quinta-feira, 15 de agosto de 2024

A esperança da verdade

 

Reportagem de importante jornal de esquerda apontou, com base em  provas exibida por ele, que um poderoso integrante de órgão eleitoral teria usado a instituição para investigar bolsonaristas.

Uma jornalista conversou com alguns integrantes da corte suprema do país, tendo obtido deles a garantia de que aquele juiz é magistrado consciente e que tem adotado posturas absolutamente corretas, tendo descartado a existência de qualquer anormalidade sobre a troca de mensagens com funcionários daquela corte.

Ocorre que, segundo a reportagem jornalística, o setor de combate à desinformação do órgão eleitoral foi demandado na forma da lei, por aquela autoridade, durante e após as eleições presidenciais de 2022, à formulação de documentos sob os moldes por ele pretendidos.

Diante dos fatos nebulosos, congressistas estão demandando medida com vistas à propositura do impeachment por abuso de autoridade, a começar com a coleta de assinaturas, em apoio ao pedido pertinente, que será protocolado até início de setembro próximo.

Os congressistas esperam novos e fartos elementos a serem obtidos por aquele jornal, sob a perspectiva e a avaliação de que o pedido apropriado poderá ser robustecido com a publicação de novas revelações sobre esse imbróglio, cujos fatos possam contribuir com muito mais casos reveladores e favoráveis à demanda.

Os parlamentares também pretendem coletar assinaturas públicas, até o dia 7 de setembro, de modo a assegurar maior consistência ao pedido de impeachment em apreço.

Um dos idealizadores do pedido em causa disse que existem muitos casos graves de abuso de autoridade e de decisões inconstitucionais, cujos fatos justificam a medida pretendida, no âmbito do Senado Federal.

Ao que tudo indica, o presidente do Senado não pretende autorizar o processo de impeachment em comento, conforme ele tem sinalizado nesse sentido, por entender que ainda não há elementos suficientes para o encaminhamento do processo pertinente, embora os fatos sejam mais do que robustos de abusos de autoridades e outras visíveis irregularidades. 

Somente para se ter ideia, há, atualmente, mais de 20 pedidos de impeachment contra essa mesma autoridade, aguardando manifestação do presidente do Senado.

Além disso, há pedido referente à queixa-crime, envolvendo o mesmo magistrado, junto à Procuradoria-Geral da República, por falsidade ideológica e formação de quadrilha, o que mostra a gravidade da situação.

Nesse pedido, constam as conversas divulgadas pelo jornal, que evidenciam a promiscuidade referente às tramas e manipulações com a participação ativamente daquela autoridade, com a nítida feição manipuladora, em forma de “criação artificiosa, inoficiosa, ilegítima e ilegal de relatórios” que serviriam como prova em investigações sobre supostos crimes de atentado ao Estado Democrático de Direito.

Na verdade, caracteriza indiscutível indicação de que os relatórios teriam sido produzidos a pedido daquela autoridade, fato este que tem o poder de contaminar as decisões judiciais dele, por vício insanável de nulidade absoluta, uma vez que ambos se tornariam impedidos ou suspeitos de apreciar e decidir qualquer matéria integrante do processo do fim do mundo, como assim foi denominado, justamente por gravíssimos vícios de origem, segundo a opinião de juristas famosos.

Causa enorme perplexidade que caso extremamente rumoroso como esse ainda tenha o beneplácito dos pares dessa autoridade, em clara harmonia com o espírito de corpo entre eles, segundo foi apurado, no sentido da compreensão fundada na tese de que aquela autoridade não teria extrapolado suas atribuições funcionais e, principalmente, colocado em risco inquéritos contra o último ex-presidente do país.

Aceitar tamanha aberração não parece o melhor caminho, sem qualquer cautela, nega, de pronto, qualquer validade às conversas gravadas com origem em assessores da autoridade denunciada, parecendo, em princípio, algo extremamente absurdo, em se tratando de autoridades judiciais, que poderiam, ao menos, propugnar pela realização de investigação sobre os fatos denunciados, para que não persistam quaisquer suspeitas sobre a lisura de atuação daquela autoridade, bem assim a conivência dos demais magistrados na perpetração de decisões estranhas ao rito jurídico-constitucional.

A autoridade denunciada tentou esclarecer sobre os fatos revelados como sendo irregulares, à luz da reportagem, tendo dito que “Todos os procedimentos foram oficiais, regulares e estão documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria Geral da República. Os relatórios simplesmente descreviam as postagens ilícitas realizadas nas redes sociais, de maneira objetiva, em virtude de estarem diretamente ligadas às investigações de milícias digitais”.

Enfim, nem precisa ser bom entendedor para se verificar que o conteúdo das mensagens sinaliza que o juiz denunciado tinha papel ativo, tanto na seleção dos alvos pretendidos quanto na formulação dos relatórios e documentos, fato este que o coloca no centro de rumoroso escândalo envolvendo recrimináveis abuso de poder e perseguição política, evidentemente à luz de especialistas da área judicial.

Não obstante, em que pese, desgraçadamente, essa tragédia antidemocrática ainda seja tratada pelo próprio denunciado como por seus pares como “procedimentos oficiais e regulares”  e “posturas absolutamente corretas”, sem a existência de qualquer anormalidade sobre a troca de mensagens entre autoridade e funcionários.

Induvidosamente, essa forma de tratamento, pela naturalidade de verdadeiro escândalo, só demonstra desrespeito à seriedade, à dignidade e à inteligência dos brasileiros, pela banalização de situação da maior relevância, quando se trata de visível caso atípico quanto ao rito judicial, tanto que a sua revelação teve o poder de estarrecer as opiniões especializada e congressual.

Ao que se parece, essa gravíssima denúncia sobre a produção de relatórios forjados, ao sabor da vontade da autoridade máxima, tem todo jeitinho brasileiro dos ingredientes que não se harmonizam com os salutares princípios republicanos e democráticos, porque eles são próprios dos regimes totalitários, onde não existe transparência nos atos das autoridades e prevalecem somente a verdade do que interessa à conveniência do sistema dominante, que é soberano, insuspeito e fora do alcance de qualquer contestação, mesmo que seus atos permitam suspeição, como parecem os fatos visivelmente incompatíveis com o rito de regularidade.

Enfim, ainda há a esperança de que o pedido de impeachment da autoridade denunciada seja aceito pelo Senado Federal, de modo que as devidas investigações, por esse órgão, permitam pôr a limpo todo esse mar de lama que não condiz com o país sério, evoluído e civilizado, uma vez que precisam prevalecer os princípios republicanos e democráticos, sob o império da transparência e da verdade.

Brasília, em 15 de agosto de 2024

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