Quando se imaginava que
a tranquilidade voltaria a dominar a vida republicana, surge um dos filhos do
presidente anunciando algo espetacular, com o propósito de tumultuar a mente do
mundo político, porque essa é exatamente a sua função de mexer com a solidez das
estruturas da República.
Há poucos dias, um dos
herdeiros do presidente disse, em alto e bom som, sem margem para outras interpretações,
que, verbis: “por vias democráticas a transformação que o Brasil quer
não acontecerá na velocidade que almejamos”.
Trata-se da maior lucidez para se
referir diretamente a regimes de exceção, evidenciando explícita preferência ao
retrocesso político, sem o menor escrúpulo, quando a sociedade, ao contrário, anseia
desesperadamente por mais democracia.
É possível que o filho tenha
interpretado fielmente o pensamento do pai, que não ficaria bem para ele
próprio vir a público expressá-lo com tanta eloquência como o fez o seu lídimo
representante, sabendo que a palavra de mero político do patamar de vereador não
assumiria o peso da responsabilidade se a frase tivesse sido pronunciada diretamente
pelo suposto interessado, o que também poderia evidenciar enorme leviandade
presidencial, ficando patenteada se não tivesse por trás disso importante
interessado em colher os resultados sobre a sementinha plantada além muros
palacianos, mas a citação do filho, com viés ditatorial, não passa do que,
certamente, pensa o patriarca.
Pessoalmente, o
presidente do país já até afirmou bem lá trás, essa pérola de pensamento: “através
do voto você não muda nada no País; tem de matar uns 30 mil”.
É evidente que a referida
frase foi dita ainda quando ele era deputado federal, integrante do baixo
clero, mas ainda continua afinado com o seu maquiavélico pensamento de então, à
vista dos fatos agora anunciados, em doses, para que o assombro não fique tão
explícito.
Alhures, o ilustre sonhador
ao cargo de embaixador nos Estados Unidos da América já adiantou a estratégia
de como se alcançar o controle absoluto do Estado, tendo afirmado, em plena campanha
presidencial, que, “para fechar o STF, basta um soldado e um cabo”, fato
que causou, à época, tremendo reboliço político.
Tudo isso foi dito em
harmonia com o soberano pensamento do patriarca, que já disse que seria capaz
de “levantar borduna”, “fuzilar” o ex-presidente tucano e dar “o
golpe no mesmo dia”, se chegasse ao poder, o que, então, parecia algo imaginável,
mas, por ironia do destino, o que seria improvável acabou acontecendo, de forma
inacreditável para muitos brasileiros.
Decidido a causar polêmicas,
a trupe avançada do presidente tem procurado ir diretamente ao ponto de interesse,
não medindo as consequência nem os obstáculos na aplicação do vernáculo, com
viés explosivo.
Vejam-se a insensatez
demonstrada por um dos filhos do presidente, ao encarnar o verbo belicista, quando
se deixou fotografar, sem nenhum constrangimento, com arma na cintura, ao
visitar o pai no hospital, exatamente aquele que é o postulante a embaixador da
principal representação diplomática brasileira.
O presidente brasileiro
já vociferou que só deve respeito e lealdade ao povo, ignorando que ele precisa
respeitar, acatar e observar a Carta Magna e o ordenamento jurídico pátrio, além
de se esforçar para se comportar com dignidade constitucional perante os outros
dois poderes da República, que são independentes entre si e precisam trabalhar
irmanados com o propósito de convergência em torno da superação dos obstáculos ao
desenvolvimento do Brasil.
Depois de ter sido
bombardeado com reações de desaprovação ao vitupério de cunho antidemocrático, o
filho do presidente simplesmente reagiu por meio de costumeiros ataques, chegando
a classificar a imprensa de “canalhas”, sob a alegação de que ela teria distorcido
seus “belos” pensamentos, como que querendo negar suas horrorosas palavras.
Além da reiterada
verborragia antidemocrática, os filhos do presidente, desde que ele tomou posse,
vivem envolvidos em acusações tenebrosas de envolvimento com irregularidades, as
mais indignas para quem ocupa cargo público eletivo, com aproximação deles com
o uso de cabos eleitorais fantasmas, de injustificáveis relações com milicianos,
existência de “rachadinhas” com verba de gabinete, além de tantas acusações extremamente
incompatíveis com os princípios republicano e democrático.
Por causa desses escândalos,
o presidente do país, pai dos “famosos” políticos, anda às turras com
investigadores e órgãos ligados ao combate aos crimes contra a administração
pública, prometendo afastar delegados da Polícia Federal, tendo extinguido o Coaf,
que investigava movimentações financeiras suspeitas de um dos filhos, dando a
entender que o combate à corrupção não se aplica a eles, o que contraria o lema
de campanha eleitoral, segundo o qual “a verdade liberta”, no dizer do
principal político.
Nessa linha adotada
pelo presidente, de se punir os investigadores, por terem levantado as contas da
família presidencial, até a Receita Federal foi ameaçada de “devassa”,
precisando passar, segundo palavras do próprio presidente, por reestruturação, por
meio da sua divisão em sub-repartições, mas sem antes já ter exonerado o seu
titular, por ter adiantado trechos da reforma tributária.
O presidente brasileiro,
que diz ser ele quem manda em tudo, vai arrumando a casa ao seu gosto, com o aparelhamento
do sistema tiranicamente ao seu modo de governar, sempre com a nomeação de alguém
que lhe seja obediente, em harmonia com o estilo autoritário de ser, ou seja, é
preciso que tudo fique sob o seu domínio e a sua orientação, mesmo que o órgão
seja coordenado por ministro.
Na verdade, é notório
que, sem nenhum pudor, a República tupiniquim, prometida com ares de novidade,
realmente vem acontecendo, não conforme o anúncio das mudanças ao estilo que
agradasse aos brasileiros, mas sim sob a concepção bem peculiar de democracia própria
do seu mandatário, que somente agrada a ele, em harmonia com as suas
conveniências.
O certo é que a política
passou a ser completamente diferente do passado recente, agora sob a ótica do maquiavélico
capitão reformada do Exército, onde há de prevalecer seu estilo peculiar de
modernidade ditatorial, sobrevindo sim mudanças, não aquelas ansiadas pelos brasileiros,
mas aqueloutras comandadas pela vontade da sua majestade, o presidente da
República.
Os brasileiros imploram
por governo sob o prisma inspirado na moderação, na transparência, na
independência dos poderes, no respeito ao ordenamento constitucional e legal, na
competência administrativa, na prevalência dos princípios republicano e democrático,
com embargo ao apego à prepotência de autoridade que se acha lídimo detentor do
poder absoluto e tirânico.
Brasil: apenas o ame!
Brasília, em 19 de setembro de 2019
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