segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Golpe de mestre

Um deputado federal pelo PMDB, ex-secretário estadual da Educação e pré-candidato a prefeito de São Paulo, usou trabalhos quase semelhantes para a conclusão de dois mestrados, conforme denúncia publicada pelo jornal Folha de S. Paulo. O seu primeiro mestrado foi defendido em 1994, em Ciências Sociais, tendo sido laureado, três anos depois, com o título de mestre em Direito, porém com o aproveitamento de cerca 75% da primeira tese, em especial os dois capítulos principais e a conclusão do trabalho, que são idênticos. O mais absurdo desse episódio é que ele sequer teve a honestidade, a franqueza, de assumir a culpa pela grave e condenável falsidade acadêmica, preferindo tranquilamente transferir a responsabilidade pelo malsucedido ao seu orientador, que teria sugerido o aproveitamento do trabalho anterior no mestrado em Direito. Todavia, o citado orientador educacional não quis respaldar a coautoria da tramoia em apreço e disse não se lembrar dessa opinião estapafúrdia, não fazendo ideia desse fato. Na realidade, esse tipo de procedimento não é comum entre as pessoas normais, mas não chega a ser nenhuma novidade no ciclo político, onde os conchavos e as falcatruas são engendradas com bastante naturalidade e banalização, porque não existe o menor escrúpulo para a manipulação dos fatos, quando isso for necessário para beneficio próprio. O que se pode concluir sobre o mérito de quem consegue se autopromover com títulos que podem não ter sido fruto de seu próprio sacrifício? Essa revelação tem o condão de pôr em dúvida até mesmo a origem da primeira tese, que nem pode ter sido concluída diretamente por esse cidadão, que goza do sublime prestígio do maior partido do país e é o seu pré-candidato nas próximas eleições, ao cargo de prefeito da maior cidade brasileira. Qual seria, agora, a possível avaliação sobre alguém que poderá vir a ocupar cargo tão importante na estrutura administrativa pública do país? Em princípio, para a ocupação desse cargo deveria se exigir do titular conduta ilibada, lisura ética e moral no desempenho de cargos públicos, como forma de garantir gestão, no mínimo de qualidade. Todavia, quem teve a capacidade de falsificar o resultado da tese de mestrado, com a apresentação de documento que não representa absolutamente nada como trabalho acadêmico, eis que não houve esforço algum que pudesse confirmar a realização de pesquisas, estudos, experiências científicas ou algo que merecesse a concessão do título de mestre, pode perfeitamente se comportar com indecência e com desonestidade no gerenciamento do patrimônio e dos recursos da principal capital do país, em termos de arrecadação de tributos. Alguns interlocutores acham que o jovem político aprendeu muito cedo as lições da trapaça e da falsidade, que podem ser transpostos para os atos próprios das atividades públicas, cujas traquinagens quase nunca são apuradas e os envolvidos jamais serão punidos. A nação lamenta que revelações negativas desse jaez ainda aconteçam no seio da sociedade, ante a repercussão negativa e o péssimo exemplo que elas podem produzir para os jovens brasileiros, além de contribuírem para o fortalecimento da desconfiança e do descrédito nas ações dos políticos brasileiros, que são capazes de se enganar a si próprios até mesmo com a obtenção de títulos falsificados, com o objetivo de se apresentarem como possuidores de excelente capacitação cultural. Acorda, Brasil!            
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 13 de fevereiro de 2012

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