domingo, 31 de julho de 2016

A inversão da ordem


Uma tentativa de assalto em Curitiba, Paraná, teve desfecho no mínimo inusitado pela criativa reação do ladrão, que terminou se transformando em assunto curioso divulgado pela mídia, quando ele abordava uma adolescente de 17 anos, para assaltá-la.
O ladrão de 23 anos foi surpreendido dentro do ônibus Interbairros 2 por sua presa, que reagiu incontinenti ao assalto, com o uso de arma de choque, que atingiu prontamente o bandido, tendo sido eletrocutado e caído no chão, fazendo com que ele se desesperasse aos gritos por “socorro” e “polícia”. 
Diante disso, o motorista dirigiu o ônibus para o 6º Distrito Policial, para as devidas providências, inclusive o registro do episódio, mas o mais inacreditável estaria por vir com a “esperteza” do ladrão, que refeito do inesperado “susto”, passou a exigir da polícia, pasmem, que a jovem fosse detida por “agressão”. 
O meliante já era velho conhecido da polícia e, na ocasião, ainda estava portando vários objetos pertencentes a outras vítimas e isso ensejou a sua prisão por roubo e receptação. Já a adolescente foi liberada e entregue aos pais dela, depois de prestar o depoimento de praxe.
Trata-se de muita esperteza do bandido que foi dominado por sua vítima, por se achar no direito de reclamar de exercer a “profissão” de ladroagem sem ser incomodado, cuja ousadia certamente poderá ser logo seguida por outros delinquentes país afora, onde os bandidos vão passar a clamar pelo direito de proteção, ou seja, de imunidade contra a reação por parte da vítima.
Neste país onde a impunidade vem consolidando a passos largos, ante o progresso desenfreado da criminalidade, não será novidade que vítima passe a ser punida, em caso de reação que o agressor leve desvantagem e seja dominado.
Na realidade, a degeneração dos princípios humanos, tão comum nos últimos tempos, tem contribuído para a inversão dos valores sociais e culturais, que certamente sofreram a influência dos péssimos exemplos dos homens públicos que destroçaram as estruturas das instituições nacionais, inclusive da segurança pública, mas todos estão querendo se passar por vítima, depois que os fatos delituosos estão sendo investigados, revelados, com enorme possibilidade de responsabilização pelos danos causados aos brasileiros, inclusive pela falta de proteção.
No país tupiniquim, a ordem natural tende a se inverter, passando a girar no sentido contrário, quando se percebe que as pessoas estão presas em suas casas, enquanto os bandidos ficam agindo livremente, passando agora a exigir direito de atacar sem a legítima defesa da vítima, que normalmente são as pessoas honestas e trabalhadoras, merecedoras, na verdade, da proteção.
A bandidagem está tão evoluída que seus integrantes já dispõem da proteção da comissão dos direitos humanos e, com o progresso da delinquência, logo eles vão exigir foro privilegiado e regalias de imunidade contra a reação de seus atos de violência, o que vale dizer que a legítima defesa passa também a ser aplicada em benefício deles, ficando a sociedade cada vez mais desprotegida e à mercê da criminalidade.
À toda evidência, a violência se robustece em um país em que a legislação penal é frouxa e praticamente inócua para combater com a devida severidade a delinquência, que se expande, enquanto a sociedade fica ainda mais assustada com a incompetência e a omissão das autoridades incumbidas do efetivo combate à criminalidade.
Os brasileiros precisam reagir, no sentido de exigir das autoridades públicas medidas enérgicas contra a devassidão que campeia com intensidade na segurança pública, que padece exatamente da falta de priorização das políticas capazes de contribuir para o aprimoramento, o aperfeiçoamento e a modernidade dessa área, com vistas a fazer face ao poderio da bandidagem, que tem domínio territorial de Norte a Sul do país.
Os fatos mostram que absolutamente nada é feito para mudar o caos existente no sistema segurança pública, que, sob o prisma das autoridades incumbidas da execução das políticas pertinentes, realmente “não precisa de mudança” porque elas estão confortavelmente protegidas à custa dos contribuintes, que ficam à mercê do inferno da insegurança pública.
Urge que os brasileiros se mobilizem no sentido de que as políticas de segurança se tornem prioridade, ante a necessidade da efetiva proteção das vidas humanas, que estão sendo dizimadas graças à inadmissíveis incompetência e insensibilidade das autoridades públicas do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 31 de julho de 2016

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