terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

O conformismo com a incompetência


A presidente da República e ministros do núcleo palaciano avaliam que a presidente da Petrobras cometeu grave erro e se enfraqueceu muito ao tentar contabilizar no balanço da estatal o gigantesco prejuízo da cifra de R$ 88,6 bilhões, fato que demonstra o início de crise na relação entre o Palácio do Planalto e a diretoria da estatal.

Além de discordar do valor, o governo avalia que a comunicação sobre o balanço se deu de maneira como se já houvesse o entendimento que a corrupção na estatal teria atingido o valor supracitado, fato esse que causou desgaste bastante prejudicial às imagens da empresa e do governo, que será de difícil reparação.

Na avaliação do governo, a presidente da estatal se houve com completa ingenuidade, uma vez que aquele valor havia sido sugerido pelos mesmos consultores e auditores que se recusaram a aprovar o balanço, em clara demonstração de que eles teriam apresentado o cálculo bilionário, porém, de forma estranha, não quiseram endossá-lo em caráter oficial.

Na versão da presidente da empresa, havia necessidade de se tentar zerar o jogo de vez, assumindo tudo o que seria considerado prejuízo, sob o argumento de que o mercado e a sociedade demandam essa informação da empresa e que, em algum momento, a perda contábil terá de constar do balanço.

O valor da corrupção, à luz do Planalto, seria quantia bem inferior àquela, haja vista que, no valor contabilizado, incluem-se outras variáveis, como o preço do petróleo em dólar e de projetos que se mostraram ruins, mas que seriam regulares etc.

O governo entende que, no balanço da Operação Lava Jato, o Ministério Público divulgou que, até agora, o desvio da estatal teria atingido somente o valor de R$ 2,1 bilhões, cifra essa já elevadíssima para o escândalo de corrupção. Há estimativas de que o rombo da corrupção poderia chegar ao valor de R$ 4 ou R$ 5 bilhões. Todavia, contrariando esse entendimento, a Petrobras e o seu Conselho de Administração destacaram o valor de R$ 88,6 bilhões, que é bem diferente da estimativa de quem está investigando a corrupção.

Nesse caso, a presidente da estatal se enfraqueceu bastante politicamente, a ponto de ter crescido o desejo do governo pela troca da direção da estatal, que ainda se sustenta motivada pela importância da estreita relação de amizade entre as presidentes do país e da empresa.

O certo é que a presidente petista resiste às pressões de seu partido e de assessores diretos para substituir a diretoria da Petrobras, não somente por acreditar na capacidade e na honestidade da presidente da estatal, mas, sobretudo, por temer que a demissão dela atraia a crise da empresa para ainda mais próximo do Palácio do Planalto.

Cada vez mais fica patenteada a falta de competência da direção da Petrobras para tratar de assunto de relevante responsabilidade, quando o seu Conselho de Administração se diz incapaz de opinar sobre os resultados operacionais da empresa, embora entenda que o valor já está definido.

O que pode está acontecendo, na realidade, é que a síndrome que se instalou desde o início do governo petista degenerou as células da visão governista, não permitindo que os fatos irregulares sejam enxergados, impossibilitando se saber de alguma coisa e, se não sabida, nenhuma providência pode ser adotada com relação ao que foi denominado de malfeitos.

Caso a versão do Planalto esteja certa, de que os números foram maus interpretados, com reflexo irreal no balanço apresentado, isso somente vem confirmar o que todos já sabem e um pouco mais sobre a incompetência da administração da empresa de não saber diferenciar perdas operacionais e de corrupção.

Diante da falta da verdade e da transparência, os fatos relacionados às corrupções da Petrobras são apenas jogados para debaixo do tapete, embora a presidente garanta que não faz isso, porque ela diz que apura tudo e pune todos, como verdadeira xerife que não tem coragem sequer de passar o rodo na diretoria da Petrobras, preferindo aceitar pacificamente os desmandos e as irregularidades como sendo normais.

À toda evidência, não seria o caso somente do afastamento da diretoria da Petrobras, mas sim de completa intervenção na estatal, como tentativa de assepsiar a sujeira impregnada na sua administração. A manutenção da diretoria funciona como algo que beira ao surreal, ante a demonstração da extrema falta de sensibilidade e responsabilidade administrativas. Em qualquer país minimamente sério do mundo, o governo se sustentaria tão somente se conseguisse justificar as razões pelas quais foi capaz de quebrar uma empresa girante como a Petrobras, em pouco mais de uma decana.

A desgraça que foi implantada na Petrobras pelo PT, ante a ingerência na empresa, em concomitância com e seu aparelhamento, que contou com a adjunção de partidos da base de sustentação do governo nessa empreitada maléfica, jamais será reconhecida pela presidente da República, que, apesar de ter concordado que existiu roubalheira na estatal, ela nada fez para passá-la a limpo, que seria feito imediatamente caso se tratasse de empresa privada.

A mudança na direção da Petrobras seria a primeira providência que deveria ter sido adotada logo no início dos escândalos, para que as apurações se processassem com a mais completa isenção e profundidade, porém isso não passou de verdadeiro pesadelo e seria uma tragédia para o governo, porque a nova direção poderia não deixar pedra sobre pedra, cujos podres só aumentariam a desgraça reinante da empresa.

Nesse caso, muito mais podre teria vindo à tona e complicaria de vez a situação do governo, que já é precária, o qual vem se sustentando graças ao fanatismo de seus seguidores, que pensam igualmente como ele, ao imaginar e garantir, sem fundamento, que a administração pública está uma maravilha, com as contas públicas sob controle; a máquina pública funcionando de maneira eficiente; as taxas de juros baixinhas; o Produto Interno Bruto nas alturas; as dívidas públicas quase inexistentes; a carga tributária servindo de exemplo para o mundo, de suavidade sem igual; a produção nacional nadando soberanamente nos mercados da competitividade; o fisiologismo ideológico é completamente repudiado e combatido pelo governo; há maciços investimentos em obras de impacto; os serviços públicos são prestados com a melhor das qualidades; não existindo criminalidade nem violência; a saúde até parece que o povo nem adoece, de tão bom o atendimento do Sistema Único de Saúde; o povo é só sabedoria, em razão da excelência da educação; a indústria se encontra em plena atividade, motivando superávit nas exportações; etc.

Tudo para o governo e seus simpatizantes funciona com eficiência e competência de fazer inveja aos países desenvolvidos, que não conseguem perceber como governo desacreditado pela incompetência administrativa e pela contumácia da corrupção ainda consiga se reeleger à Presidência da República, mesmo diante de tamanha tragédia que somente a alienação do povo não atina para os malefícios de administração tão temerária e perniciosa aos interesses da nação.

Compete à sociedade se mobilizar para repudiar a forma deletéria como o país está sendo administrado, diante da catástrofe que impera na gestão pública, cujo governo insiste em não vislumbrar as melhores perspectivas para a sua governança, por entender que a atual situação está boa demais, apesar disso não se coadunar com as potencialidades brasileiras, atitude essa que demonstra a desnecessidade, à vista dos fatos, de mudanças de rumos, porque é exatamente dessa forma caótica de predestinação do país, desagradando a minoria que não concorda com as desastrosas práticas político-administrativas, mas elas subsistem por serem do agrado dos poucos mais que formam a maioria a enxergá-las como satisfatórias, embora isso contrarie, de forma drástica, o fiel cumprimento do compromisso assumido no ato de posse quanto ao juramento da observância da Constituição Federal e das leis do país, que, em absoluto, não se harmonizam com as práticas administrativas da incompetência e da corrupção. Acorda, Brasil! 
 

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

 
Brasília, em 02 de fevereiro de 2015

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