quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Exemplo de civilidade e respeito?

          O narcotraficante brasileiro morto na Indonésia, depois de ter sido preso e condenado pela tentativa de entra naquele país transportando 13,4 quilos de cocaína, está prestes a ser homenageado com busto da sua pessoa, que será erigido e inaugurado na estação Pavuna da Linha 2 do Metrô carioca.
Alguns dias que anteciparam a execução da pena capital, o ex-presidente da República petista, a presidente brasileira, a Anistia Internacional e até o papa dirigiram pedidos de clemência ao presidente daquele país, mas não obtiveram êxito nos seus intentos, eis que a sentença da Justiça indonésia funciona para valer, como forma de garantir a seriedade sobre os propósitos de combater, com o indispensável rigor, o tráfico de drogas, considerado naquele país chaga dizimadora da sua população, malefício esse que tem sido combatido com remédio amargo e de eficácia garantida.
Diante desse fato, a prefeitura do Rio de Janeiro houve por bem homenagear o ex-traficante com a exposição permanente de seu busto, possivelmente como forma de reconhecimento, na visão política do prefeito da Cidade Maravilhosa, como retribuição pelos “bons” serviços prestados ao povo daquela metrópole, por certo em razão de ele ter representado a bravura dos cidadãos cariocas.
O prefeito disse que esse gesto de materializar o heroísmo do bandido fuzilado na Indonésia, por tráfico de droga, tem o importante apoio da presidente brasileira, que faz questão de comparecer à solenidade importantíssima para ressaltar as qualidades de bravuras exemplares do competente profissional do narcotráfico, que foi fuzilado em razão de ter sido flagrado no relevante exercício do tráfico de drogas para país asiático.
Para que a solenidade possa contar com o brilhantismo à altura do merecimento do homenageado, seria de bom alvitre que estejam presentes ao evento as lideranças do narcotráfico carioca, de modo que não fique dúvida sobre o prestígio conquistado por quem soube dignificar, de forma sublime, a honrada classe da bandidagem.
Em justificativa ao merecido ato de veneração ao ilustre narcotraficante, o prefeito do Rio de Janeiro lançou essa “pérola”, in verbis: A morte de Marco representa a luta não só do povo carioca por um mundo mais justo, mas sim de todo o povo brasileiro, daí a importância de se preservar a imagem dessa pessoa que contribuiu muito para o progresso da humanidade”.
À toda evidência, isso aí não pode ser verdade, pois jamais poderia ter sido dito por alguém que goza das faculdades mentais preservadas e tem consciência da responsabilidade como homem público, com a obrigação de representar pessoas dignas e honradas como é o povo carioca.
Nessa mesma linha de falta de raciocínio lógico e de irrefletida irresponsabilidade, a mandatária do país saiu-se com não menos asneira, nestes termos: “A homenagem faz parte de uns dos projetos da Pátria Educadora. É preciso mostrar para o povo brasileiro o quão é atrasada a pena de morte em qualquer lugar que seja. Marco era pai de família e devemos estar sensibilizados por ela. Espero que quando as pessoas virem o busto de Marco olhem e lembrem o exemplo de civilidade e respeito que ele quis nos transmitir”.
Vê-se claramente que a presidente do país tem extremado carinho por alguém que demostrou total desprezo aos princípios da dignidade e da nobreza humanas, que desrespeitou os comezinhos conceitos de humanidade, ao se profissionalizar no mundo da criminalidade, constituindo a maior bestialidade a afirmação, nesse caso, de que traficante de drogas tenha tido a capacidade para ser “exemplo de civilidade e respeito que ele quis nos transmitir”. Essa conclusão só pode ter sido dita por quem não valoriza os sentimentos de dignidade do ser humano.
Em contraposição aos pensamentos dissonantes com a realidade da normalidade conceptiva dos fatos, demonstrando equilíbrio, racionalidade e bom senso, o presidente da Indonésia teria dito que Fui criado numa família de bem, com valores morais muito bem estabelecidos. Se eu errava, meu pai me castigava. Foi assim que eu cresci. Por isso fico muito surpreso ao ver a presidente do Brasil pedir para eu perdoar um bandido. Isso mostra que há algo de muito errado nesse país. Se a senhora Rousseff gosta assim de contrabandistas, então ela deveria mantê-los no próprio país, ao invés de exportá-los para o país dos outros.”.
Essa situação se torna revoltante e repugnante, à luz dos conceitos da civilidade e da racionalidade, por se perceber que nenhum homem público tem a dignidade de liderar a prestação de homenagens justas e merecidas aos homens de bem, às pessoas honradas, aos trabalhadores, aos policiais, enfim, àqueles que tombaram diante das ações e atitudes maldosas, criminosas, da bandidagem profissional a serviço do narcotráfico.
Esse fato demonstra a conduta visivelmente demagógica e de extremo oportunismo de insensatas autoridades que pensam que estão contribuindo para algo importante, quando estão praticando atos da maior indignidade, por homenagearem justamente pessoa sem nenhum mérito. Ao contrário, trata-se de ser absolutamente desprezível, por sua hábil conduta de traficante de drogas, que são simplesmente letais, como a foi a última e justa penalidade aplicada a ele.
Nos termos da incumbência constitucional e legal, compete ao Ministério Público zelar pela integridade do patrimônio público, sendo do seu dever promover ações administrativas ou judiciais, com vistas a evitar que os agentes públicos gastem em dissonância com as normas legais, em contrariedade ao atendimento do interesse público, que é o caso configurado na construção de monumento para a perpetuação de imagem de criminoso de extrema periculosidade, que teria contribuído, também no seu último ato, com participação degradante e delituosa que foi capaz de denegrir a honra dos brasileiros.
Caso seja verdadeira a matéria em tela, é induvidosa a confirmação de situação concreta de conivência de homens públicos com a criminalidade, não restando à sociedade se não contestar, repudiar e recriminar, de forma veemente, condutas indiscutivelmente contrárias à dignidade que deve imperar na administração pública, ante a incompatibilidade de representante do povo puder comungar impunemente com ideário de cunho degenerativo da dignidade humana, que era exatamente isso o que praticava, de forma intensiva, o “herói” ora homenageado.
Certamente que as autoridades brasileiras, nesse caso do traficante de drogas que se tornou “célebre” por sua contribuição ao incremento da criminalidade internacional, tão somente confirmam a índole irresponsável pela indisfarçável conivência com a traficância de drogas, que não é combatida com efetividade e intensidade capazes de, ao menos, enfraquecê-la, a par de ainda se permitir que a legislação penal seja a mais suave possível, tudo a possibilitar que o país tivesse se tornado principal fornecedor de narcóticos para o mundo.
A sociedade tem o dever cívico e patriótico de repudiar a leniência das autoridades do país com os narcotraficantes, a exemplo da defesa injustificável e patética da mandatária do Brasil de criminoso da mais alta perversidade, e exigir maior rigor no combate ao tráfico de drogas no país, tanto com a aprovação de penas duras, como nas ações preventivas e de controle dos grupos organizados de traficantes, como forma de contribuir efetivamente para a proteção dos brasileiros e estrangeiros. Acorda, Brasil!
 
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
          Brasília, em 10 de fevereiro de 2015

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