Parece não existir a menor possibilidade de alguém
poder desacreditar que não são verdadeiros os fatos estarrecedores relatados
pela imprensa sobre os momentos de tortura pelos quais a presidente da
República foi submetida, durante o regime militar. A mídia tem sido extremosa
ao relatá-los em minúcia, marcando com detalhes o sofrimento causado a ela e as
práticas horripilantes empregadas pelos brutamontes da repressão, que
demonstravam todo poder de crueldade própria da ocasião, na concepção do
regime, tendo por finalidade a obtenção de elementos capazes de levar aos
terroristas, os quais, por certo, de forma igualmente cruel, praticavam
barbaridade e desassossego contra o regime vigente e que, direta ou
indiretamente, também atingiu a sociedade inocente e indefesa diante das
atitudes irracionais de um bando de idealistas que objetivava a implantação do
regime comunista no Brasil. Há de se lamentar a maneira incorreta e imparcial
como a imprensa trata esse triste episódio da história do país, por ressaltar,
passo a passo e de forma minuciosa, o tratamento violento dispensado à
mandatária brasileira, dando apenas a entender que ela foi barbaramente
castigada, injustiçada e obrigada às piores torturas como se estivesse
totalmente inocente e imune aos atos terroristas dos quais tem orgulho de
dizer, em claro e bom português, que participara ativamente, conforme
demonstram os fatos confirmados por seus amigos de luta armada. Não deixa de
ser injusto, para a história do país, que os delitos praticados pela presidente
sejam simplesmente omitidos da opinião pública, neste momento tão importante
para possibilitar o resgate da verdade histórica. A forma como os fatos estão
sendo narrados, com a revelação tão somente da parte de quem se julga
prejudicada, como se se tratasse de pessoa coitadinha, despreparada, inocente e
indefesa, que não teria cometido crime algum nem participado de nada ilegal,
certamente conduzirá a um movimento de legítima beatificação e posterior santificação,
como medida de reparação da “injustiça”. Seria mais justo que a história fosse
contada com a desejável transparência do que de fato houve, relatando também de
maneira esmiuçada a participação dos grupos organizados, que lutaram contra a
ditadura, inclusive apontando o que cada um de seus membros fez e, se possível,
os benefícios e os malefícios resultantes para o progresso da nação, com vistas
a possibilitar melhor avaliação sobre o que realmente ocorreu à época, não
deixando quaisquer dúvidas quanto à culpa ou não de quem se considera, hoje, marte
do regime, quando a sua participação na luta armada e reacionária era consciente,
não podendo ignorar as consequências de seus atos, inclusive da possibilidade
de responder a processo militar aos costumes, cujos procedimentos seriam
aplicados de igual modo pelos terroristas, porque o peso da justiça de ambos os
lados não era amenizado quanto aos métodos de violência e de brutalidade. A
sociedade, lamentando a crueldade dos acontecimentos do regime militar, anseia
por que prevaleça a racionalidade sobre o ser humano, sejam contados os fatos
históricos tal como eles aconteceram, nunca mais ninguém participe, no Brasil,
de movimentos terroristas e os ativistas do passado tenham a dignidade de
revelar também seus atos delituosos contra a sociedade e os interesses nacionais. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 17 de junho de 2012
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