para o seu
irresistível destino de criação e de força construtiva.”.
(JK tinha convicção de que a nova capital no interior do
país chamaria a atenção do resto do mundo para as potencialidades e a capacidades
dos brasileiros, ao despertar o país para novo destino de progresso).
“Deste
Planalto Central, Brasília estende aos quatro ventos as estradas da definitiva
integração nacional: Belém, Fortaleza, Porto Alegre, dentro em breve o Acre. E
por onde passam as rodovias vão nascendo os povoados, vão ressuscitando as
cidades mortas, vai circulando, vigorosa, a seiva do crescimento nacional.”.
(JK
frisa que a construção de Brasília contribuirá para a revitalização do interior
do país, tão esquecido por séculos e que agora passavam a ser interligada por
estradas que foram abertas).
“Brasileiros!
Daqui, do centro da Pátria, levo o meu pensamento a vossos lares e vos dirijo a
minha saudação. Explicai a vossos filhos o que está sendo feito agora. É
sobretudo para eles que se ergue esta cidade síntese, prenúncio de uma
revolução fecunda em prosperidade. Eles é que nos hão de julgar
amanhã. Neste dia – 21 de abril – consagrado ao Alferes Joaquim José
da Silva Xavier, o Tiradentes, ao centésimo trigésimo oitavo ano da
Independência e septuagésimo primeiro da República, declaro, sob a proteção de
Deus, inaugurada a cidade de Brasília, Capital dos Estados Unidos do Brasil.”.
(JK
dá por concluída a cidade de Brasília e finaliza o seu discurso declarando-a
inaugurada, sobrelevando a sua importância para as novas gerações
brasileiras, que devem ser beneficiadas em decorrência do gigantesco sacrifício
do governo dele, que passou para a história política brasileira como símbolo de
dinamismo e progresso).
Como
se pode perceber, o discurso proferido pelo ex-presidente da República
Juscelino Kubitschek, em sessão solene do dia 21 de abril de 1961, na
instalação do governo no Palácio do Planalto, constitui documento político mais
importante sobre a história de Brasília, em que ele registra não só o
nascimento de bela e especial cidade como marca, sem a menor dúvida, importante
etapa na história política, econômica e social do Brasil.
Brasília, em 21 de abril de 2024
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