sábado, 7 de fevereiro de 2015

Vergonha para o Brasil?

Ao ensejo da substituição do presidente da Petrobras, a presidente da República saiu em defesa da estatal do petróleo, ao afirmar que o país precisa ter "orgulho" da petroleira.
Ela ressaltou que "Estou dizendo que temos de ter orgulho da Petrobras. Nós não podemos aceitar que alguns tentem colocar a Petrobras como sendo uma vergonha para o Brasil. Eu tenho certeza que temos de saber apurar e saber punir, porque é fundamental que a gente não deixe se repetir nenhuma irregularidade na Petrobras".
Conforme as revelações dos depoimentos das pessoas envolvidas com as irregularidades que estão sendo apuradas pela Operação Lava Jato da Polícia Federal, pelo Ministério Público e pela Justiça Federal, o esquema delituoso destinado ao desvio de dinheiro da estatal, fica bastante claro que a quadrilha que atuava dentro da empresa era integrada pelos partidos PT, PMDB e PP, integrantes da base de sustentação do governo, cuja organização criminosa também era composta por empreiteiras, que funcionavam sob a forma de clube “mafioso”, em harmonia para sugar dinheiro sujo da estatal.
O que se sabe é que as empreiteiras foram aceitas sob a condição de se submeterem às regras da quadrilha para turbinar os contratos firmados com a Petrobras com preços superfaturados, cujos valores eram repassados para os operadores dos mencionados partidos, que eram nomeados por indicação de seus caciques, em consonância com o sistema espúrio do fisiologismo ideológico que funciona com bastante eficiência no governo, em troca de apoio político.
A presidente comete grave pecado de não declinar os nomes dos “alguns” que tentam depreciar a importância da Petrobras para o Brasil, quando, na realidade, não é a estatal que é a vergonha do país, mas sim os maus homens públicos, que constituíram quadrilha para roubar dinheiro da estatal, e o governo que não teve capacidade para evitar que o patrimônio dela fosse dilapidado e barbaramente diminuído, por força das fraudes criminosas por agentes participantes da base de sustentação do governo, segundo afirmam os depoimentos à Justiça Federal, constantes das delações premiadas do ex-diretor de Abastecimentos da estatal e do doleiro, que se encontram presos.
Os fatos são incontestáveis, porque eles estão sendo confirmados pelos executivos das empreiteiras, que atestam que suas empresas somente seriam contratadas se constasse nos ajustes a obrigatoriedade do repasse de até 3% do valor acertado, evidentemente sob a forma de sobrepreço, cujo montante se destinava aos aludidos partidos.
É lamentável que a presidente não aceite a realidade dos fatos ou ao menos o direito à suspeita da dúvida, à luz dos depoimentos convergentes prestados à Justiça Federal das pessoas envolvidas no affaire, quanto às declarações e afirmações uniformes sobre a participação da quadrilha formada por integrantes da base de sustentação do governo nas transações ilegítimas.
No que refere à participação do tesoureiro do PT nas falcatruas, os fatos conspiram robustamente para a incriminação dele nas espúrias doações milionárias ao partido governista, mas, ao contrário de punição ou, ao menos, o afastamento dele até a conclusão das apurações, ele foi objeto de defesa em repúdio às acusações de envolvido com os escândalos na Petrobras e de apupos em convenção do partido, tendo sido aplaudido por várias vezes, naturalmente por ter se tornado o mais novo herói petista, a exemplo do já ocorrido com os mensaleiros, que são considerados homens notáveis no âmbito do partido, que não aceita sequer se insinuar que seus integrantes possam cometer irregularidade com recursos públicos, embora as investigações e os fatos não deixem margem de dúvida quanto à culpabilidade deles nas irregularidades em apuração.
Causa perplexidade a forma insinuosa como a presidente do país procura dissimular a gravidade dos crimes cometidos no seu governo contra a administração pública, sempre não aceitando os fatos revelados e ainda tentando transferi-los, sem o menor fundamento, para outrem, evidenciando falta de senso de responsabilidade para com a coisa pública, como se os brasileiros fossem um bando de imbecis que não têm discernimento para perceber a seriedade das investigações promovidas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público e pela Justiça Federal, que não deixam a menor dúvida sobre a monstruosa dilapidação do patrimônio da Petrobras por pessoas ligadas à base de sustentação do governo.
Urge que a sociedade se conscientize sobre a gravidade da situação político-administrativa do país, notadamente pela forma dissimulada de se tentar menosprezar a profundidade das deficiências da gestão pública, e a necessidade de demonstrar indignação pela forma criminosa como o patrimônio da Petrobras foi dissipado, com parte dele sendo transferido para os cofres de partidos políticos da base de sustentação do governo, conforme revelam as investigações em curso, e para outros destinos não menos ilegítimos, sob gestão deletéria e temerária, em cristalina demonstração de incapacidade para controlar a aplicação dos recursos públicos e evitar os desvios bilionários de dinheiros da estatal. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 06 de fevereiro de 2015

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