quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Saudosismo


Diante da crônica que sintetizei a festa da padroeira da minha cidade natal, Uiraúna, Paraíba, mostrando que a sua evolução tirava muito do encanto dos que existia nos tempos da minha infância, muitas pessoas se manifestaram em meu apoio, entre as quais selecionei a mensagem da prezada conterrânea doutora Ubaldina Fernandes, conforme o belo texto a seguir.
Em especial, ela mostrou o seu acentuado lado saudosista, rememorando também os bons tempos da sua infância, nestes termos: “Tempos imemoriais, de doces lembranças, que não voltam mais... Todos nós, filhos de Uiraúna, guardamos no escaninho mais precioso da memória, a lembrança dos tempos (idos) das festas de janeiro... Uma grandiosidade que foi-se perdendo no perpassar dos anos, pelo evoluir da sociedade, pela mudança das tradições, enfim, porque tudo (infelizmente, em muitos casos) é mutável... Não temos mais alvoradas, retretas, quermesses, animadas pelas bandas de música (........), como atrativos especiais... Também não se tem mais o inesquecível Ganga e seu pregão, revestido de efusão e alegria... Conforta-nos, porém, principalmente aos que residimos fora, a convicção de que a Excelsa Sagrada Família, nunca perderá sua força e luz , aspergindo bençãos e graças sobre todos e sendo o real e imutável motivo de reunião, de reencontro de todos. Que seja assim até o fim!!!Quanto às reminiscências da Casa de Dona Úrsula... Ah!!!!! Como esquecer? Nasci e cresci frequentando aquele ‘templo sinestésico de aconchego’, desfrutando das delícias de ‘Tia’ Ritinha, ‘Tia’ Suzete... da conversa e risadas gostosas de Dona Úrsula e de Lourdes. Guardo, cristalizadas em minha memória, a imagem das tardes em que a mulherada concentrava-se na cozinha, no preparo dos inimitáveis sequilhos e nós, crianças da vizinhança (amigos dos queridos meninos de Lourdes e Vicente) ficávamos ávidos para provar de tantos sabores... ah! Ninguém no mundo sabe fazer o bolo de arroz de Ritinha... Lembrar de toda aquela época, é mergulhar no baú mágico e saudosíssimo, de poética doçura! Agradeço a você que nos permitiu essa viagem, que deixa marejados os olhos e muito apertado o coração!”.
Em resposta ao belo texto acima, cheia de agradável saudosismo, eu disse à estima doutora Ubaldina que é com o coração em festa que recebo o presente da sua pessoa, em forma de primorosa mensagem de Ano Novo, na confirmação de reminiscências dos áureos tempos vividos por mim, na convivência prazerosa de meus avós Juvino e Úrsula e tias (falo mais em tias porque os tios não eram constantes no casarão. Tio Francisco era seminarista, tio Raimundo foi embora muito cedo para Jequié, Bahia, e tio Geraldo vivia mais em Uiraúna).
Parte do seu relato corresponde exatamente à vida simples, tranquila e feliz dessas pessoas, que demonstravam infinita bondade no coração, que nem precisavam dizer com palavras que elas amavam verdadeiramente o seu semelhante.
Na minha inocência, apenas vivia pensando que era normal a família naqueles moldes, evidentemente por desconhecer a convivência de outras famílias, mas, agora, tenho absoluta convicção do quanto eu vivia no paraíso, sob os cuidados de pessoas valorosas que formavam grupo muito consciente da sua importância como filhos de Deus, que precisavam amar o seu próximo da melhor maneira possível.
É evidente que todo meu passado foi verdadeiro, vivido e constatado, mas se tivesse sido um sonho ninguém seria capaz de acreditar, principalmente se fosse possível se fazer retrospectiva para aqueles bons tempos, onde tudo era muito simples e natural, como o transcurso sereno das águas do rio, que não tem pressa para atingir o mar.
Agradeço muitíssimo, prezada doutora Ubaldina, por seu importante testemunho sobre um lado maravilhoso e verdadeiro da vida de meus queridos antecedentes diretos, que realmente se sobressaíram pelo bom gosto da culinária nordestina, que eu tive a sorte grande de desfrutá-la.
Ao ensejo, desejo que a Sagrada Família seja generosa em conceder à senhora e aos seus familiares felicidades e prosperidade no Ano Novo.
Brasília, em 8 de janeiro de 2020

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