Os quatro executivos da construtora OAS, presos em
razão da Operação Lava-Jato, decidiram que podem denunciar os tubarões do poder,
em face das rejeições de seus pedidos de habeas corpus, em demonstração de que
a Justiça se manteve implacável ao negar, de forma sistemática, os pedidos de
liberdade dos empresários, dando a impressão de que ela não concorda com as tentativas
de desqualificar as investigações realizadas sobre as irregularidades
constatadas na Petrobras.
O certo é que a possibilidade real de se manterem os
empresários presos por longo período levou-os ao diagnóstico desesperador, no
sentido de trazer para junto deles aqueles que usufruíram dos resultados dos
crimes pelos quais eles poderão ser condenados, só que sozinhos se não delatar
os corruptos passivos, ou seja, o momento para a indicação parece propício para
se atrair para o cenário do crime as pessoas que figuram no topo do comando das
irregularidades. Veja-se que um dos réus por corrupção, que se encontra
encarcerado, diante do desespero e no momento de exaltação, declarou que: “Se tiver de morrer aqui dentro, não morro
sozinho”.
As empreiteiras têm condições de comprovar os elementos
que incriminam também os comandantes dos esquemas de desvios de recursos
públicos, que beneficiaram gentes importantes e isso pode se tornar valioso atenuante
para amenizar o peso da culpa pela acusação sobre as fraudes aos cofres da
Petrobras.
A estratégia de revelação dos nomes dos envolvidos
do governo pode ser utilizada por todas as empresas envolvidas no escândalo da
Petrobras, como recurso válido se não para a salvação dos executivos, mas para
mostrar que a culpa não deve ser atribuída somente a eles, enquanto os
verdadeiros interessados desfilam impunes e longe das garras da Justiça.
Convém que os verdadeiros líderes do esquema sejam
identificados e denunciados, bem assim reveladas as provas contra eles,
mostrando os beneficiados, os mentores da perniciosa engrenagem que tinha o
escopo de desviar recursos da estatal para as causas de políticos da base de
sustentação do governo, com vistas ao custeio de campanhas eleitorais dos
candidatos governistas. O presidente da OAS, em tom de desabafo, afirmou: “Vocês acham que eu ia atrás desses caras (os
políticos) para oferecer grana a eles?”.
Esse empresário era amigo do ex-presidente da República petista, evidentemente,
nos tempos da bonança, mas ele descobriu, somente por trás das grades, que as
amizades nascidas dentro do poder valem pouco para quem se encontra preso.
O presidente da OAS reclamou que o petista lhe
virou as costas, tornando-se totalmente indiferente, quando imaginava que ele
poderia esboçar algum esforço para neutralizar os riscos da condenação e salvar
os contratos da sua empresa. Diante dessa mágoa, suscitou a possibilidade da decisão
de que “se houver acordo com a Justiça, o
delator será Ricardo Breghirolli, encarregado de fazer os pagamentos de propina
a partidos e políticos corruptos.”.
Na verdade, as empreiteiras têm absoluta consciência
que novas delações somente serão admitidas se houver revelação de fatos novos
ou o envolvimento de pessoas importantes que ainda se mantêm no anonimato e
distante das apurações e, nesse caso, seriam alvos em potencial, no topo da
cadeia de comando, segundo afirmações reservadas, o ex-presidente da República
e a atual presidente petistas.
Não obstante, o simples fato de haver insinuação de
que os empreiteiros podem denunciar os poderosos da República, caso eles fiquem
mofando na prisão, já sinaliza, para o bom entendedor, que eles têm elementos suficientes
para incomodar e complicar a vida de muita gente graúda que se envolveu no
recebimento de recursos dos contratos superfaturados da Petrobras.
Não
há a menor dúvida de que morrer sem a companhia dos “fiéis” amigos é triste
demais e não vale a pena ter lutado tanto para fim tão melancólico. É muito
importante que o cenário da morte aconteça em ambiente reconfortante e que ela
possa ocorrer estando as vítimas de mãos dadas com quem teve o privilégio de partilhar
dos bons momentos da vida, como no caso em comento, em que reinava completa felicidade
entre os companheiros participantes da jornada que beneficiava poucos com a
dinheirama dos contribuintes.
Naquela
ocasião, reinavam amizade e consideração, que logo fugiram a partir do momento
que as falcatruas foram descobertas e passaram a ser apuradas, mostrando os
caminhos por onde passavam as sujeiras e as imundícies consolidadas com as
espúrias e inescrupulosas contratações de conveniências, para o beneficiamento
do sistema pernicioso da República, onde existiam os esquemas mantenedores dos
financiamentos das gastanças descontroladas do poder.
É
induvidoso que os envolvidos nas benesses se mostravam felizes com a abundância
das verbas públicas aplicadas em obras superfaturadas, mas nem sempre
prioritárias para o interesse senão da alimentação dos cofres da corrupção, com
fartas e garantidas contratações para as mesmas empresas amigas e próximas do
poder, porém os frutos delas, por óbvio, nem sempre correspondiam aos reais
benefícios para a sociedade, ante os desvios de parte substancial dos valores
envolvidos, que tinham destinação para financiamentos de campanhas e outras
serventias menos dignas, como forma de garantir a escusa perenidade no poder
por meios ilícitos da distribuição dos sobrepreços inseridos nos contratos
administrativos.
Em
que pese se tratar de governo que se diz de sensibilidade ultrassocialista, os
monstruosos casos de irregularidades e de corrupções não justificam, à luz do
bom senso e da legitimidade, a preferência por programas assistencialistas,
como o mais famoso deles, o Bolsa Família, que assiste mais de 56 milhões de
beneficiários, em reconhecida preocupação por parte do governo, mas bastante
insuficiente para justificar os desvios de recursos públicos das obras
essenciais à melhoria das condições de vida da população igualmente carente.
Na
verdade, as famílias consideradas pobres poderiam se beneficiar, em melhores
condições de dignidade caso os dinheiros públicos fossem aplicados com
efetividade, economicidade e legalidade, sem nenhuma fraude para beneficiar
aqueles que garantem o pagamento dos programas assistencialistas, muitos dos
quais com viés eleitoreiro, em decorrência do aproveitamento da ingenuidade e da
desinformação dos brasileiros que infelizmente se satisfazem com as migalhas do
governo.
Sob
a concepção da responsabilidade e da competência administrativa, os recursos públicos,
reservados para fins de assistência social, somente deveriam ser aplicados em
programas capazes de gerar empregos e de dignificar os brasileiros, que poderiam
produzir e ainda contribuir para a previdência social, a aposentadoria e o
desenvolvimento do país.
Caso
os empresários presos tenham a dignidade e o altruísmo de denunciar os tubarões
do poder, não somente há benefícios para a consciência moral deles, que podem
se livrar do insuportável peso que estão carregando, por força da ingratidão
daqueles se aproveitaram das bonanças das verbas abundantes, mas enorme
contribuição para ajudar no princípio do tão sonhado momento de moralização da
administração do país, que não merece continuar compartilhando com as roubalheiras
encasteladas no âmago da administração pública. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 31 de janeiro de 2015
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