domingo, 17 de junho de 2012

A barbárie da inverdade

Parece não existir a menor possibilidade de alguém poder desacreditar que não são verdadeiros os fatos estarrecedores relatados pela imprensa sobre os momentos de tortura pelos quais a presidente da República foi submetida, durante o regime militar. A mídia tem sido extremosa ao relatá-los em minúcia, marcando com detalhes o sofrimento causado a ela e as práticas horripilantes empregadas pelos brutamontes da repressão, que demonstravam todo poder de crueldade própria da ocasião, na concepção do regime, tendo por finalidade a obtenção de elementos capazes de levar aos terroristas, os quais, por certo, de forma igualmente cruel, praticavam barbaridade e desassossego contra o regime vigente e que, direta ou indiretamente, também atingiu a sociedade inocente e indefesa diante das atitudes irracionais de um bando de idealistas que objetivava a implantação do regime comunista no Brasil. Há de se lamentar a maneira incorreta e imparcial como a imprensa trata esse triste episódio da história do país, por ressaltar, passo a passo e de forma minuciosa, o tratamento violento dispensado à mandatária brasileira, dando apenas a entender que ela foi barbaramente castigada, injustiçada e obrigada às piores torturas como se estivesse totalmente inocente e imune aos atos terroristas dos quais tem orgulho de dizer, em claro e bom português, que participara ativamente, conforme demonstram os fatos confirmados por seus amigos de luta armada. Não deixa de ser injusto, para a história do país, que os delitos praticados pela presidente sejam simplesmente omitidos da opinião pública, neste momento tão importante para possibilitar o resgate da verdade histórica. A forma como os fatos estão sendo narrados, com a revelação tão somente da parte de quem se julga prejudicada, como se se tratasse de pessoa coitadinha, despreparada, inocente e indefesa, que não teria cometido crime algum nem participado de nada ilegal, certamente conduzirá a um movimento de legítima beatificação e posterior santificação, como medida de reparação da “injustiça”. Seria mais justo que a história fosse contada com a desejável transparência do que de fato houve, relatando também de maneira esmiuçada a participação dos grupos organizados, que lutaram contra a ditadura, inclusive apontando o que cada um de seus membros fez e, se possível, os benefícios e os malefícios resultantes para o progresso da nação, com vistas a possibilitar melhor avaliação sobre o que realmente ocorreu à época, não deixando quaisquer dúvidas quanto à culpa ou não de quem se considera, hoje, marte do regime, quando a sua participação na luta armada e reacionária era consciente, não podendo ignorar as consequências de seus atos, inclusive da possibilidade de responder a processo militar aos costumes, cujos procedimentos seriam aplicados de igual modo pelos terroristas, porque o peso da justiça de ambos os lados não era amenizado quanto aos métodos de violência e de brutalidade. A sociedade, lamentando a crueldade dos acontecimentos do regime militar, anseia por que prevaleça a racionalidade sobre o ser humano, sejam contados os fatos históricos tal como eles aconteceram, nunca mais ninguém participe, no Brasil, de movimentos terroristas e os ativistas do passado tenham a dignidade de revelar também seus atos delituosos contra a sociedade e os interesses nacionais. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 17 de junho de 2012

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