Conforme
vídeo que circula nas redes sociais, um importante juiz da corte maior
brasileira, em tom de indignação, descreve um país atolado na imundície da
corrupção, da desonestidade e da desmoralização, envolvendo o desvio de
dinheiro público, em verdadeira banalização da excrescência que envergonha os
brasileiros honrados e dignos, conforme o texto a seguir.
“Eles
merecem consideração e respeito. Eu gostaria de dizer que eu ouvi o áudio. Tem
que manter isso aí, viu? Eu quero dizer que eu vi a fita. Eu vi a mala de
dinheiro. Eu vi a corridinha, na televisão. Eu li o depoimento de Yussef. Em li
o depoimento de Funaro. Portanto, nós vivemos uma tragédia brasileira. Tragédia
da corrupção que se espraiou de alto a baixo, sem cerimônia. Um país em que o
modo de fazer política e negócios funciona assim: o agente político relevante
escolhe o diretor da estatal ou o ministro com cotas de arrecadação e o diretor
da estatal contrata em licitação fraudada a empresa que vai superfaturar a obra
ou o contrato público, para depois distribuir dinheiros e aí não faz diferença
se foi para o bolso ou se foi para a campanha, porque o problema não é para
onde vai. O problema é de onde vem. É a cultura da desonestidade que se cria de
alto a baixo, com maus exemplos, em que todo mundo quer levar vantagem. Todo
mundo quer passar os outros para trás. Todo mundo quer conseguir o seu, sem mencionar
as propinas para financiamentos públicos. Tudo documentado. Portanto, são
diferentes visões da vida e do país. Mas eu acho que não há uma investigação
irresponsável. Eu acho que há um país que se perdeu pelo caminho. Naturalizou
as coisas erradas e nós temos o dever de enfrentar isso e de fazer um novo
país, de ensinar as novas gerações que vale a pena ser honestos, sem
politivismo, sem vingadores mascarados, mas também sem achar que ricos
criminosos têm imunidade, porque não tem.”.
A
mencionada autoridade foi bastante clara, objetiva e convincente, ao afirmar
que viu a esculhambação generalizada, sistêmica e endêmica, tendo lido depoimentos
de pessoas envolvidas na roubalheira, reconhecido que o país vivia dominado por
verdadeira tragédia e mostrado o modus faciendi do desvio de dinheiro dos
cofres públicos, em que a palavra de ordem era a cultura da desonestidade que
se espraiava na gestão de recursos públicos, que eram desviados à luz do dia,
conforme foi tudo comprovado e documentado.
O juiz
reconhece que o Brasil foi literalmente desviado do caminho da seriedade e da
moralidade, à vista da necessidade da observância dos fundamentais princípios
republicanos e democráticos, tendo ingressado em verdadeiro mar de lama, pela
prática da corrupção sem limites, segundo ele.
Sim, era
preciso que alguém com a inteligência e a experiência do juiz viesse a público,
ainda em 2018, para o reconhecimento da deplorável situação imposta à gestão
pública, por perigosa organização criminosa, que conseguiu desviar para fins
espúrios montanha de dinheiro, cuja quadrilha, infelizmente, terminou, mesmo
assim, ficando totalmente impune, inclusive merecendo o prêmio de voltar ao
governo, tempos depois, justamente com o respaldo do órgão que agora é
comandado por esse juiz, fato este que evidencia claro desprezo aos comezinhos princípios
republicanos e democráticos.
Ou seja,
não bastaram o reconhecimento da roubalheira por autoridades públicas, a
comprovação do desvio de dinheiro de cofres públicos e a devolução de recursos
subtraídos dos brasileiros, para a principal corte a que pertence o mencionado
juiz habilitar o político mais sujo da face da Terra, em termos de
desonestidade, à vista das condenações dele pela Justiça, pela comprovada
prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em razão do
beneficiamento indevido de dinheiro público por esse político.
Esses
fatos seriam mais do que suficientes para incompatibilizar pessoa maculada, na
vida pública, com atividades políticas, quando ela sequer pudesse se candidatar
a cargo público eletivo, diante da exigência dos requisitos de conduta ilibada
e idoneidade moral, que são essenciais perante a administração pública.
Infelizmente,
não se compreende com base em quais parâmetros as autoridades públicas, que
antes reconheciam e recriminavam, com veemência, a gravidade de atos
criminosos, que causaram enormes prejuízos ao Brasil pela organização criminosa,
com base em desvio de imensuráveis quantias de dinheiro, tendo, depois, de forma inexplicável e injustificável,
resolvido fechar os olhos para a obrigatoriedade, na administração pública, dos
salutares princípios da moralidade, da dignidade, da honestidade, do decoro, da
competência e principalmente da responsabilidade perante a integridade do
patrimônio dos brasileiros.
Essas
autoridades que antes abominavam e recriminavam os desvios do dinheiro público,
tudo documentado, agora, não têm o menor escrúpulo em conviverem amistosa e
alegremente com as lideranças da organização criminosa que patrocinou a maior
roubalheira de bilhões de reais e ainda foram beneficiados pela impunidade e
pelo recebimento de volta do dinheiro sujo devolvido voluntariamente por seus
integrantes aos cofres públicos, ante o reconhecimento que ele era realmente indevido.
Como não
houve, por parte da organização criminosa, qualquer comprovação de inocência
nem tão pouco da regularidade sobre os atos inerentes aos recursos desviados
indevidamente, ou seja, as práticas caracterizadoras da roubalheira em causa,
fica demonstrado de forma indelével, a falta de caráter de todos aqueles que
fecharam os olhos para os vergonhosos crimes contra o patrimônio dos
brasileiros, permitindo a devassidão moral que foi imposta ao Brasil.
Por via
de consequência, isso tem o condão de se firmar o entendimento segundo o qual
essas autoridades hão de passar para a história republicana como autênticos
cúmplices com essa deplorável dilapidação dos cofres públicos, em especial por
contribuírem para a volta ao poder de político que não conseguiu provar a sua
inocência nem comprovar os requisitos de conduta ilibada e idoneidade, na vida
pública, que são exigências fundamentais na administração pública, em se
tratando de país minimamente sério, em termos politicamente civilizados e democráticos.
Um país
com o mínimo de dignidade e princípios jamais aceitaria ser comandado por
político destituído de moralidade pública, estando sob suspeita de ter se
beneficiado indevidamente de recursos públicos e nada comprovar em contrários
às acusações contra ele.
Nesse
caso, caberia justamente às autoridades públicas o dever de não permitirem que
tamanhas desmoralização e indignidade fossem ignoradas, porque isso tem o
condão de confirmar completo desprezo aos saudáveis princípios republicanos e
democráticos, à vista da imperiosa necessidade da maculabilidade perante a
administração pública.
Nessas
condições, mesmo que se alegue que o principal cargo do país tenha sido
conquistado pela via democrática, em eleição pública, fica o questionamento
sobre a imaculabilidade do candidato eleito, que não conseguiu preencher os
requisitos de conduta ilibada e idoneidade, na vida pública, como normal exigência
de princípios essenciais na administração pública.
Por
último, não se pode olvidar que a excrescente situação arranjada para se
colocar no poder pessoa sem a devida qualificação moral, em termos
politicamente falando, deve-se também ser atribuída a parte expressiva do povo,
que não se envergonhou de apoiar, com o seu voto, quem deveria ser revestido
dos princípios da dignidade, da moralidade e da maculabilidade, em condições normais
de representar a honradez dos brasileiros.
Enfim,
nesse caso, não importando as circunstâncias, pode-se invocar o provérbio
segundo o qual o povo tem o governo que bem merece, principalmente por se
conformar passivamente com a verdadeira desmoralização de ser presidido por
quem não consegue comprovar os requisitos de conduta ilibada e idoneidade, na
vida pública.
Brasília,
em 15 de junho de 2024
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