sábado, 4 de fevereiro de 2012

Desrespeito aos direitos humanos

Em que pese o Itamaraty ter concedido visto de entrada para a blogueira e jornalista cubana visitar o Brasil, isso de nada adiantou porque o governo cubano negou permissão para que ela saísse do seu país, para participar do lançamento de um documentário do qual é uma das personagens centrais. No entendimento dela, "Não há surpresas. Voltaram a me negar a permissão de saída. É a vez de número 19 em que me violam o direito de entrar e sair de meu país". Ao que parece, a cubana não tem papa na língua, porque ela usa o seu blog para dizer o que os seus conterrâneos não conseguem expressar, como reflete o precioso comentário sobre a visita da presidente da República brasileira ao seu país: "Alguns dizem nas ruas que Dilma veio a Cuba com a carteira aberta e os olhos fechados". Foi exatamente o que aconteceu com a estapafúrdia viagem da mandatária deste país, que, a propósito da liberação de mais de US$ 600 milhões para as obras do porto de Mariel, repreendeu com puxão de orelhas os jornalistas, respondendo pergunta concernente à inobservância dos direitos humanos na ilha, ao dizer que não ia tratar dessa questão porque os Estados Unidos da América mantêm em Cuba a base americana de Guantánamo, onde estão acusados de terrorismo. Essa desfaçatez bem demonstra a personalidade petista da tentativa de justificar a sujeira suscitada com os erros dos outros, ao invés de encarar a questão à luz da razão e da verdade, quanto mais no caso da presidente brasileira que diz ter sido alvo de maus tratos quando da sua ativa participação terrorista e, por isso mesmo, deve ter sentindo na própria pele os efeitos nocivos e maléficos que as forças opressoras do regime de exceção causam aos seus opositores. Não à toa que a blogueira declarou sobre a presidente brasileira: “Sei muito bem que ela conhece, na própria carne, o que é essa desproporção de poder entre um governo e um indivíduo, o que é o controle excessivo e a repressão. Então gostaria de apelar precisamente a este conhecimento histórico e tradicional que ela tem de algo parecido com o que estou vivendo e pedir que, por favor, interceda por mim”. Por tudo isso, não há dúvida alguma de que os fatos corroboram no sentido de que a abordagem da mandatária brasileira sobre o assunto, entendendo que “a política de direitos humanos não pode ser transformada em ‘arma’ de combate ideológico”, não condiz nem um pouco com a posição incisiva, independente e coerente que o governo brasileiro deveria ter adotado por ocasião dessa visita, debatendo e defendendo, principalmente na famosa ilha da tirania e do isolamento político-social, as questões fundamentais dos direitos humanos, como forma de mostrar ao mundo a premente necessidade de liberdade individual e da humanização das pessoas em geral, não apenas no que tange à situação da blogueira, que se destaca por ter a coragem de denunciar o repugnante poder absolutista cubano. Os avanços e as conquistas de progresso são notoriamente incompatíveis com a falta de liberdade, não somente em Cuba, mas em todo Universo, de ir e vir, de pensamento, de expressão, de iniciativa e de tudo o mais que possa contribuir para justificar a razão de o homem poder viver com respeito mútuo, nobreza de caráter e de procedimentos, amor ao próximo, sentimento de propósitos, enfim, com a reafirmação dos valores de dignidade, que devem prevalecer sobre as tiranias retrógradas e prejudiciais ao desenvolvimento da humanidade.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 04 de fevereiro de 2012

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