quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Extrema emoção

Exatamente depois de quarenta anos, voltei ao local onde, em 11 de dezembro de 1974, conclui um dos principais cursos de minha bem sucedida carreira na vida pública (olha a falta de modéstia), como servidor que começou a carreira ainda nos idos de 1º de julho de 1966, quando ingressei, na graduação de soldado, na Força Aérea Brasileira, e labutou por quase 45 anos de efetivos serviços prestados ao povo brasileiro.
Foi precisamente naquela data que me formei no importante curso de Sargento Escrevente, na Escola de Especialistas da Aeronáutica, tendo sido promovido à graduação de 3º Sargento.
Trata-se de curso que exige muito empenho e bastante dedicação por parte dos alunos, que são obrigados a se esmerar ao máximo, sob pena de ser reprovado por insuficiência de aprendizagem, ou seja, por não conseguir acompanhar o padrão modelar de qualidade do ensino especializado da daquela Escola.
A minha visita à “Universidade de Pedregulho” precedeu de muita ansiedade, que contava com a imaginação de passar pelos inesquecíveis locais que fizeram parte de meus dois anos de intensas atividades de estudos, em especial os alojamentos, o Galpão, a Capela, o Cinema, o Cassino dos Alunos, o Rancho, o Reembolsável (mercadinho), as salas e galpões das aulas do Básico e outros locais normalmente frequentados pelos alunos.
O primeiro contato, evidentemente, ocorreu logo na entrada da EEAer, que teve o poder de impulsionar o sentimento da emoção primária da lembrança dos primeiros contatos com o local. Logo depois, deparei-me com o saudoso Rancho, onde eram servidas saborosas, nutritivas e fartas refeições, que contribuíam positivamente para estimular o interesse pela aprendizagem. Em seguida, passei no meu primeiro alojamento, denominado “Favelinha”, por ser isolado dos alojamentos considerados “nobres”. Ali, ”matei” saudade de bons tempos de muito aconchego e de agradáveis e sinceras amizades de companheiros que tinham o mesmo propósito de ser bem sucedidos nos estudos e na carreira militar.
Tudo isso era apenas a fase preparatória para a mais importante e ansiada visita que iria acontecer em sequência, precisamente no Galpão mais nobre - evidentemente para mim - da “Universidade de Pedregulho”, onde ainda são formados os profissionais responsáveis pelos registros das histórias das pessoas e das organizações militares. Daí a sua importância para a Força Aérea Brasileira.  
Ao chegar ali, confesso que não reconheci absolutamente nada quanto às dependências, à vista do longo tempo transcorrido e da transformação promovida nas salas de aula, que agora são equipadas com modernos computadores, em substituição às ultrapassadas máquinas de escrever da marca Remington, que, apesar de antiquadas, contribuíram para a formação de excelentes escreventes, sendo que um dos quais, certamente graças aos ensinamentos hauridos naquele inesquecível galpão, transformou-se escritor de verdade, que agora acaba de concluir seu 13º livro de crônicas, que eram o estilo que marcaram, de forma indelével, a história dos alunos da turma de Escreventes da época, uma vez que o saudoso prof. Macário, catedrático e apaixonado pelo vernáculo pátrio, tinha o hábito de exigir leituras de bons cronistas, entre os quais era destaque o famoso e respeitado Rubens Braga, entre tantos que ofereceram importantes enriquecimentos ao nosso cabedal literário.
A propósito, ressalte-se que o prof. Macário, com certeza, prestou importante contribuição à formação dos alunos Escreventes, cuja dedicação às causas literária e cultural foi reconhecida, com inteira justiça, por meio da homenagem prestada pela Escola ao dar o seu nome à Biblioteca daquele educandário.
Ainda na visita ao mais nobre galpão – evidentemente sem desmerecer os demais -, ocorreu-me intensa emoção, a ponto de não consegui expressar meus sentimentos por longo tempo, pois as recordações dominaram por completo meu raciocínio, que foi tomado pela onda de choro que demorou a passar. Jamais imaginei que iria me deparar com situação tão inusitada, que marcou sobremaneira o meu retorno a local tão cheio de boas recordações e de bons sentimentos, que marcaram minha vida.
A minha felicidade se completou com a entrega, no galpão, da coleção de meus dez livros até então publicados, ficando, na dedicatória do Tomo I, o desejo de que eles fossem apresentados aos alunos Escreventes, como forma de incentivá-los ao gosto pela leitura e, porque não, ao interesse para escrever livros.
Espero piamente que meu exemplo de dedicação aos estudos e ao aprendizado contribua para o surgimento de novos escritores, com origem naquela importante “faculdade” que me ensinou preciosas lições de português e mostrou os melhores caminhos para o meu encorajamento à incursão ao mundo da literatura.
Aproveito o ensejo para reafirmar a minha eterna gratidão à Escola de Especialista da Aeronáutica, pela sólida formação moral, profissional e intelectual, que contribuiu, de forma significativa, para que os obstáculos da jornada da vida fossem reduzidos e/ou ultrapassados com menor dificuldade.
  
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 11 de fevereiro de 2015

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