segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Exemplos de desperdícios

Agora, pouco importa lamentar o estrondoso fracasso do resultado da seleção Canarinha na Copa do Mundo, que decepcionou e frustrou, de forma extraordinariamente arrasadora, as melhores perspectivas de vitória, diante da indiscutível supremacia que somente existia para quem ainda vive no mundo dos sonhos e não quer abrir os olhos para a triste realidade brasileira, que vem surfando nas impiedosas ondas da incompetência da administração do país, sob o cerco das deficiências e das precariedades, consistentes na completa falta de prioridades das políticas públicas.
A famigerada Copa de 2014, realizada por capricho e vaidade do presidente da República de então, mostrou o tamanho do ferimento dos princípios mais comezinhos da má gestão de recursos públicos, principalmente aqueles alocados nesse trágico empreendimento, que não deixou a menor saudade e muito menos contribuição para a satisfação das necessidades básicas da sociedade nem do interesse público, embora se falasse, por parte do governo, de possíveis benefícios para a população, à vista do seu legado.  
Veja-se que o país patrocinou o evento da copa, que foi cercado por milionárias propagandas publicitárias oficiais, além do dispendioso custo, que teria ascendido à cifra de R$ 30 bilhões, sendo que desse valor, pasmem, somente R$ 8,5 bilhões se destinaram à construção de estádios particulares e às reformas de outras arenas igualmente privadas, sem qualquer serventia para a população, em especial aquela mais carente, que poderia ter sido atendida com tais verbas.
Todo esse esforço, que custou o sacrifício dos brasileiros, somente rendeu o reconhecimento da opinião dos visitantes de que o povo tupiniquim é realmente civilizado, por ter sido gentil e acolhedor, à custa da elevada soma de recursos jogados pelos ralos da imprevisão e da incompetência da gestão pública.
          Os gastos astronômicos não proporcionaram condições para que os espectadores pobres pudessem comparecer aos estádios, ante os elevados preços dos ingressos, que foram elitizados e somente vendidos a quem tivesse posse e acesso à internet.
Por sua vez, a marca da precariedade estatal ficou patenteada e exposta por ocasião do evento, quando pouquíssimo da metade das obras de natureza infraestrutural, previstas no caderno de planejamento da copa, foi concluída antes do evento. Ou seja, das 167 obras previstas, somente 87 foram concluídas, outras 45 ficaram incompletas e o restante sequer teve início. As obras inacabadas são visíveis pelo rastro de crateras abertas, perturbando a vida da população, que é obrigada a conviver com os entulhos nas vias públicas das cidades, que vão continuar aguardando uma eternidade para a conclusão dos projetos não acabados e não iniciados.
Ainda tem o lamentável histórico das obras feitas às pressas e sem a devida segurança, que caíram e causaram enormes prejuízos e transtornos para a população, que terão o dissabor de receber mais esse presente de grego.
Sem se imaginar pelo porvir decepcionante da seleção verde-amarela, o governo promoveu intensa propaganda oficial, com dinheiro público, precedida do evento, na tentativa de convencer o povo sobre a importância da copa para a economia nacional, principalmente sobre o possível aquecimento dela, com a entrada dos preciosos dólares, e o substancial aumento do emprego.
No entanto, o que se viu foi o desempenho muito fraco e frustrante da economia, que acompanhou o horrível caminho trilhado pela seleção, à vista da constatação de longo período de paralisação das atividades econômicas, que contribuiu para o decepcionante desempenho do Produto Interno Bruto - PIB, no período da copa, com projeção de crescimento bem próximo de zero ao ano.
Também houve, no período da copa, a pior relação de emprego, cuja taxa de emprego foi de 56,9% inferior ao mesmo período do ano passado, que não teve Copa do Mundo.
É evidente que, caso não tivesse patrocinado a construção e as reformas de estádios dispensáveis e inúteis, o país certamente teria economizado, pelo menos, R$ 8,5 bilhões, que teriam sido destinados para obras efetivamente em benefício da sociedade e do interesse público, na aplicação de investimentos em áreas onde mais são despontadas as carências da presença do Estado, para resgatar a tão propalada desigualdade humana, com o atendimento prioritário e de qualidade dos serviços públicos, que são o verdadeiro calcanhar de Aquiles do governo, que os ignora ao promover evento que poderia ser realizado apenas e tão logo ele conseguisse superar todo esse quadro aflitivo de precariedades, mazelas e deficiências pelo qual a população é obrigada a aturar, em prol da satisfação do ego de homens públicos sem a menor responsabilidade cívica, gerencial e humana.
Não há dúvida de que a falta de priorização das políticas públicas, à vista da realização da copa, tem contribuído para fomentar as agruras e o sofrimento que afetam as camadas menos favorecidas da sociedade, que continuam padecendo ante o despreparo gerencial dos administradores públicos, que ainda conseguem idealizar, planejar e realizar megaempreendimentos estapafúrdios e dispensáveis como a Copa do Mundo, com o emprego de bilhões de reais a perder de vista, apenas visando ao aproveitamento do possível sucesso em benefício pessoal e partidário, em detrimento dos princípios republicanos da dignidade e da nobreza, que pressupõem a gestão de recursos exclusivamente em benefício do povo.
A sociedade precisa se conscientizar sobre a urgente necessidade de serem recriminadas, censuradas e responsabilizadas as atitudes ilegítimas dos maus gestores, em razão dos suntuosos gastos supérfluos, como os recursos aplicados na construção e nas reformas dos estádios para a Copa do Mundo, de modo que seja possível mudar a mentalidade dos homens públicos para enxergar a real destinação que deve ser dada às verbas públicas, qual seja, ao estrito atendimento das carências básicas da população, com embargo dos caprichos, das vaidades e dos sentimentos absurdos dos administradores irresponsáveis, que deveriam responder, nas esferas criminais passíveis, sobre seus atos inconsequentes e prejudiciais às causas nacionais. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
         
Brasília, em 09 de fevereiro de 2015

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