quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Condescendência com a indignidade

Segundo importante blogueiro com sede no site IG, o novo presidente da Câmara dos Deputados, denominado por ele como o mais novo nobre da República, teria merecido os melhores mimos por parte da mídia, a par de ter sido conivente com o lado pouco difundido sobre o político carioca.
Na opinião desse jornalista, a eleição do presidente da Câmara teve a maciça condescendência dos grandes grupos da mídia, permitindo a consolidação do caos da ordem sociopolítica, que teria sido possível porque os “jornalões e as emissoras de TV e rádio esconderam de seus espectadores as seguintes informações: 1. No STF (Supremo Tribunal Federal), pelo menos vinte e dois processos têm Eduardo Cunha como parte. 2. Dentre esses processos, há três inquéritos (2123, 2984 e 3056) para apurar possíveis crimes cometidos por Cunha quando presidente da Companhia de Habitação do Estado do Rio de Janeiro (CEHAB-RJ) entre 1999 e 2000. 3. Cunha tornou-se sócio do deputado Federal Francisco Silva (PRN), da bancada evangélica na rádio Melodia. Juntos foram acusados de participação no escândalo das notas fiscais falsas para sonegação de ICMS por parte da Refinaria de Manguinhos. 4. O inquérito 2984 apura uso de documentos falsificados, inseridos em processo do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro, para conseguir o arquivamento de inquérito aberto contra Cunha. O ex-subprocurador-geral Elio Gitelman Fischberg, que participou da falsificação, perdeu o cargo e foi condenado 3 anos e 11 meses de prisão. O STF autorizou abertura de processo contra Cunha, que corre em segredo de Justiça. 5. O primeiro inquérito contra Cunha ocorreu no bojo das ações contra PC Farias. Cunha era o braço de PC na Telerj. 6. Em 2000, um ano antes de assumir mandato como deputado estadual pelo Rio de Janeiro, Cunha teve seu nome envolvido problemas com o fisco. A Receita Federal detectou incompatibilidade entre a movimentação financeira do deputado e o montante declarado ao Imposto de Renda. 7. Foi acusado de ligações com o doleiro Lúcio Funaro, investigado pela CPI dos Correios. Segundo reportagem da revista Época, Funaro pagava o aluguel do deputado em um luxuoso flat em Brasília. 8. No mesmo ano, época em que ocupava o cargo de vice-presidente da CPI do Apagão Aéreo, Cunha foi acusado pela deputada estadual Cidinha Campos (PDT-RJ) de realizar operações com o traficante colombiano Juan Carlos Ramírez Abadía. Em discurso na Assembleia do Rio, a parlamentar acusou o deputado federal de vender uma casa em Angra dos Reis por US$ 800 mil e, pouco tempo depois, comprar de volta por US$ 700 mil. 9. Em 2011, Cunha foi alvo de investigações da Controladoria-Geral da União (CGU), que apontou que Furnas, estatal do setor elétrico, cobriu prejuízos causados pela participação da Companhia Energética Serra da Carioca II (empresa ligada a Cunha) na sociedade montada para construir a Usina Hidrelétrica da Serra do Facão, em Goiás. Na época, Furnas tinha vários quadros da direção da empresa em mãos de pessoas ligadas ao próprio Eduardo Cunha. Os prejuízos da estatal ultrapassaram os R$ 100 milhões.”.
Num país minimamente sério, diante de ficha tão carregada de sujeira como essa, à luz da moralidade e da legalidade, o nobre parlamentar teria condições de se candidatar a poucos cargos na iniciativa privada, onde se exige a apresentação de ficha corrida para se aquilatar a vida pregressa do interessado, ou seja, exigem-se referências sobre boa conduta do cidadão e comprovação, em princípio, da sua dignidade e honestidade perante a sociedade.
No caso do presidente da Câmara dos Deputados, há forte evidência, conforme mostram os fatos acima aludidos, de que sua excelência atingiu patamares elevados na política com o emprego de práticas espúrias, inescrupulosas, nada recomendáveis para as pessoas de caráter ilibado, ante a pletora coleção de processos que ele respondeu ou responde na Justiça, contendo acusações gravíssimas sobre o cometimento de atos infracionais nada compatíveis com as relevantes funções e atribuições de representante do povo, que exige, no mínimo, quitação com a Justiça do país.
Agora, no pior das hipóteses, parece absolutamente inadmissível que os parlamentares não demonstrem o menor pudor para eleger esse deputado com o histórico bastante desabonador e malévolo ao interesse público, dando a entender com clareza que as questões que afetam a ética, a moralidade e o decoro não têm a menor importância ou nenhum reflexo na condução da respeitável instituição da República, que tem o dever constitucional e legal de dar bons exemplos aos demais parlamentos estaduais.
Não há dúvida de que a eleição desse deputado mostra que o país ainda terá enormes dificuldades para, ao menos, pretender a sua moralização, ante o terrível e crônico processo de descrédito, resultante dos endêmicos e sistemáticos casos de corrupção envolvendo parlamentares, a exemplo dos escândalos que implodiram a tão conceituada Petrobras, cujos protagonistas integram partidos da base de sustentação do governo no Congresso, conforme depoimentos prestados à Justiça Federal pelo ex-diretor de Abastecimentos da estatal, que teria citado o PT, PMDB e PP e alguns congressistas como beneficiários das falcatruas denunciadas.
A desmoralização das instituições está tão banalizada que, mesmo que houvesse estardalhaço, por parte da mídia, sobre as participações trapalhadas e deletérias do novo presidente da Câmara noticiando o envolvimento do deputado em irregularidades graves, não seria capaz de demover a arraigada indolência dos parlamentares, que não estão nem aí para mudar seu desempenho nada responsável, a exemplo de seus votos não somente no candidato à presidência da Câmara, mas também do Senado Federal, cujos eleitos estão com processos na Justiça, por corrupção.
É evidente que a culpa originária deve ser atribuída ao povo que ainda vota e elege cidadãos com histórico que, à toda evidência, não teria condições de representar com dignidade a sociedade.
Compete à sociedade, por força da sua consciência cívica, se mobilizar, com urgência, para evitar que homens públicos, envolvidos em irregularidades com recursos públicos, sejam eliminados, in limine, da vida pública, como forma imprescindível de moralização das atividades político-administrativas do país, que padece, de forma extremamente prejudicial ao interesse público, cada vez que políticos desavergonhados e ímprobos são eleitos para o exercício de cargos públicos eletivos, que deveriam ser ocupados exclusivamente por cidadãos com comprovada dignidade e honestidade. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 03 de fevereiro de 2015

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