segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Desprezo à dignidade


Diante das crônicas que venho publicando sobre a necessidade de hospital em Uiraúna, muitas pessoas vêm se manifestando em solidariedade ao meu trabalho literário, o que bem demonstra que o povo de Uiraúna precisa se conscientizar e perder o medo de se manifestar sobre as precariedades que grassam na cidade, de forma enraizada, certamente muito mais por culpa dele mesmo, que elege seus representantes e nada cobram deles sobre as obras e os serviços essenciais em seu benefício.
O caso a que se refere a saúde pública é exemplo que certamente poderia ser bem melhor cuidada em benefício da população, caso a administração do município estivesse sob as mãos de quem nada entende de Medicina, que poderia muito bem ter sensibilidade suficiente para compreender e avaliar a crueldade e a dureza impingida a quem depende do atendimento médico-hospitalar fora da cidade. 
Pois bem, um conterrâneo se manifestou, demonstrando indignação, diante do desmazelo vindo à lume, no que diz respeito à falta de assistência de saúde pública na cidade, tendo ele escrito exatamente o seguinte: “Boa tarde, sobre a sua crônica: Um grito de socorro pelo hospital de Uiraúna, Você sabe que não nasce mais filhos de Uiraúna? Pois as mulheres tem que irem ganhar neném em Cajazeiras ou Sousa. Mais é isso mesmo. Uiraúna que já teve na nossa infância: Delegado, Juiz, Coletor fiscal e muitas outras coisas que hoje, tem que ser lá fora. isto é 'CRESCER' kkkkkk.”.
Trata-se de situação esdrúxula e absolutamente inadmissível, em que uma cidade seja privada de ter filho registrado nela, exatamente porque as pessoas estão nascendo em outras cidades, por falta de maternidade.
É impressionante como o povo de Uiraúna aceita passivamente situação absurda como essa e o mais grave é que ninguém estranha tamanha estupidez contra os interesses de Uiraúna e do seu povo, que poderia se mobilizar e exigir do poder público, ao menos, a maternidade, para que seja possível o nascimento, com a devida dignidade de ser humano, dos filhos da cidade. 
Não deve haver nada mais desagradável e revoltante do que constar na Certidão de Nascimento o local de nascimento a maternidade do Hospital Regional de Cajazeiras, por exemplo, negando o nascimento na verdadeira terra onde a pessoa foi gerada e desenvolvida no ventre materno. 
Com as devidas vênias, particularmente, considero essa situação da maior gravidade, dando a cristalina impressão do extremo desprezo à dignidade aos pais de família de Uiraúna, que sequer têm coragem de demonstrar, como é do seu dever como cidadão, veemente repúdio junto a quem de direito, porque isso representa, sob minha avaliação, exemplo das maiores indignidade e maldade ao ser humano.  
Fico horrorizado e extremamente envergonhado como é que o povo de Uiraúna permitiu que esse estado de degeneração na saúde pública fosse atingir a dignidade dessa cidade, que ainda se permite reconhecê-la também com o pomposo nome - sem nenhuma cesura - de “Terra dos Médicos”, quando tudo que se refere à Medicina funciona precariamente, conforme mostram os fatos confirmados pela própria população, que precisa recorrer a hospitais de outras localidades da proximidade, não somente para se evitar a morte, mas também para se buscar o nascimento, como bem lembrado na mensagem em apreço.
          Isso implica dizer que até as parteiras não devem existir mais na cidade, por conta da extinção da profissão, obviamente em consonância com a evolução da humanidade.
          Essa situação de dependência de outros municípios para o tratamento de assuntos referentes à saúde, salvo nos casos mais simples e ambulatoriais, que são feitos na própria cidade, não combina em nada com o status do povo de Uiraúna, que merece os devidos respeito e consideração à sua dignidade como ser humano, na mesma forma do tratamento que é dispensado aos demais brasileiros, não importando onde eles morem, seja na capital ou no interior, porque a norma jurídica diz claramente que a assistência à saúde pública é obrigação prioritária do Estado, não fazendo qualquer restrição ou discriminação.
É preciso se atentar para o fato de que a Constituição Federal assegura o direito de os brasileiros terem atendimento médico-hospitalar em condições, ao menos razoáveis, sem necessidade de se submeterem a essa difícil dependência, quase que de favor, em situação absolutamente desconfortável e desumana.
É penoso se constatar que, em pleno século XXI, o povo de Uiraúna ainda seja submetido a esse terrível tratamento comparável a décadas distantes, diante da evolução e da modernidade, onde tudo tem sido facilitado para o conforto do homem, fato que não se concebe nem se permite que cidade do porte de Uiraúna aceite placidamente ser administrada por quem, tendo formação na área da Medicina, não consiga vislumbrar o gigantesco atraso por que é obrigado a conviver o seu sofrido e pacato povo, que ainda aceita pacificamente se submeter aos maus-tratos dessa magnitude, quando precisa de atendimento médico um pouco mais especializado.
À toda evidência, o ideal era que, desde a primeira de muitas gestões já se deveria ter por meta prioritária a construção de hospital compatível com as demandas da população da cidade, não permitindo que a situação chegasse a tal ponto de pura aflição, por se perceber que muita coisa precisa ser feita, para a recuperação do tempo perdido.
O certo é que, no momento, tem-se como predominância, por causa dessa calamidade, o caos, o martírio, a frustração, a decepção, entre tantos tropeços para se conseguir alguma forma de assistência, em termos de saúde um pouco mais especializada e confortável, quando teria valido a pena algum empenho, tempos atrás, com vistas à construção do hospital de Uiraúna, que estaria em pleno funcionamento, propiciando o devido conforto aos uiraunenses.
É preciso sim que se martele, com insistência e reiteradamente, na mesma tecla, mostrando os patentes descaso, omissão, desmazelo, irresponsabilidade por parte de quem teve e tem a incumbência legal de zelar e cuidar da assistência e da prestação dos serviços de saúde pública ao povo de Uiraúna, para que ele ou eles sinta (m) na consciência o tanto de sofrimento que vem causando à população, por sua exclusiva demência funcional.
É evidente que o transtorno poderia ter sido evitado se tivesse havido esforço junto a quem de direito, com vistas à construção do cogitado hospital, que se mostra mais do que prioritário, na atualidade, diante desse quadro terrível de descaso perante os doentes que precisam de tratamento, que poderia ser feito na própria cidade, com totais conforto, tranquilidade e rapidez, evidentemente, a depender das estruturas operacional e funcional dessa unidade de saúde, que precisa ter aparelhamento, equipamento, leitos etc., em condições de satisfazer às demandas da população do porte de Uiraúna.
          Brasília, em 27 de janeiro de 2020

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