quarta-feira, 12 de junho de 2024

O imaculado?

 

Conforme vídeo que circula nas redes sociais, uma pessoa traça extraordinário perfil de pessoa perfeita, em todos os sentidos, do principal líder da oposição, como sendo verdadeiro homem público honesto, competente, visionário e acima de tudo defensor dos interesses do Brasil, da família e da religião, exatamente a pessoa revestida de imaculabilidade e de credibilidade, conforme o texto a seguir.

“Há um homem cujo coração pulsa em sintonia com o solo fértil do Brasil. ele não é apenas um cidadão, mas um visionário apaixonado. Seus olhos brilham com esperança e a sua alma é tecida com os fios da mudança. Ele sonha com um país melhor, não com uma quimera distante, mas com uma realidade palpável. Seu país, ele acredita, deve ser grande como as nações do primeiro mundo. Não é uma ambição egoísta, mas sim um desejo ardente de ver a sua terra natal florescer. Em sua visão, o povo brasileiro anda pelas ruas sem medo, sem olhar por cima do outro. A violência é uma lembrança distante, substituída pela segurança e pelo respeito. As famílias, estes pilares da sociedade, são como arvores robustas, com raízes profundas e galhos que se entrelaçam, unidas e felizes, elas moldam o futuro. A corrupção, como erva daninha, deve ser arrancada. Ele anseia por líderes íntegros, que sirvam com honra e transparência. A violência, seja física ou verbal, não tem lugar em seu brasil ideal. Todos devem se respeitar, independentemente de religião, orientação sexual ou origem. Esse homem, com sua visão incandescente, não é apenas sonhador, ele age, mobiliza, educa e inspira. Ele é a voz dos que não podem falar, o defensor dos oprimidos, seu coração bate pelo Brasil. Ele luta incansavelmente para transformar os sonhos em realidade.”.

Na realidade, é preciso se ter a consciência de que qualquer pessoa tem pleno direito de interpretar os fatos da forma que melhor maneira lhe interessa, segundo as suas conveniências, como parece ser o caso da mirabolante narrativa acima, que mostra a figura de político com predicativos de verdadeiro herói nacional, que tem realmente capacidade de se agigantar em defesa dos interesses dos brasileiros, sem reconhecer nele nenhum defeito.

O certo mesmo é que as verdades são imutáveis, à vista dos fatos que mostram a realidade do verdadeiro político, que não teve capacidade para comprovar os atributos alardeados na mensagem acima, quando, se tudo o que foi descrito fosse verdade, acredita-se que ele jamais teria sido derrotado pelo pior político da face da Terra, em termos de indignidade, falta de personalidade, desonestidade reconhecida pela Justiça brasileira, por ele ter se beneficiado, indevidamente, de recursos públicos, algo incompatível com a administração pública.

Isso significa se afirmar que seria impossível político tão articulado com tantos atributos e qualidades, na vida pública, ter perdido a reeleição para pessoa sem a mínima condição para exercer cargo público, ante o seu perfil de completa desmoralização perante a administração pública.  

Convém citar que não passa de falácia de se afirmar que o político combate a corrupção, quando ele, que se elegeu sendo o paladino da moralidade, que condenava, com veemência, as práticas nefastas e deploráveis do Centrão, grupo recriminável que é símbolo do fisiologismo, na administração pública, tendo a iniciativa de cognominá-lo de “velha política” e que jamais faria negócio com ele, justamente pela sujeira impregnada nas suas entranhas.

Isso é fato notório do conhecimento dos eleitores brasileiros, mas esse calote eleitoral teve vida curta, somente até o político ter sido ameaçado de impeachment pelo Congresso Nacional, que não teve dúvida em pedir o socorro do Centrão para salvá-lo da degola e colocá-lo no colo do governo, com todas as regalias que ele exige e faz jus, diante da antiética dele, na forma de cargos públicos e emendas parlamentares, que são regalias funestos exigidas por ele, que foram prontamente atendidas com as pompas palacianas, justamente por quem é considerado combatente da corrupção.

Impende frisar que atos de corrupção, na administração pública, não é exclusivamente o beneficiamento indevido de recursos públicos, mas também a prática do desvio de finalidade, como nesse caso típico de associar o governo com grupo político considerado desonesto, principalmente que a aliança espúria firmada tinha por destinação interesse pessoal e particular do então presidente do país, que procurou se blindar com o apoio do desgraçado Centrão, ficando bastante cristalina a fraude nessa operação, por não haver o envolvimento de nenhum interesse público, que é a finalidade precípua do serviço público.

Ou seja, à toda evidência, o político que se passa por honesto não teve o menor escrúpulo em utilizar dinheiro público para se compor com grupo fisiológico para a proteção pessoal, cujo procedimento é absolutamente incompatível com as finalidades públicas, cujos atos deveriam ter sido devidamente apurados, para fins de responsabilização, na forma da lei.

Como se vê, isso não condiz com afirmações constantes da mensagem acima, que dizem que “A corrupção, como erva daninha, deve ser arrancada” e “Ele anseia por líderes íntegros...”, de vez que isso foi colocado por terra, na prática, conforme mostram os fatos acima descritos, embora eles sejam propositadamente ignorados por seus fanáticos seguidores, que não se envergonham em fechar os olhos para a verdade dos acontecimentos.  

Por outro lado, como então se acreditar em afirmações contraditórias e irrealistas como essas: “Ele sonha com um país melhor...” e  “...seu coração bate pelo brasil...”, quando, na qualidade de mandatário do Brasil, ele teve excelente oportunidade para mudar a consolidação da tragédia que se abate sobre as cabeças dos brasileiros, com o peso da incompetência administrativa, do desperdício de recursos públicos, dos abusos de autoridade, mediante arbitrariedades e inconstitucionalidades, entre outras espécies de maldades contrárias aos princípios democráticos?

Era necessário tão somente que ele tivesse implantado a garantia da lei e da ordem, com amparo no art. 142 da Constituição, em especial, por conta das inúmeras denúncias de irregularidades havidas na manipulação do sistema eleitoral brasileiro, sob a desconfiança de fraudes para eleger pessoa incompatível com o exercício de cargo público eletivo, que havia sido condenada pela Justiça brasileira, por comprovada prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, em gravíssimo ferimento dos princípios da conduta ilibada e idoneidade, que são contrários à dignidade e à moralidade no serviço público.

A supracitada decretação se conformava perfeitamente com o disposto no art. 78 da Constituição, que estabelece que o presidente da República tem “o compromisso  de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil.”.

Vejam-se que, nesse caso, o então presidente fracassou, deixando de cumprir a Constituição, com infringência do aludido art. 78, quando ele permitiu que o principal órgão da Justiça eleitoral transformasse ato originariamente ostensivo em sigiloso, não dando transparência ao resultado das eleições presidenciais, em claro desrespeito ao disposto no art. 37 da Constituição, que diz que os atos da administração pública obedecerão “aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade...”.

Com base no princípio da publicidade, aquele órgão teria a obrigação de dar transparência a todos os atos referentes às últimas eleições presidenciais, mas tudo foi negado, inclusive o acesso ao trabalho das Forças Armadas, que havia sido convidadas para participarem do acompanhamento daquelas eleições.

Nessas circunstâncias, o então presidente do país, com base no art. 78 da Lei Maior, deveria ter interferido, nessa situação, para defender o melhor para o Brasil e os brasileiros, mas, infelizmente, a gravíssima omissão dele permitiu que o poder fosse transferido e o pior, tranquilamente, para a banda pobre da política brasileira, mesmo com os conhecimentos da sua indiscutível índole de desonestidade, incompetência e desprezo aos interesses do país, à vista de exemplos de governos anteriores.

Por fim, convém aduzir, à vista da condução do combate à pior pandemia já havida no Brasil, que o desempenho do então presidente do país foi simplesmente desastroso, quando ele se opunha às orientações do próprio governo, não usando máscara nem tomando vacina, além de ignorar a existência do vírus, que o chamou de “gripezinha” e maricas as pessoas que ficavam em casa, com medo da Covid-19.

A atuação dele foi tão desastrada que muitos brasileiros o denominaram de genocida e negacionista, quando, na qualidade de estadista, ele muito ajudaria se tivesse apenas cuidado das medidas necessárias ao combate à pandemia, sem se mostrar contrário aos fatos, diante da incompetência médica da pessoa dele.   

Esses fatos contradizem à seguinte descrição: “Esse homem, com sua visão incandescente, não é apenas sonhador, ele age, mobiliza, educa e inspira”, uma vez que a autoridade dele pode ter induzido muita gente em não seguir as orientações técnicas, em se tratando de momento de riscos e incertezas sobre as maldades do coronavírus, que conseguiu matar mais de 700 mil brasileiros, em que pesem os cuidados adotados pelas pessoas.

Apenas esses sintéticos fatos podem servir para se intuir que não se trata de político íntegro tal qual na forma da narrativa da mensagem acima, que o coloca sob a superioridade que ainda precisa ser comprovada, diante das terríveis e vitais falhas protagonizadas por ele, que jamais poderia ter passado para a história do Brasil com máculas marcantes no seu currículo de ter se associado ao deplorável Centrão e deixado de defender os interesses do Brasil contra os políticos da maldade, do atraso e da desonestidade, conforme mostram os fatos.

A verdade diz que a omissão de fatos erráticos sobre o político enseja se acreditar, inclusive por parte dele, que ele é realmente imaculado e revestido da perfeição, mas isso é extremamente prejudicial ao princípio da verdade, por contribuir para enganar até a ele próprio e isso não é bom, por negar algo valioso, que é a verdade dos fatos.  

Enfim, a mensagem que procura reconhecer apenas as qualidades que enaltecem o currículo da político, peca em muito em ignorar fotos que fazem parte do histórico dele, como homem público que também foi capaz de praticar graves desvios em ação ou omissão de atos na gestão pública e isso também preciso ser sopesado, para o bem da verdade, posto que não fica bem jogar o lixo para debaixo do tapete, diante da importância da transparência dos fatos, na vida pública.            

  Brasília, em 12 de junho de 2024

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