quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Governo de continuidade e de mudanças?

Na primeira reunião do segundo mandato com seus ministros, a presidente da República pôs em destaque seu propósito de garantir que não haverá comprometimento do crescimento econômico e da geração de emprego em detrimento dos ajustes das contas públicas no país, que, no caso, não passaram de aumento de imposto, elevação das taxas de juros, redução de direitos dos empregados na área previdenciária, majoração das tarifas de energia etc., sem redução dos gastos públicos, que continuam liberados.
Ela pediu aos ministros que "Façam o possível" para a consecução das metas de ajustes sem sacrificar o desenvolvimento econômico, tendo determinado aos ministros, com bastante ênfase, que passem a desmentir opositores que acusarem o governo sobre o planejamento de medidas que coloquem em risco direitos trabalhistas, como se a minirreforma da previdência não tivesse tirado parte desses direitos.
A petista ressaltou as ações do governo na segurança pública, nas concessões em mobilidade urbana e na ajuda a estados com crise hídrica, exigindo dos ministros que argumentem com vigor a tais críticas nessas áreas, mostrando dados de investimentos nesses programas. 
A presidente deixou claro que “Devemos enfrentar o desconhecimento e a desinformação. Reajam aos boatos. Travem a batalha da comunicação. Se façam entender, não podemos deixar dúvidas (...). Os Direitos trabalhistas são intocáveis.”. Todavia, eles foram mexidos pelo governo, com a nova regulamentação sobre as pensões previdenciárias e estatutárias.
No discurso, a petista foi enfática ao dizer que "As mudanças anunciadas darão ao nosso projeto mais consistência e mais velocidade, consolidarão e ampliarão um projeto vitorioso nas urnas em quatro eleições consecutivas. São medidas para transformar o Brasil. Queremos um país próspero, cada vez menos desigual, e fazer todo o possível para fortalecer e desenvolver o crescimento econômico, a distribuição de renda e a evolução social. Este é o nosso compromisso: fazer as mudanças necessárias para, juntos, termos um governo ao mesmo tempo de continuidade e de mudanças. Vamos mostrar a cada cidadão ou cidadã que não alteramos em um só milímetro o projeto de desenvolvimentos que aplicamos desde 2003, um projeto de crescimento com distribuição de renda".
A presidente ressaltou mais de uma vez, fazendo eco a tantos outros semelhantes feitos desde o início da campanha eleitoral, que a reelegeu no ano passado, que "Nosso povo votou em nós porque acredita na nossa capacidade, na nossa honestidade com propósitos.".
Nesse ponto, a petista comete grave equívoco, porque é mais do que notório de que o pouco mais da maioria dos votantes – muitos dos quais desinformados sobre o desgoverno - não significa o voto do “Nosso povo”, i.e., dos brasileiros, porque a expressiva minoria dos votantes não acredita na capacidade dela nem na sua “honestidade com propósitos”, visto que a condução das políticas públicas, principalmente econômicas, e a falta de medidas contra a corrupção são insuficientes para a garantia da governança do país, que se distancia em muito do que nação com a pujança do Brasil precisa para a sua administração com eficiência e competência.
A mandatária do país detalhou algumas das medidas anunciadas pela equipe econômica até o momento, como as de ajuste fiscal, que mudaram parte das regras previdenciárias, as quais foram bastante criticadas por sindicalistas que a apoiam.
No discurso, a presidente não apresentou senão desculpas fajutas, procurando jogar a culpa pelo insucesso do seu governo às crises econômicas internacionais, ressaltando que o Brasil sofreu na área devido à desaceleração econômica mundial, à queda expressiva de preços das commodities (como soja e minério de ferro), além da valorização do dólar, da seca histórica que atingiu parte do país e do aumento do preço da energia, mas jamais admitiu a desastrosa condução das políticas públicas por seus inexperientes e incapacitados ministros, recrutados mediante o espírito do execrável fisiologismo ideológico, altamente prejudicais aos interesses nacionais.
Ela se mostrou otimista, explicando que compete ao governo adotar as medidas capazes de recuperar o crescimento o mais rápido possível, com a garantia da geração de empregos e do controle inflacionário, sem a menção de qualquer projeto com essa finalidade.
Quanto à crise na Petrobras, objeto de investigações pela Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal sobre caixa dois e corrupção, a presidente defendeu a criação de mecanismos que evitem que os problemas voltem a acontecer, dizendo que "Temos de continuar acreditando na mais brasileira das empresas. Devemos punir as pessoas e defender a empresa. Punir a corrupção não pode significar punir as empresas".
Trata-se de mais uma reunião da presidente da República com seus ministros, com o nítido propósito de mostrar à nação que a administração do país continua absolutamente acéfala, sem qualquer iniciativa de projetos para solucionar a séria crise que atormenta com gravidade os setores fundamentais da economia e da prestação dos serviços públicos, pela afetação dos mecanismos que contribuem para a geração de investimentos.
Na verdade, a presidente estava muito mais preocupada em mostrar aos ministros que defendam, a qualquer custo, a incapacidade de o governo reagir às graves crises nos setores hídrico, elétrico, econômico, da prestação de serviços públicos de qualidade e principalmente de moralidade, conquanto ela vislumbrasse tão somente a premente necessidade de refutar as críticas dos opositores sobre as precariedades do governo, sem indicar uma única medida de contenção dos gastos públicos, de redução da carga tributária, da diminuição das taxas de juros, de controle das dívidas públicas e de quaisquer iniciativas capazes de contribuir para controlar a inflação e favorecer a volta dos investimentos públicos e privados.
O certo é que os investimentos se encontram sumidos, principalmente por parte dos empresários, que perderam a credibilidade nas ações e metas do governo, que cada vez mais demonstra incapacidade para conter os gastos públicos e agir com efetividade para punir os corruptos que dilapidaram o patrimônio da Petrobras, embora ela, como verdadeira cigarra, continua repetindo a alegação sobre a necessidade de punição aos corrutos, mas os políticos acusados de assaltarem os cofres da estatal, nas pessoas de integrantes do PT, PMDB e PP, conforme denúncias do ex-diretor de Abastecimentos da empresa, permanecem impunes, intocáveis, mas, ao contrário, sendo aplaudidos em reuniões do partido do governo.
Compete à sociedade, no âmbito do seu dever patriótico e da sua responsabilidade cívica, se conscientizar, com a máxima urgência, sobre a necessidade de se exigir das forças políticas e representativas da nação atitudes enérgicas do governo, no sentido de que as graves crises hídrica, energética, da precária prestação dos serviços públicos, econômica e de moralidade sejam atacadas com competência e efetividade, de modo que o cerne das questões seja objeto de discussão com as mentes pensantes e capazes de oferecer subsídios para extirpá-las imediatamente, com embargo dos projetos políticos que têm a finalidade tão somente da perenidade da classe dominante no poder, que vem contribuído, de forma efetiva, para prejudicar os verdadeiros interesses nacionais. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 26 de fevereiro de 2015

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