quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Comprovada depravação?

Os efeitos da Operação Lava Jato da Polícia Federal, que investiga esquema de corrupção nos contratos da Petrobras, já se estenderam para outras obras tocadas pela construtora Mendes Júnior, a exemplo da transposição do Rio São Francisco, cujos funcionários deixaram de receber o pagamento de parte de seus salários.
Por falta de dinheiro, os trabalhos nas obras da região de Salgueiro-PE foram paralisados, pela impossibilidade também da compra de combustível para colocar nos veículos e equipamentos. Diante isso, os funcionários ficaram de braços cruzados, à espera de solução quanto ao pagamento de seus salários.
No âmbito do setor de construção, o entendimento é generalizado no sentido de que a situação não somente da aludida empresa, mas das demais construtoras envolvidas no escândalo de corrupção da Petrobras, vem se agravando e se tornando bastante delicada, com risco até de ter de pedir recuperação judicial, ante a raridade dos repasses de recursos pelo governo às empreiteiras.
          O quadro se configura preocupante, em razão de envolver importantes empreiteiras, a exemplo da Mendes Júnior, que vinha tocando 40 projetos contratados com a administração pública, entre eles se inserem a transposição do Rio São Francisco, o Rodoanel Norte de São Paulo e o Porto de Santana (AP), cuja ruptura dos respectivos contratos afeta diretamente a conclusão das obras em andamento, inclusive com possibilidade da perda de projetos realizados e atrasos na conclusão delas.
Há preocupação no seio das construtoras de que existe enorme risco no sentido de que muitas obras de outras áreas tocadas pelas construtoras envolvidas na Lava Jato sejam atingidas, à vista da escassez de recursos, cujos reflexos nas empresas serão bastante prejudiciais às suas atividades, em consequência da debilidade financeira a dificultar a continuidade do seu funcionamento e até mesmo quanto à rescisão dos contratos dos funcionários, por paralisação de contratos com a administração pública.
Na atualidade, é considerado verdadeiro milagre se encontrar uma construtora contratada pelo governo que não tenha se envolvido em vergonhoso sistema de propinagem, mediante superfaturamento de preços, por exclusiva conveniência de inescrupulosos agentes do Estado e da própria empresa.
Percebe-se, sem dificuldade, que a corrupção contaminou por completo e de forma banalizada as contratações com o governo, que foi aparelhado por pessoas da pior índole moral, imbuídas da mentalidade mórbida de desviar dinheiros dos cofres públicos.
Caso o Brasil fosse um país minimamente sério, não há restaria a menor dúvida de que não somente os empreiteiros, mas os homens públicos envolvidos nos escandalosos e abomináveis casos de corrupção já estariam trancafiados, além de serem condenados com a obrigatoriedade de ressarcir os valores pertinentes aos prejuízos causados ao erário.
É de se lamentar que ainda exista gente que apoia essa forma de governar, em completa falta de zelo e de cuidados para com o patrimônio nacional, que vem sendo dilapidado por desgoverno repleto de incompetência e de irregularidades com recursos públicos.
Os brasileiros devem se conscientizar sobre a urgente mobilização para condenar e censurar não somente os maus governantes, que têm sido lenientes com a roubalheira, como também as quadrilhas que se envolveram nessa pouca-vergonha, que não têm o mínimo de dignidade diante dos cofres públicos.
Se o governo tivesse um mínimo de responsabilidade, já teria, há muito tempo, determinada ampla e abrangente auditoria nas contas nacionais, com vistas a verificar o tamanho do rombo e dos danos causados ao patrimônio do Estado e responsabilizar todos os envolvidos, que ficariam obrigados ao ressarcimento dos danos apurados, como forma de se promover a necessária moralização do país.
Não adianta ficar dizendo, de forma reiterada e inconsequente, que se apura e se pune, sem haver um ato sequer de efetividade do que se fala, como se os brasileiros fossem um bando de pessoas imbecis sem limites que não tivessem sensibilidade e conscientização sobre o que realmente acontece no país, que somente o governo insiste em não entender a gravidade da situação pela qual a nação foi direcionada, sem a menor perspectiva de solução para os graves problemas, ante a incompetência e a inépcia como os casos estão sendo tratados, sem a menor demonstração de atitudes práticas e efetivas com vistas à sua solução.
Em termos de fidelidade aos princípios da ética, moralidade, dignidade e honestidade, à luz das investigações da Operação Lava Jata, é correto se afirmar que, ao final das apurações, não vai restar uma única construtora capaz de atender esses importantes requisitos de seriedade com relação à contratação de obras públicas, ante a constatação da comprovada depravação dos conceitos de honorabilidade com que as atuais construtoras conseguiram incutir de forma sistemática na conceituação de obras públicas.
Enquanto o caos da administração do país perdurar com absoluta inépcia, é indiscutível que as obras públicas simplesmente vão sofrer solução de continuidade e até mesmo paralisação, com graves reflexos no seu andamento e na sua conclusão  e enormes prejuízos para os brasileiros, que vão continuar sem a prestação dos serviços públicos da incumbência do Estado, que são essenciais à melhoria das suas condições de vida. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 04 de fevereiro de 2015

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