A Beija-Flor de Nilópolis encerrou os desfiles do
Grupo Especial no Rio de Janeiro com um paralelo entre o romance "Frankenstein", que completa 200
anos, em 2018, e as mazelas sociais brasileiras, compreendendo corrupção,
desigualdade, violência e intolerâncias de gênero, racial, religiosa e até
esportiva, que formaram o cenário "monstruoso",
porém a sua intenção de alertar para a decadência de parte da sociedade foi bem
entendida pelos presentes, que ovacionaram a ousadia e a coragem da escola
sobre a abordagem de temas tão palpitantes e que merecem a devida atenção para
os cuidados que eles exigem das autoridades públicas.
O samba-enredo comandado por seu já consagrado puxador
e cantado alto pelos presentes na Sapucaí tem o título muito harmonioso com a
indiscutível degradação moral da administração do país, que diz o seguinte: "Monstro é aquele que não sabe amar. Os
filhos abandonados da pátria que os pariu".
O
desfile da Beija-Flor foi exuberante em metáforas representando o terror como a
verdade que impera sobre a administração do Brasil, que soube aproveitar citações
do cotidiano para se referir a animais, a exemplo daquela que fala sobre a
"ala dos roedores dos cofres
públicos" e a de "lobos em
pele de cordeiro", por certo em alusão aos inescrupulosos políticos tupiniquins,
que, na grande maioria, não escondem a sua vocação para defender interesses
pessoais, em detrimento das causas nacionais e da população.
No
começo do desfile da Beija-Flor, foi relembrado o romance da lavra da inglesa
Mary Shelley, que consiste na história do estudante de ciências que constrói a
figura de um monstro em seu laboratório, mas abandona sua criação e entra em
confronto com ela.
Diante
desse choque da história mundial, a Beija-Flor procurou fazer o paralelo entre
os motivos que levaram à criação do monstro pelo Dr. Frankstein e as origens
dos problemas brasileiros, como ambição e ganância, levando a escola a questionar
o abandono do "monstro" e
dos brasileiros.
A
Beija-Flor expôs as mazelas do Brasil em ordem cronológica, mostrando a ala
"Imposto dos infernos", com
críticas aos tributos cobrados impiedosamente dos brasileiros, desde o "quinto" da época da mineração do
ouro.
A
ala das baianas, da maior irreverência, inovou com sua vestimenta, cujo traje
representava as "santas do pau oco",
que nada mais eram do que imagens de santos onde se escondia dentro delas o
precioso ouro, no Brasil colônia, que era desviado.
Na
exploração do tema corrupção, não faltaram jogos de palavras, como da ala
"Ali Babá e os bobos",
sobre o lucro excessivo dos vendedores de especiarias na era colonial.
Já
em tempos atuais, foi mostrada a ala "Vampiros
sanguessugas exercem seus podres poderes", sobre os políticos vistos
como "morcegos-vampiros"
que sugam, de forma desavergonhada, o sangue do povo.
Como
não poderia ser esquecida, a roubalheira na Petrobras foi muito bem lembrada em
fantasias representadas por barris de petróleo nas cabeças de pessoas e em um
carro, como se este fosse o edifício sede da empresa, que vira uma favela atrás
de enorme ratazana.
As
mazelas foram temas abundantes e ricamente exploradas pela Beija-Flor,
incluindo violência, poluição, corrupção, incompetência, impostos abusivos, péssimo
sistema de saúde, crianças carentes e abandonadas etc., que serviram de base para
se concluir pelo "terror brasileiro".
A
Beija-Flor garantiu o maior sucesso com o público, que seguiu cantando o
samba após o fim do desfile, tendo recebido até aplausos de grupo
de jurados, graças ao seu enredo que desenvolveu na avenida, com críticas, entre outras, à corrupção no país, que certamente este era o seu objetivo de chocar
e provocar a reação dos brasileiros, que não suportam mais conviver com a
corrupção que destrói não somente os princípios republicanos, mas os orçamentos
públicos, em benefício dos esquemas da criminalidade.
O
tema sobre corrupção foi representado pela figura simbólica do Congresso
Nacional, dando a entender que ali é o local do submundo da criminalidade onde
se concentra a maior quantidade de corruptos do país, quando, diante da sua
função essencial de representação do povo, deveria ser o órgão do poder público
exemplo de moralidade e dignidade, em defesa dos salutares princípios
republicanos.
A
corrupção dos políticos cariocas também foi lembrada no desfile da Beija-Flor,
que mostrou o lamentável episódio da "Farra
dos Guardanapos", que foi marcado pelo indecoro jantar luxuoso acontecido
em Paris, no qual políticos e empresários do Rio de Janeiro, embriagados, expuseram
a mediocridade da sua arrogância com guardanapos na cabeça.
Coincidência
ou não, a Beija-Flor, ao explorar o marcante tema da moda, a famigerada
corrupção, terminou sendo beneficiada com a sua escolha feliz, porque a
abertura dos envelopes revelou que ela não poderia ter desenvolvido melhor
opção para o desfile na Sapucaí, porque ela foi consagrada a grande escola
campeã do Carnaval carioca de 2018, como prêmio maior por sua ousadia de mostrar
as vísceras da degeneração dos princípios republicano e democrático.
Esse
fato significa que se pode afirmar, com absoluta segurança, que a glória do
desfile da Beija-Flor pode ter sido em razão da sua sabedoria de ter mostrado
na avenida tema que tem sido a completa desmoralização dos homens públicos, que
precisam ser realmente massacrados por todos meios e formas, inclusive pelas manifestações
populares do Carnaval.
Induvidosamente,
trata-se de imaginação sensacional da agremiação carnavalesca, que mereceu o
aplauso do povo, pelo menos no Carnaval, que impressionou pela forma
inteligente de tratar tema que tem sido capaz de destruir os sonhos dos
brasileiros.
O
exemplo da Beija-Flor precisa ser sedimentado na consciência dos brasileiros,
para compreenderem que o combate à corrupção depende exclusivamente da vontade
do povo, por ser o responsável que delega o poder de representá-lo no Congresso
Nacional e no Executivo, poderes que precisam passar por completa assepsia,
mediante a eliminação dos maus políticos, que se profissionalizaram com a exclusiva
finalidade de defender seus interesses, em detrimento das causas do país e do
povo.
A
Beija-Flor foi bastante feliz em explorar temas que estão arraigados na índole
de boa parte da sociedade, com destaque para muitos maus políticos, que se
apresentam como cordeiros, mas agem como verdadeiros ratos e ainda tentam se
passar por pessoas incompreendidas ou até mesmo por imaculadas.
Seria
maravilhoso se os corruptos vestissem a carapuça e verificassem como eles são prejudicais
à sociedade que representam, quando eles deveriam dar exemplo de conduta
idônea, digna e revestida dos princípios republicanos de trabalhar pela
construção do bem-comum e do interesse público.
Urge
que os brasileiros se conscientizem sobre a real gravidade de eleger seus representantes
sabidamente com índole perversa da corrupção, porque eles são exatamente os
homens públicos que se elegem com a exclusiva finalidade de defender seus
interesses, sob a exploração da influência do poder emanado pelo povo. Acorda,
Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 15 de fevereiro de 2018
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