quinta-feira, 26 de abril de 2018

Assepsia na política


Conforme foi noticiado na mídia, o ex-presidente da República tucano, em entrevista ao programa Política & Etc., da GQ Brasil, a par de analisar o cenário político brasileiro, inclusive comentando o resultado das últimas pesquisas de intenção de voto à corrida ao Palácio do Planalto, houve por bem considerar lamentável o fato de um senador do PSDB mineiro ter se tornado réu, por decisão do Supremo Tribunal Federal, sob a acusação da prática dos crimes de corrupção passiva e obstrução da Justiça,.
O tucano afirmou que “O Aécio, que se tornou réu, é verdade e é lamentável tudo isso. Ele disse sobre a acusação, e nisso ele tem razão, que é uma relação que não passa pelo Estado, pelo Tesouro e nem pelo partido. Houve um desvio de ordem de conduta. Não foi o PSDB. Isso não perdoa os erros, mas é preciso diferenciar”.
Não, senhor, ex-presidente, esse esdrúxulo e deprimente caso de explícita desmoralização da classe política, protagonizada por senador da República não é preciso diferenciar coisa nenhuma, mas sim considerá-lo potencialmente comprometedor e o suficiente para se interromper a carreira política de qualquer homem público com o mínimo de dignidade, tendo em conta que o ato de vileza em si representa enorme distanciamento do caráter e do decoro intrínsecos dos políticos, que precisam não somente ser honestos, mas sobretudo provarem que são realmente honestos.
À toda evidência, o senador mineiro se envolveu em imbróglio de extrema gravidade, à luz dos princípios republicanos, em que o homem público não tem direito de usar o cargo público para tratar de negociata, obviamente às escondidas, sob o claro emprego do tráfego de influência, conforme ficou bastante patenteado no horroroso diálogo gravado pelo empresário da JBS, reiteradamente divulgado na imprensa do país, cujo dinheiro envolvido na transação suja não passa de propina, que significa a compra da consciência de um senador da República, que tem o dever institucional de honrar o relevante cargo que exerce em nome do povo, que, em última análise, foi traído na sua ingênua confiança.
É preciso sim se atentar para os conceitos de integridade, moralidade e dignidade, para se entender, com absoluta clareza, que partido político não pode acomodar nos seus quadros, ainda como destacado filiado, homem público da estirpe do senador mineiro, porque isso apenas representa péssimo e deprimente exemplo de desmoralização da agremiação, considerando, sobretudo, que o seu estatuto contempla disposição estabelecendo que será objeto de desfiliação aquele que praticar ato incompatível com os princípios do decoro e da idoneidade, que é o caso da falha perpetrada pelo político das alterosas.
   Ademais, é absolutamente inadmissível que, em pleno século XXI, ainda se permita que o senador se desmoralize, de forma leviana, e ainda contribua para manchar a honra de seu partido e fique absolutamente impune, sem receber a mínima advertência, como se isso fosse normal, quando se trata de atrevida e gigantesca esculhambação, sob o prisma dos princípios republicanos, que ainda tem o beneplácito da autoridade do ex-presidente tucano, por apenas achar que é preciso diferenciar, como forma de se pôr panos-quentes em chaga aberta referente a escândalo de notória inadmissibilidade para a sociedade, diante dos conceitos da moralidade e do decoro impostos no exercício de cargos públicos eletivos.
O senador mineiro, tão logo foi pego com a mão massa e a boca na botija, praticando ato indigno e recriminável, já deveria ter sido expulso do partido, sem mais delongas, como indiscutível prova não somente de intolerância com malfeitos, mas especialmente para prevenir a reincidência de caso que não condiz com as atividades político-partidárias, como o de pegar empréstimo de quantia substancial, cujo dinheiro terminou sendo transportado por meio de malas, às escondidas, dando a entender que se tratava mesmo de transação nada lícita, para os padrões de honestidade ínsita dos cidadãos, em especial dos homens públicos, que precisam ser o espelho da decência para a sociedade.
Esse fato deplorável pode ensejar que outros políticos, de índole semelhante à do senador mineiro, simplesmente aleguem, em caso de afronta às normas estatutárias, o inaceitável precedente havido e será igualmente perdoado, porque o partido, de forma injustificável, foi condescendente com o malfeito do tucano das alterosas, quando não devia, por permitir a sua desmoralização e o estrago efetivado à sua imagem, em prejuízo das suas integridade e reputação partidárias.
Sob a visão dos brasileiros dignos e honrados, o senador tucano mineiro representa, na atualidade, o que de pior se possa imaginar para a classe política, por ter sido apanhado em explícita prostituição ética e moral, tendo perdido completamente a confiança como homem público que havia conquistado na última campanha eleitoral à Presidência da República, fato este que recomenda, para a moralização das atividades político-partidárias, que ele seja eliminado da vida pública, com vistas à indispensável assepsia da administração do país. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 26 de abril de 2018

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