O
ex-presidente norte-americano foi considerado culpado pela Justiça em ação
criminal, passando para a história dos Estados Unidos como o primeiro
ex-presidente a receber veredicto criminal nesse sentido.
Trata-se
de lance importante, em termos políticos, à vista da singularidade à disputa
pela Casa Branca, neste ano, uma vez que é praticamente certo que o republicano
seja candidato do seu partido, mesmo tendo sido condenado criminalmente, que é
algo inusitado para os padrões americanos, em país onde os princípios da
dignidade e da moralidade estão acima dos sentimentos maiores de civilidade.
A
decisão foi tomada por júri formado por 12 pessoas, que avaliou a culpa do político
em, pasmem, 34 acusações de falsificação de registros empresariais para
encobrir pagamentos a uma atriz pornô e, assim, evitar que ela divulgasse
supostas relações sexuais mantidas com ele, às vésperas da eleição de 2016.
Causa
perplexidade que cada uma das 34 acusações trata da fraude de um documento
diferente, o que mostra a força deliberativa de desonestidade do político, de
vez que ele foi considerado culpado em todas as acusações.
Agora,
o mais indigno e vergonhoso aconteceu depois do veredicto em tela, quando o condenado,
resistindo em admitir seus erros, em evidente demonstração de não assumir seus
atos delituosos, culpou o atual presidente norte-americano pela decisão
condenatória.
Ele
afirmou, muito convicto, pasmem, que "Isso foi feito pelo governo Biden
para atingir ou prejudicar um oponente político".
É
incompreensível como caso estritamente particular seja envolvido com a política
e, mesmo que ele seja inocente, é inacreditável que o ex-presidente tenha a
indignidade de atribuir culpa pelo julgamento a outrem, quando a grandeza
pessoal dele diz que isso significa traição à sua honra, no sentido de jamais precisar
misturar os assuntos.
Convém
se entender que os casos são distintos, que o ex-presidente tem a obrigação de
se responsabilizar pessoalmente pelos fatos o envolvendo, sem precisar atribuir
culpa a ninguém, porque não é verdade, muito menos ao seu principal opositor,
por isso não parece justo nem digno.
Ainda
em outro ato, o ex-presidente classificou o resultado do julgamento como "desgraça",
que realmente é, por envolver importante político mundial, e acusou, sem
provas, o juiz de corrupto, como tentativa de denegrir a imagem dele, quando
quem decidiu mesmo foram 12 jurados.
O
ex-presidente afirmou que "Nós vamos continuar lutando, vamos lutar até
o fim e vamos vencer porque nosso país foi para o inferno. Nós não temos mais o
mesmo país, temos uma bagunça dividida. Vamos lutar pela nossa Constituição.
Isso está longe de ter acabado".
Depois
de condenado pelo júri, o próximo passo segue a decisão do juiz, que compete definir
a sentença, ou seja, a dosimetria da pena, cuja data foi marcada para o dia 11
de julho, a poucos dias da Convenção Nacional Republicana, quando o político deverá
ser confirmado como candidato à Casa Branca.
Mesmo
condenado, essa condição penal não tem nenhum impacto nem interferência na campanha
do republicano à Presidência americana, uma vez que não há nenhuma previsão na
Constituição daquela país, impedindo condenado por crime a concorrer a cargo
eletivo, mesmo estando preso.
Em
se tratando do eleitor norte-americano, é esperado que a condenação de
importante figura política tenha reflexo na sua imagem como homem público, com
grande perda de votos, considerando o padrão de moralidade perseguido pelo
eleitorado daquele país, que preza muito o valor do voto.
É
evidente que os adversários do republicano vão tentar tirar proveito político
dessa condenação histórica, como no caso da campanha democrata, que já estuda a
melhor maneira de explorar o caso em termos da moralidade e da dignidade de
presidente que teria praticado desvio gravíssimo de conduta como cidadão, cujo
fato tem sim implicação com ameaça à democracia, que não permitia associação
com desprezo aos princípios de civilidade e cidadania.
O
certo mesmo é que, culpado ou não nesse rumoroso caso, a imagem do republicano ficará certamente
bastante escurecida, para não dizer enegrecida, mas maculada por conta do
desvio de conduta moral, quando o dever do homem público é ser sempre retilíneo
em todos os seus atos, principalmente porque não é comum que a principal
autoridade dos Estados Unidos da América se envolva em escândalos de nenhuma
natureza.
Enfim,
também naquele país, cabe ao povo, por meio do voto, a escolha do melhor
político para presidi-lo, principalmente tendo em conta que isso faz parte dos
princípios democráticos, não importando a índole nem o caráter do homem público.
Brasília,
em 10 de maio de 2024
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