quinta-feira, 12 de setembro de 2019

A riqueza da poesia


“(...)
Com céu azul e sem nuvens
Mato seco e poeira,
A caminhada demorava
Mesmo que fosse na carreira,
A resistência de criança
O sol quente também cansa
 
E foi assim a infância inteira
Naquela estrada longa
Sombra quase não tinha,
Casas distante uma da outra
Muito mais distante da minha,
Cansado e sedento
 
Sentia o peso do vento
Quando ia e quando vinha
Às vezes cansado e com sede
Vinha na minha mente,
Uma árvore verde e frondosa
Para aliviar o tempo quente,

Isso era impossível
Naquele calor terrível
Imaginar já era suficiente.
Isso me dava forças
Para suportar a jornada,
Até que uma casa aparecia

Pra eu fazer uma parada,
Na parede eu me escorava
Um copo com água tomava
E as forças eram retomadas
Quase sempre com o copo d'água
Vinha também o acolhimento,

De um olhar carinhoso
E um sorriso sem sofrimento,
Refrigerava minha alma
E eu voltava a calma
Naquele calor do vento.
E até que a meu destino

Cansado eu chegava,
Na alegria de chegar
Da estrada nem me lembrava,
E a vida continua
No sítio ou na rua
A estrada só alongava.
(...).”.
A riqueza da poesia em tela chama a atenção para a realidade da vida do menino nordestino, que normalmente é obrigado a encarar essa situação nua e crua, que não podia ser diferente, diante das circunstâncias.
O grande poeta Vandenildo merece os parabéns, por ter escrito a poesia que corresponde à realidade da vida, com a disposição de contar, com singulares maestria, alegria e encanto, a sua história sofrida de menino, em Uiraúna (PB), com o importante detalhe que ela se confunde com a mesma história de muitas pessoas, porque até parece que ele contou parte da minha infância.
Eu trabalhava na roça, pela manhã, no amado sítio Canadá, e estudava à tarde no saudoso Grupo Escolar Jovelina Gomes, sendo obrigado a enfrentar as agruras do sol a pino, que só Deus sabia como eu tive tanta disposição para enfrentar tamanha dificuldade, exatamente nas mesmas condições descritas nesse belo poema de vida, que fala por si só como é saudável o sacrifício da infância, porque ele tem o condão de valorizar os atos do resto da vida, como forma de recompensa, da bonança concedida por Deus àqueles que conseguiram ultrapassar os obstáculos que se lhes foram colocados à sua frente.
A presente poesia é realmente emocionante, em especial porque ela toca a alma de quem foi obrigado a conviver com história muito parecida, como eu, que infelizmente não dispunha do recurso da bicicleta, porque não podia comprá-la.
Fico muito feliz que o poeta Vandenildo tenha conseguido fazer mais uma obra-prima na sua bela carreira de poeta uiraunense, já consagrado por nos brindar com texto sempre brilhante.
Brasília, em 12 de setembro de 2019

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