quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

A outra face da verdade

O resultado das pesquisas do Datafolha, divulgado após a confirmação, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, da condenação à prisão do ex-presidente da República petista, pelo juiz da Operação Lava-Jato, mostra que as sentenças não alteraram o sentimento de pessoas entrevistadas, que se mantiveram com o mesmo nível, em termos da intenção de votos no petista.
Em declarações ao Uol, cientistas políticos atribuem o que eles chamam de fenômeno que sustenta em três fatores, quais sejam, alto índice de desconfiança no Judiciário, incerteza ou indiferença sobre as questões jurídicas envolvendo o ex-presidente e as viagens, chamadas de caravanas, pelo Brasil feitas pelo político, que tiveram primordial finalidade não somente de se defender, mas também de disseminar graves acusações à força-tarefa da Operação Lava-Jato, na tentativa de mostrar que ele é tratado como vítima e perseguido, ante a sua indiscutível e irretorquível inocência, na opinião dele.
O coordenador da área de comportamento político da Associação Brasileira de Ciência Política definiu a situação relacionada à pesquisa, afirmando que "Esse quadro não é para questionar a qualidade do julgamento em pauta, mas apenas para dizer que os efeitos de uma ação de uma instituição que tem perdido credibilidade tendem a ter um efeito reduzido sobre a intenção de voto".
Uma pesquisadora e doutorando em Ciências Políticas ressaltou que “colocar no ex-presidente a posição de grande vilão no que se refere à corrupção endêmica no país também conta.”, dando a entender que o esforço para o tornar vilão da corrupção tem rendido dividendos políticos para ele e isso ajuda a mantê-lo de bem aos olhos daqueles que preferem acreditar na “pureza” de caráter do político.
Outro especialista em Ciências Políticas foi bastante enfático, tendo afirmado que “A despeito de todo o movimento, tanto da mídia quanto do Judiciário, em dar saliência para este tema e de colocar o Lula nesse papel de uma pessoa que concentrou tudo o que se refere à corrupção nas últimas semanas e meses, a atenção um pouco a desconfiança institucional do brasileiro. Acho que isso oferece uma pista de por que isso não quis dizer muita coisa para o eleitor.".
Parece muito evidente que a oposição, como se não tivesse qualquer interesse nem responsabilidade pela moralização do Brasil, se mantém absolutamente equidistante desse imbróglio envolvendo as denúncias contra o mais famoso político brasileiro, tanto que não se ouve nenhuma voz, nem nos Parlamentos e muito menos em público, repudiando as possíveis travessuras protagonizadas pelo político, de modo a prestar solidariedade às investigações e aos julgamentos, como forma de reforçar o real peso deles, diante da extrema gravidade dos fatos denunciados, que não podem ser contemporizadas e nem ignorados, como esse quadro de absoluta adversidade aos princípios republicano e democrático fosse normal, ante a premência da moralização das atividades político-partidárias, por meio do implacável combate à corrupção e à impunidade.
Isso deixa muito claro que nenhum adversário político se atreve a dizer, como se também tivesse algo a esconder, que os fatos lesivos ao patrimônio público, cuja autoria é atribuída, com bastante evidência, ao petista pela Justiça, à vista do que foi revelado no escândalo específico do tríplex, são absolutamente incompatíveis com as autênticas e verdadeiras atividades políticas, eis que os homens públicos precisam prestar contas à sociedade sobre  seus atos, que não podem haver quaisquer questionamentos ou menor desvio dos princípios da ética, legalidade, moralidade e dignidade, haja vista que é dever do representante do povo agir e atuar em estrita observância dos salutares princípios republicano e democrático.
Embora o ex-presidente não tivesse conseguido comprovar a sua inocência perante os magistrados das primeira e segunda instâncias, à vista da condenação com votos unânimes e convergentes, em reconhecimento da materialidade das provas contra ele, pela consistência e robusteza com que foram relatadas nos autos, não deixando a menor dúvida quanto à autoria dos fatos denunciados, o político não se cansa de dizer, em forma de mera falácia, que é inocente, por não ter cometido nenhum crime, mas não consegue contestar os fatos em si.
Em que pese a avalanche de provas nos autos, ele ainda tem o desplante de afirmar que um justo foi condenado sem provas, ao que parece só porque não há registro da propriedade do imóvel em questão e também por não ter havido usufruto dele, fazendo-se de cego e mouco à fartura de indícios, documentos, testemunhos, demonstrativos e planilhas de despesas a indicarem a íntima relação dele e da sua família com o imóvel, não deixando a menor dúvida do seu envolvimento com ele, que, como detalhe dos crimes, só faltou o recebimento das chaves.
É bem possível que, para os leigos e pouco interessados em conhecer os detalhes do caso, que é mais fácil apenas acreditar piamente nas reiteradas negativas ditas pelo ex-presidente de que é inocente, os fatos precisam de maior evidência para a caracterização sobre a culpa do político nesse imbróglio, que não tem, para os idólatras, a menor relevância, em termos políticos e de moralidade, conforme mostra a pesquisa, porque o mais importante é a volta ao governo de quem se houve cuidadoso, com base em marketing político, com relação aos interesses daqueles que agora procuram corresponder em apoio com o voto, nada importando que ele seja considerado corrupto pela Justiça, nem que tenha se beneficiado de propinas, porque é preciso prevalecer o velho adágio de que rouba, mas faz.
Compete à sociedade cônscia do seu dever cívico zelar pela moralidade no seio da administração do país, procurando repudiar com veemência as atividades político-administrativas de homens públicos que demonstram ter compromisso exclusivamente com interesses pessoais e partidários, em detrimento das superiores causas nacionais, notadamente à vista desse majestoso escândalo do petrolão, em que os envolvidos se esforçam, ao máximo, para se passar por heróis, vítimas e perseguidos, quando os fatos denunciados mostram exatamente a face da verdade, que põe por terra as afirmações mentirosas, falsas e inconsistentes. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 8 de fevereiro de 2018

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