terça-feira, 10 de setembro de 2019

Negação da moralidade



Em entrevista à Carta Capital, o ex-presidente da República petista, preso em Curitiba (PR), não confirma nem nega a vontade de se candidatar à Presidência da República, em 2022, apenas admite que os outros candidatos serão mais novos e terão mais disposição para enfrentar a batalha da campanha eleitoral.
Não obstante, ele disse que, dependendo da situação política do país, pretende sim concorrer e crava: “Jair Bolsonaro não será reeleito.”.
Em que pese ter dito que tem pretensões modestas, o petista afirmou que tem disposição para “derrotar a podridão da elite do país. Como posso falar? Estou com 74 ano. Estou pensando em casar. Estou novo. Obviamente que vai ter gente muito mais nova e com mais disposição do que eu. Eu não sei. Eu preciso sair daqui (da prisão), saber como estou, como estão as forças políticas. Um monte de gente com 40, 50, 60 anos. Eu me contentaria em ser cabo eleitoral, mas se não tiver ninguém capaz de derrotar essa podridão da elite brasileira que governa esse país pode estar certo que o Lula estará no jogo (sic)".  
Na opinião do político, nossos vizinhos argentinos dão uma boa mostra do que acontecerá politicamente no Brasil, nos próximos anos, porque “O Macri foi vendido como uma mentira maior que o Bolsonaro. Aliás, o Bolsonaro se mirava no Macri como espelho do bom governante. Não deu certo e aqui no Brasil também o Bolsonaro não vai se reeleger, não vai sobreviver politicamente em uma nova eleição, não acredito".
Para o ex-presidente, as críticas à polarização entre PT e o presidente do país é uma “moda”, tendo defendido o próprio partido, ao afirmar que, “Quando eram os tucanos, eles não queriam acabar com a polarização. O PT é o maior partido existente nesse país, é um p... de um partido. Não é um amontoado de interesses como é o PSL", fazendo alusão direta ao partido do presidente do país.
O petista ainda aproveitou o ensejo para ironizar e criticar a troca constante de partidos por políticos do cenário atual, dizendo que ”O Bolsonaro perde as eleições, e o PSL acaba, igual foi com o Collor. Os caras trocam de partido como se trocasse de cueca (sic)”.
Há o ditado popular que diz que o povo tem o governo que merece e isso vem acontecendo normalmente no país tupiniquim, em que o povo resiste em não se conscientizar sobre o que é melhor para o Brasil.
O Brasil atravessa momento dificílimo diante das crises política, social, administrativa, econômica, entre outras, em decorrência de governos deletérios, quanto aos princípios da gestão pública e da moralidade, tendo dificuldade para a sua superação, exatamente diante da mentalidade dos brasileiros, que insistem em continuar apoiando políticos que já demonstraram seu modelo retrógrado e ultrapassado de governo, com viés estritamente populista, sem nenhuma preocupação com a administração científica, que consiste na modernização das estruturas do Estado, por meio de reformas estruturantes e prioritárias ao seu funcionamento com eficiência e economicidade. 
O caso do político preso é bem sintomático, por demonstrar visível situação de incompatibilidade entre a condenação por improbidade administrativa com a aderência aos princípios da decência e da moralidade exigidos na gestão de recursos públicos, em que pese o seu carisma, que não pode prevalecer sobre o interesse público, que precisa se acomodar sob parâmetro de imaculabilidade na vida pública, o que, indiscutivelmente, não é o caso do político em causa, à evidência dos fatos lamentáveis.
Ademais disso, não se pode olvidar que a gestão do político em tela foi marcada por muitos pontos negativos que poderiam ter sido evitados em benefício da eficiência administrativa, a exemplo da governabilidade por coalizão, em que as alianças eram seladas com o loteamento entre partidos das alianças políticas de ministérios e empresas públicas, sem a menor preocupação com a responsabilidade pública.
No caso, os partidos cuidavam de implantar as próprias políticas, à luz de seus interesses políticos, em detrimento das ações de governo, fato que contribuiu sobremaneira para a elevação da precariedade da prestação dos serviços da incumbência do Estado, que foi dividido em função de interesses político-partidários, por exigências das lideranças da chamada velha política, hábitos extremamente degradantes e decadentes da coisa pública.
Nesse contexto conhecido como fisiologismo clássico, houve a expansão da decadência administrativa do Brasil, em que os homens públicos desavergonhados e inescrupulosos mais aproveitaram dos recursos públicos, em que os desvios aconteciam de roldão, conforme apontam as investigações promovidas pela Operação Lava-Jato, mostrando o quanto o patrimônio dos brasileiros estava exposto a toda sorte de vulnerabilidade, a exemplo do petrolão, que representou a página negra e trágica de governo comandado por quem ainda pensa em voltar a comandar o pobre e maltratado Brasil.
É extremamente lamentável que o petista tenha se referido “a podridão da elite do país”, quando fala em derrotá-la, dando a entender que ele é a pessoa mais honesta e pura do país, sendo exemplo de retidão e boas condutas de ética e moralidade, esquecendo-se que ele se encontra encarcerado justamente em cumprimento de condenação à prisão, em razão da prática dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, o que evidencia total dissonância com o exercício de cargo público eletivo.
Ou seja, por questão de princípios, nada impede que ele entenda que há podridão na elite brasileira, diante das evidências, o que não chega a ser nenhuma novidade, mas a pessoa condenada pela Justiça à prisão deveria se conscientizar de que o fato em si jamais se recomendaria em sequer pensar em ser representante dos brasileiros, porque isso representa, no mínimo, afronta aos princípios republicanos e, sobretudo, à dignidade do povo honrado, que certamente discordará da volta ao governo de quem já demonstrou a sua verdadeira índole.
Causa enorme estranheza o político não se dignar a fazer autoavaliação sobre o seu estado de decadência moral, por estar cumprindo pena de prisão, em razão da prática de crimes graves contra a administração pública, ter sido condenado, na primeira instância da Justiça, em outra ação penal, a par de ainda responder a mais cinco processos penais, já qualificado como réu.
Diante desses fatos terríveis e lastimáveis, em se tratando de pessoa pública de relevância política, somente se aconselharia que ele se afastasse das atividades políticas, enquanto estivesse implicado com a Justiça, com vistas a se esforçar a limpar seu nome perante a Justiça, provando a sua inculpabilidade em todos os casos onde se encontra envolvido, de modo que, somente depois disso, ele teria condições éticas e morais para tentar se reabilitar na vida pública, que não pode aceitar a participação de quem não consegue provar as condições essenciais de conduta ilibada e imaculabilidade perante a sociedade.
À toda evidência, nos países sérios, civilizados e evoluídos, em termos políticos e democráticos, o próprio povo tem a consciência cívica de repudiar os atos contrários à moralidade e afastar da vida pública os políticos que se envolverem em casos implicados com a Justiça, exatamente porque os fundamentos pertinentes às atividades políticas são irremediavelmente incompatíveis com as pessoas consideradas ficha suja.
Nesse ponto, há clara incoerência por parte de quem defende ou apoia o político preso, imaginando que pode e deve o Brasil ser comandado por político nessas condições, mesmo quando há esse terrível peso sobre seus ombros de envolvimento de cabeludas suspeitas de participação em casos escabrosos, em que pese ele jurar inocência, mas não conseguiu, até o momento, reunir elementos capazes para a contestação das provas coligidas pela parte instrutória, conquanto, na Justiça, somente tem validade os elementos probantes, aqueles juridicamente válidos e aceitáveis, caindo no vazio qualquer outra forma de contraprova, inclusive o grito, que faz barulho, mas não ajuda em nada.
Enfim, os defensores da soltura do político encarcerado precisam se conscientizar de que compete exclusivamente a ele produzir as contraprovas para se infirmar as provas constantes dos autos, porque elas existem e são robustas, se não ele não estaria preso por tanto tempo, considerando inclusive que o processo pertinente permanece intato, ou  seja, nenhuma peça foi retirada dele nem inserida, depois do julgamento, o que seria diferente se ele fosse realmente inocente, porque quem o é basta apresentar as contraprovas, algo que não aconteceu até o momento.
Na verdade, o apoio incondicional de parte dos brasileiros tem o especial condão de encorajá-lo a afirmar que é inocente, mesmo estando preso, quando seria bastante diferente se esses mesmos defensores poderiam contribuir positivamente se resolvessem exigir que o seu apoio a ele somente seria dado depois que todos os casos perante a Justiça sejam devidamente esclarecidos e justificados, por força da necessidade da rigorosa observância do princípio da “Ficha Limpa”, exigida para quem pretende representar politicamente o povo, que não pode compactuar com a desmoralização dos princípios consagrados da ética, da dignidade, do decoro e principalmente da imaculabilidade nas atividades públicas.
Ou seja, quanto mais apoio o político recebe de seus seguidores, menos ele tem interesse em se esforçar em se defender contra as acusações sobre ele, que termina se prejudicando em se contentar apenas com o apoio de seus defensores, principalmente por entender que não vale a pena sacrifício nesse sentido, uma vez que ele conta com o apoio de seus idólatras, mesmo estando com a ficha suja, o que bem demonstra a falta de civismo e  patriotismo por parte deles, que pouco importam pelo juízo de moralidade nas atividades políticas, o que é muito ruim para a imagem do país, que é vista pela face da devassidão aos princípios republicanos.          
Os brasileiros precisam, com urgência, se conscientizar de que os novos tempos de modernidade e de avanços científico e tecnológico exigem revolucionárias mudanças de mentalidade, no sentido de se operar transformação na administração do Brasil, em que não se podem mais ser aceitos homens públicos que tenham, de alguma forma, se envolvido em situações escabrosas completamente incompatíveis com a gestão de recursos públicos, principalmente tendo em conta que o respeito aos princípios republicanos, quanto à ética, à moralidade, à probidade, à dignidade, entre outros, demonstra a maturidade e a evolução de um povo, que precisa dá as mãos em cruzada moral contra o retrocesso e a decrepitude nas atividades políticas.
Brasil: apenas o ame!   
Brasília, em 10 de setembro de 2019

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