Em um discurso para estudantes da Universidade Católica de Louvain, na
Bélgica, o papa afirmou que a Igreja Católica “é feminina”, mas não é “uma
empresa multinacional”.
Em justificativa à sua declaração, o papa disse que “O que é
característico das mulheres não é sancionado por consensos ou ideologias. A
cultura cristã elabora sempre de novo, em contextos diversos, a vocação e a
missão do homem e da mulher e o seu ser mútuo, em comunhão”.
É preciso se compreender que a Igreja Católica não é empresa multinacional,
mas certamente ela é instituição reconhecidamente universal e como tal seria
normal que ela tivesse o reconhecimento no sentido de que homens e mulheres pudessem
exercer as suas mútuas vocações, em forma de missão evangélica.
Nessa compreensão, seria ideal que as atividades pastorais e evangélicas
pudessem ser compartilhadas igualmente por homens e mulheres, inclusive que
estas tivessem a mesma condição vocacional de ser papisa, porque seria de fato
e de direito a verdadeira vocação não apenas da mulher, mas sim do ser humano,
sem nenhuma discriminação, ante a falta de raciocínio lógico em contrário que
justifique entendimento diferente.
De nada adianta o papa, de forma demagógica, afirmar “a vocação e a
missão do homem e da mulher e o seu ser mútuo, em comunhão”, sem que isso,
na prática, seja assegurado, quando todo poder, na Igreja Católica, é reservado,
de maneira privativa, aos homens, relegando a mulher a planos secundaríssimos,
em evidente demonstração não somente de desprezo à sua capacidade de trabalho,
mas visível maneira de desconfiança e descrédito sobre a efetividade da sua
missão evangélica.
É evidente que ninguém, nem o papa, tem coragem de esclarecer os motivos
pelos quais, em avançadíssimo século XXI, as mulheres não tenham conseguido conquistar lugar de destaque nas
nobres missões evangélicas da Igreja Católica, quando elas têm brilhantes afirmações
em todas as áreas da ciência e da tecnologia, à vista da comprovada eficiência de
todas as funções desempenhadas por elas, quando, do contrário, as mulheres
teriam as mesmas oportunidades somente concedidas aos homens.
É preciso que o papa seja sincero e tenha coragem para decidir que as
mulheres podem sim também exercer os principais cargos e funções da igreja comandada
por ele, porque isso não é nenhum favor, mas sim o reconhecimento, com bastante
atraso, do mérito delas, que são tanto quanto capazes de desempenhar as mais
importantes missões e atividades evangélicas como já fazem os homens.
Não adianta o papa invocar a comunhão da vocação e da missão do homem e
da mulher ser mútua, quando somente ao homem é confiada as principais
atividades da incumbência da Igreja Católica, diante da demonstração de que
afirmação nesse sentido tem o mesmo sentido de se afirmar que homens e mulheres
são capazes, mas a igreja somente acredita na eficácia do trabalho dos homens.
Compreende-se que isso não seja justo, exigindo-se que os atos da Igreja
Católica sejam retilíneos, evitando-se posição extremamente contraditória,
injusta e anticristã, quando o Evangelho de Jesus Cristo prega e prima somente pela
verdade e pelo tratamento isonômico, algo que difere desse quadro, em se tratando
das atividades internas dessa tão importante instituição religiosa.
Poder-se-ia até se alegar tradição secular para se manter ridícula e
inaceitável reserva de privilégio para os homens, mas convém lembrar que isso
não prevalece como forma de interpretação do Evangelho, que trata os filhos de Deus,
ou seja, os homens e as mulheres, com os mesmos pesos da balança celestial, o
que vale se dizer que todos são pesados fielmente sem qualquer distinção perante
o reino de Deus, mas, infelizmente, isso não acontece no reino do Vaticano,
conforme mostram os fatos, quando se é afirmada uma lei e se procede em sentido
contrário.
Diante do exposto, apelam-se por que o papa seja realmente fiel aos
princípios ensinados por Jesus Cristo, para praticá-lo fielmente, no sentido de
que as funções e as atividades de incumbência da Igreja Católica sejam
exercidas igualmente por homens e mulheres, sem discriminação, desde as missões
mais simples até o seu ápice, porque isso se inscreve nos princípios sagrados
do Evangelho.
Brasília, em 29 de setembro de 2024
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