domingo, 5 de fevereiro de 2012

Escolha criteriosa?

O jornal Folha de S. Paulo publica reportagem noticiando que o futuro ministro das Cidades teria ocultado da Justiça Eleitoral, nas últimas eleições, o fato de ser dono de quatro empresas, sendo que duas delas atuam na área da construção civil e incorporação de imóveis, justamente as atividades ligadas ao ministério que ele comandará oficialmente a partir de amanhã, tendo em vista que um dos principais programas governamentais da pasta se refere à construção de habitação social. Depois da revelação desse grave fato, o parlamentar se adiantou, com absoluta naturalidade, apenas para afirmar que essa situação foi declarada à Receita Federal e que irá se desligar das suas empresas para dirigir o ministério. É bastante estranho que, concomitantemente, ele não tenha explicado à sociedade, nos mínimos detalhes, o motivo pelo qual houve omissão de tão importantes informações em sua declaração à Justiça Eleitoral, por ocasião da candidatura a deputado federal, nas últimas eleições de 2010. Também deixa muito a desejar o fato de que qualquer servidor público é obrigado a declarar, quando da sua investidura em cargo público, o seu patrimônio, sob pena de haver investigação sobre a origem dos seus bens, mas isso inexplicavelmente não se cogita em se tratando de parlamentar e o pior de tudo é que, no caso desse cidadão, nada vai lhe acontecer além da promessa de se afastar das suas empresas, condição que poderá se efetivar enquanto estiver à frente do ministério. Ora, o simples fato da omissão de informação sobre o seu patrimônio à Justiça Eleitoral é motivo mais do que preocupante quanto à avaliação acerca dos valores da honestidade, do caráter e da dignidade, porque não se sabe exatamente qual a finalidade desse procedimento, mesmo que a sua declaração de bens ao Fisco esteja regular e é diante disse fato que recai o maior e principal questionamento. Quais teriam sido a intenção e o objetivo do parlamentar em deixar de declarar à Justiça Eleitoral a existência do seu real patrimônio? Isso pode ser muito significativo e revelador da personalidade desse cidadão, porque marca, de modo indelével, a forma comportamental de seu procedimento, quanto à certeza da legitimidade ou não da sua atuação gerencial de tamanha relevância, máximo porque quem é capaz de omitir informação sobre a sua propriedade, também pode perfeitamente claudicar ou até mesmo faltar com a verdade no pertinente à gestão do patrimônio e dos recursos públicos. Nem é o caso de se repudiar possível preconceito contra político nordestino, porque se trata de fato concreto, incontestável, que jamais poderia ter acontecido na vida de pessoa pública, que tem a obrigação de ser transparente, inclusive e principalmente com relação ao seu patrimônio. Em consonância com os avanços da humanidade, em especial da modernização da democracia, a sociedade brasileira tem o dever cívico de somente eleger seus representantes no Congresso Nacional depois da confirmação, apurada por meios de total transparência, da sua lisura e seu caráter probo, com relação aos valores inerentes à honestidade, moralidade e dignidade no trata da coisa pública. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 05 de fevereiro de 2012

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