domingo, 1 de fevereiro de 2015

As sujeiras encasteladas

Os quatro executivos da construtora OAS, presos em razão da Operação Lava-Jato, decidiram que podem denunciar os tubarões do poder, em face das rejeições de seus pedidos de habeas corpus, em demonstração de que a Justiça se manteve implacável ao negar, de forma sistemática, os pedidos de liberdade dos empresários, dando a impressão de que ela não concorda com as tentativas de desqualificar as investigações realizadas sobre as irregularidades constatadas na Petrobras.
O certo é que a possibilidade real de se manterem os empresários presos por longo período levou-os ao diagnóstico desesperador, no sentido de trazer para junto deles aqueles que usufruíram dos resultados dos crimes pelos quais eles poderão ser condenados, só que sozinhos se não delatar os corruptos passivos, ou seja, o momento para a indicação parece propício para se atrair para o cenário do crime as pessoas que figuram no topo do comando das irregularidades. Veja-se que um dos réus por corrupção, que se encontra encarcerado, diante do desespero e no momento de exaltação, declarou que: “Se tiver de morrer aqui dentro, não morro sozinho”.
As empreiteiras têm condições de comprovar os elementos que incriminam também os comandantes dos esquemas de desvios de recursos públicos, que beneficiaram gentes importantes e isso pode se tornar valioso atenuante para amenizar o peso da culpa pela acusação sobre as fraudes aos cofres da Petrobras.
A estratégia de revelação dos nomes dos envolvidos do governo pode ser utilizada por todas as empresas envolvidas no escândalo da Petrobras, como recurso válido se não para a salvação dos executivos, mas para mostrar que a culpa não deve ser atribuída somente a eles, enquanto os verdadeiros interessados desfilam impunes e longe das garras da Justiça.
Convém que os verdadeiros líderes do esquema sejam identificados e denunciados, bem assim reveladas as provas contra eles, mostrando os beneficiados, os mentores da perniciosa engrenagem que tinha o escopo de desviar recursos da estatal para as causas de políticos da base de sustentação do governo, com vistas ao custeio de campanhas eleitorais dos candidatos governistas. O presidente da OAS, em tom de desabafo, afirmou: “Vocês acham que eu ia atrás desses caras (os políticos) para oferecer grana a eles?”. Esse empresário era amigo do ex-presidente da República petista, evidentemente, nos tempos da bonança, mas ele descobriu, somente por trás das grades, que as amizades nascidas dentro do poder valem pouco para quem se encontra preso.
O presidente da OAS reclamou que o petista lhe virou as costas, tornando-se totalmente indiferente, quando imaginava que ele poderia esboçar algum esforço para neutralizar os riscos da condenação e salvar os contratos da sua empresa. Diante dessa mágoa, suscitou a possibilidade da decisão de que “se houver acordo com a Justiça, o delator será Ricardo Breghirolli, encarregado de fazer os pagamentos de propina a partidos e políticos corruptos.”.
Na verdade, as empreiteiras têm absoluta consciência que novas delações somente serão admitidas se houver revelação de fatos novos ou o envolvimento de pessoas importantes que ainda se mantêm no anonimato e distante das apurações e, nesse caso, seriam alvos em potencial, no topo da cadeia de comando, segundo afirmações reservadas, o ex-presidente da República e a atual presidente petistas.
Não obstante, o simples fato de haver insinuação de que os empreiteiros podem denunciar os poderosos da República, caso eles fiquem mofando na prisão, já sinaliza, para o bom entendedor, que eles têm elementos suficientes para incomodar e complicar a vida de muita gente graúda que se envolveu no recebimento de recursos dos contratos superfaturados da Petrobras.
Não há a menor dúvida de que morrer sem a companhia dos “fiéis” amigos é triste demais e não vale a pena ter lutado tanto para fim tão melancólico. É muito importante que o cenário da morte aconteça em ambiente reconfortante e que ela possa ocorrer estando as vítimas de mãos dadas com quem teve o privilégio de partilhar dos bons momentos da vida, como no caso em comento, em que reinava completa felicidade entre os companheiros participantes da jornada que beneficiava poucos com a dinheirama dos contribuintes.
Naquela ocasião, reinavam amizade e consideração, que logo fugiram a partir do momento que as falcatruas foram descobertas e passaram a ser apuradas, mostrando os caminhos por onde passavam as sujeiras e as imundícies consolidadas com as espúrias e inescrupulosas contratações de conveniências, para o beneficiamento do sistema pernicioso da República, onde existiam os esquemas mantenedores dos financiamentos das gastanças descontroladas do poder.
É induvidoso que os envolvidos nas benesses se mostravam felizes com a abundância das verbas públicas aplicadas em obras superfaturadas, mas nem sempre prioritárias para o interesse senão da alimentação dos cofres da corrupção, com fartas e garantidas contratações para as mesmas empresas amigas e próximas do poder, porém os frutos delas, por óbvio, nem sempre correspondiam aos reais benefícios para a sociedade, ante os desvios de parte substancial dos valores envolvidos, que tinham destinação para financiamentos de campanhas e outras serventias menos dignas, como forma de garantir a escusa perenidade no poder por meios ilícitos da distribuição dos sobrepreços inseridos nos contratos administrativos.
Em que pese se tratar de governo que se diz de sensibilidade ultrassocialista, os monstruosos casos de irregularidades e de corrupções não justificam, à luz do bom senso e da legitimidade, a preferência por programas assistencialistas, como o mais famoso deles, o Bolsa Família, que assiste mais de 56 milhões de beneficiários, em reconhecida preocupação por parte do governo, mas bastante insuficiente para justificar os desvios de recursos públicos das obras essenciais à melhoria das condições de vida da população igualmente carente.
Na verdade, as famílias consideradas pobres poderiam se beneficiar, em melhores condições de dignidade caso os dinheiros públicos fossem aplicados com efetividade, economicidade e legalidade, sem nenhuma fraude para beneficiar aqueles que garantem o pagamento dos programas assistencialistas, muitos dos quais com viés eleitoreiro, em decorrência do aproveitamento da ingenuidade e da desinformação dos brasileiros que infelizmente se satisfazem com as migalhas do governo.
Sob a concepção da responsabilidade e da competência administrativa, os recursos públicos, reservados para fins de assistência social, somente deveriam ser aplicados em programas capazes de gerar empregos e de dignificar os brasileiros, que poderiam produzir e ainda contribuir para a previdência social, a aposentadoria e o desenvolvimento do país.
Caso os empresários presos tenham a dignidade e o altruísmo de denunciar os tubarões do poder, não somente há benefícios para a consciência moral deles, que podem se livrar do insuportável peso que estão carregando, por força da ingratidão daqueles se aproveitaram das bonanças das verbas abundantes, mas enorme contribuição para ajudar no princípio do tão sonhado momento de moralização da administração do país, que não merece continuar compartilhando com as roubalheiras encasteladas no âmago da administração pública. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 31 de janeiro de 2015

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