sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Apenas deplorável


As reiteradas crônicas que tenho escrito denunciando a sobeja degeneração instalada em Uiraúna, Paraíba, por força da quase generalizada falta de assistência médico-hospitalar, tem servido de importante alerta para chamar a atenção do poder público quanto às suas indiscutíveis omissão e irresponsabilidade, diante da existência de população carente dos cuidados especiais da saúde pública, a despeito da prescrição constitucional, no sentido de que esse serviço é direito dos brasileiros.
Não há a menor dúvida de que a construção de hospital nessa cidade representa prioridade das prioridades de incumbência do Estado, diante do quadro terrível de descaso perante os doentes que precisam de tratamento que poderia ser feito na própria cidade, com absolutos conforto, tranquilidade e rapidez.
Sensibilizados com a situação degradante de desrespeito à dignidade do ser humano, muitos conterrâneos vêm hipotecando solidariedade aos meus escritos, em cristalina demonstração de inconformismo com esse injustificável estado de verdadeira calamidade pública deflagrado com a falta de assistência à saúde pública naquela cidade.  
Por se tratar de depoimento da maior valia para a compreensão dessa terrível situação da saúde pública em Uiraúna, trago à colação o texto transcrito a seguir, que tem a assinatura do notável escritor mestre Xavier Fernandes, que teve a lucidez de assim se expressar sobre o assunto: “Caríssimo Adalmir, muito oportuno seu artigo quando com muito conhecimento e eficiência mostra a real situação do único e maior hospital público da nossa terra, que era subsidiado pelos governos, Municipal, Estadual e Federal , foi construído nos anos oitenta, durante muito tempo foi referência em toda aquela região. Foi um hospital regional, realizava muitos procedimentos importantes: partos e muitas cirurgias como apendicites agudas, estereptomias, ligaduras, serviços de traumatologias, proctologias, e emergências de toda natureza como de acidentes, vítimas de agressões etc... prestava um serviço muito bom, Inclusive meus 4 filhos nasceram nesse hospital... com excelente qualidade de atendimento, também meus sobrinhos... e uma geração inteira , não precisava sair pra outros centros . todos nasciam no naquele hospital, que depois ganhou mais um anexo que foi a maternidade... Mas a disputa política danosa e radical ao longo dos anos enfraqueceu o hospital público, cada corrente política criou seu próprio hospital, dividindo a população em dois blocos partidários e àquele partido que estivesse no poder não dava as devidas atenções ao hospital, que era administrada por uma fundação associação filantrópica. Chamada: APAMIU. com esse desprezo dos governos de plantão, gerou-se aí uma dívida trabalhista , sem controle tornando impagável e inviável o funcionamento do hospital, ninguém do poder público quis assumir os danos, cada administração esquecia que aquele hospital era um patrimônio do povo uiraunense... hoje está aí virando escombros, dinheiro do povo no ralo. E todos os poderes assistiram e assistem as ruínas em agonia. Digo todos os poderes: Municipal, Estadual, Federal e a própria população que não se manifestou e cobrou os seus direitos na justiça pedindo socorro e providências. Então vejo um conjunto de grandes responsáveis por tudo isso que está aí... a população se acomodou e não gritou por seus direitos. Todos tem sua parcela de responsabilidade, Quero parabenizar nosso ilustre conterrâneo pelo seu comentário importantíssimo que expõe esse assunto que demonstra um caos e um descaso para a população de Uiraúna. Todos estão devendo... e a população pagando caro... com saúde não se brinca! Sempre olhei com tristeza para aquele hospital abandonado. Não sei se ainda há condições de recuperação. ! Não é politicagem contra A,B,C, D etc...é o direito da população em jogo, que precisa se manifestar... e precisa daquele patrimônio público... É preciso que todas as correntes e representantes se Unam para trazer de volta o hospital. Todos Unidos numa só voz... Gregos e troianos... e quem sai ganhando É o povo em geral de Uiraúna... um forte abraço!
Confesso a você, professor Xavier Fernandes, e aos meus conterrâneos que eu escrevi o texto piloto quase que às escuras, sem imaginar a real profundeza de tanta maldade e crueldade que a politicagem pôde e teve capacidade para causar à população completamente inocente, mas ao mesmo tempo cúmplice com esse horror representado pelo estrepitoso imbróglio envolvendo interesses de poder, tanto político como econômico, onde a influência de grupos predominou justamente para prejudicar o interesse da população de Uiraúna, conforme mostram os fatos.
A verdade é que, mesmo afetada negativamente, com a perda de alguns importantes serviços médico-hospitalares, diante da indiscutível ganância de poder, parte da população preferiu privilegiar, mesmo assim, o lado vencedor, que também não teve a menor sensibilidade quanto à desgraça impingida à população carente, diante da perda do pouco que tinha e ainda satisfazia em parte às suas necessidades de atendimento médico-hospitalar.
Olha, ilustre mestre Xavier, o seu valioso e esclarecedor relato me causou muita indignação e sentimento muito ruim, por perceber a grandiosa monstruosidade que homens públicos são capazes de protagonizar exclusivamente em defesa de seus interesses, pouco importando as consequências de suas tratativas para a conquista de seus escusos, nada transparentes e confessáveis objetivos, conforme fica precisamente demonstrado no texto acima, onde é certo que houve "bravos" e "corajosos" vitoriosos, só que, em cuja batalha feroz simplesmente teve por derrotado, de forma fragorosa, a população de Uiraúna.
A verdade é que restaram para a impiedosa população o destroço e o desamparo, em decorrência da nítida insensatez da classe dominante, que desprezou complemente direitos legitimamente assegurados ao povo, mesmo que minimamente, porque pior mesmo ficou depois da disputa política, quando tudo foi para o espaço sideral, por força da truculência de pessoas desumanas, ante o lamentável resultado de suas impensadas ações, que visaram exclusivamente à satisfação de interesses de grupos políticos, em claro detrimento da causa maior da população, que foi obrigada a arcar com o ônus de episódio que somente trouxe transtornos e dificuldades.
Ao que transparece, com nitidez, é que o objetivo principal da disputa era mesmo a instalação do caos e assim permanecesse, para o gáudio de quem vencesse, e tanto isso pode ser verdadeiro que, depois da contenda, houve o sepultamento do velho hospital, que foi à falência e deixou de ter vitalidade, nenhuma ação foi tomada em prol da melhoria do atendimento da saúde pública em Uiraúna, que certamente deve ser um dos piores do Brasil, em termos de satisfação à população.
É preciso que esses fatos sejam devidamente mostrados à sociedade, para que a população de Uiraúna identifique os seus reais algozes, ou seja, os políticos ou não que contribuíram para que o atendimento à saúde pública seja vista como um dos mais desumanos do Brasil, exatamente em razão da gigantesca insensibilidade por parte de quem tinha e ainda tem a incumbência legal, diga-se assim, de zelar e cuidar da saúde pública em Uiraúna.
Não tem outra denominação diferente de deplorável o estado atual da saúde pública de Uiraúna, em relação ao mínimo desejável para o conforto da população que merece tratamento humano e digno, com o imprescindível hospital que lhe assegure serviços médico-hospitalares ao menos nas mesmas condições propiciadas aos brasileiros, na forma preconizada na Constituição Federal.
Brasília, em 31 de janeiro de 2020

Nenhum comentário:

Postar um comentário