quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Mobilização

Conforme vídeo que circula nas redes sociais, várias pessoas, entre religioso, políticos e de outros segmentos da sociedade, se esforçam no sentido de expor a necessidade de os brasileiros se reunirem em protestos, no próximo dia 7 de setembro, na Avenida Paulista, em São Paulo, onde, por meio de concentração popular, elas acreditam que podem buscar o retorno dos plenos direitos de civilidade e democráticos, segundo fervorosas afirmações de cada uma delas.

Vejam, a seguir, os termos constantes do mencionado vídeo, que mostram as bases para a convocação em causa, com manifestações no sentido de sensibilizar os verdadeiros brasileiros a comparecerem a esse importante movimento de protesto, evidentemente na esperança  de salvação nacional.

“(...) Há muito tempo a democracia brasileira anda mal das pernas. A gente sabe disso. O que a gente não sabia como era apenas executada toda essa atrocidade. A coragem é a primeira das qualidades humanas, porque ela garante todas as outras. Essa é a primeira vez que nós temos uma oportunidade real possibilidade de reverter a situação. Pela nossa liberdade. Tem rasgado a nossa Constituição, ferido a nossa liberdade e tentado nos calar, a qualquer custo. Porque você que não aguenta mais tanta tirania, tantos desmandos. Queremos viver em país democrático. Não podermos nos curvar, para que o manto da democracia instaure uma ditadura no Brasil. Fora (omiti o nome), mas para que isso aconteça nós precisamos da mobilização popular, do povo nas ruas, porque o povo é verdadeiramente soberano. Queremos o Brasil de volta. É preciso fazer o impeachment de (omiti o nome). Pelo impeachment do ditador de toga (omiti o nome). É por isso que chamo todos vocês para o dia 7 de setembro estarmos juntos, na Avenida Paulista (...)”.    

Esse vídeo descreve, com bastante minucia, algo que se relaciona com o diagnóstico da crise institucional brasileira, que se apresenta como a mais grave possível e isso fica muito claro no seu conteúdo, mas ele peca gravemente em não sinalizar senão com afirmações relacionadas com muito protesto e nenhuma medida concreta com capacidade para pôr freios aos abusos e às atrocidades contra os direitos democráticos dos brasileiros.

A conclusão é no sentido de se convocar os brasileiros para comparecerem à Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 7 de setembro, com a finalidade de se reunir, em concentração, a maior multidão da face da Terra, como se isso tenha a capacidade mágica de se promover o saneamento das atrocidades e deformidades predominantes no país, inclusive com o poder de se restabelecer a normalidade constitucional e democrática.

Como se pode perceber, não há nada mais ingênuo e infantil do que lideranças políticas e religiosas invocarem a imperiosa necessidade de reunião de milhões de pessoas para exercerem o direito democrático de protestarem contra os atos e as decisões abusivos e arbitrários, com a clara manifestação somente para dizerem “fora isso e fora aquilo”, como materialização de mera indignação, apenas.

Isso parece ser da maior importância para o fortalecimento dos princípios democráticos e da prova do amor patriótico, posto que esse ato de manifestação “heroica” tem o condão de mostrar para o Brasil e o mundo que as maldades praticadas por um integrante do sistema dominante vêm realmente surtindo verdadeira eficácia.

A reunião em si tem o poder de mostrar o reconhecimento das maldades,  contribuindo também para a intensificação das malignidades, já que não existem reação nem combate à altura das maldades, além de atestarem a indiscutível incompetência de reação das lideranças de oposição, que se dão ao luxo da perda de tempo em reunião absolutamente inútil, sob a certeza do resultado de coisa alguma, que é algo que só comprova a falta de otimização dos objetivos colimados, eis que realmente inexiste algo substancial capaz de imobilizar os mentores das perseguições apavorantes.

Convém que as lideranças envolvidas nessa importante convocação de protestos tenham o mínimo de inteligência para a criação de agenda que efetivamente possa justificar a mobilização de tanta gente, que precisa realmente se comprometer com os ideais de urgente mudança no Brasil, cada vez dominado pelos desmandos.

É possível que se diga, em alto e bom som, que é preciso eliminar, com urgência e definitivamente, a esculhambação consistente nos atos e nas decisões abusivos e inconstitucionais, porque em desprezo dos princípios civilizatórios e democráticos.

Agora, parece que somente no país tupiniquim se pretende combater atos e decisões inconstitucionais na base do grito, com a mera colocação de pessoas nas ruas, com o inconsistente altruísmo de apenas dizerem “fora fulano, fora ciclano”, de vez que os seus atos e decisões estão causando inadmissíveis danos à integridade democrática e aos direitos de liberdade, em claro desprezo aos princípios de civilidade.  

Como se isso fosse suficiente para transformar sistema persecutório em movimento de paz e amor, quando o bom senso e a racionalidade sinalizam que é preciso ato de luta e de enfrentamento, em ambiente de combate ferrenho, com o emprego dos mais eficazes instrumentos de batalha.

Diante disso, resta a única alternativa disponível aos brasileiros presentes na Avenida Paulista, no próximo dia 7, no sentido de decisão por ultimato ao sistema dominante, consistente na exigência do imediato arquivamento de todos os processos inerentes à perseguição política e de demais atos considerados inconstitucionais, de modo que a situação institucional brasileira retorne imediatamente à normalidade democrática e republicana, com pleno respeito aos direitos humanos e à dignidade civilizatória, sob pena de o povo precisar adotar as medidas necessárias e cabíveis ao restabelecimento à normalidade das liberdades democráticas.

Sim, há o reconhecimento sobre “Essa é a primeira vez que nós temos uma oportunidade real possibilidade de reverter a situação.”, mas, convenhamos, somente com a presença de pessoas nas ruas não se reverte absolutamente nada, porque tudo vai ficar como era antes, no quartel de Abrantes, sem qualquer modificação.

É verdade que “A coragem é a primeira das qualidades humanas, porque ela garante todas as outras.”, mas, no presente caso, essa virtude se distancia ano-luz do que seja necessário para o enfrentamento do gravíssimo problema de desprezo aos princípios de civilidade e democráticos.

No momento que aparecer alguém com coragem e altruísmo, certamente que jamais se atreveria a aparecer com a cara mais deslavada, na Avenida Paulista, somente para mostrar incompetência diante da competência de quem desrespeita os princípios jurídicos e constitucionais, prende, restringe direitos de liberdade, fecha contas bancárias, controla a internet e tudo o mais que achar conveniente para o funcionamento do sistema dominante, sem que haja qualquer restrição nem reação com vistas aos limites desejados.

Enfim, coragem é fazer a coisa certa, o que vale dizer que não há coragem alguma em se comparecer à Avenida Paulista tão somente para se reclamar da eficiência e da eficácia da destruição e da deformidade das instituições do país, sem levar qualquer medida concreta com vistas ao combate às atrocidades.

Na verdade, deveria pairar no ar algo de desconforto com relação às lideranças que convocam o movimento de protestos, justamente por demonstrarem completa incapacidade para o oferecimento de reação por arte do povo, que seria o mínimo que elas deveriam fazer.       

É preciso que as lideranças, principalmente políticas, se conscientizem sobre a imperiosa necessidade de medidas concretas e efetivas, para se discutirem nos protestos, com capacidade para combater a desgraça que grassa no país, em cristalina violação dos direitos humanos e dos princípios democráticos.   

Não se venham dizer que o povo não tem competência para tanto, mas também não se esqueçam de que alguém não tem competência legal para a reiterada prática de malignidades, em visível desrespeito aos direitos individuais e aos princípios democráticos, mas as faz, sem qualquer escrúpulo, e, o pior, fica tudo isso na impunidade, em prejuízo apenas de brasileiros.

Por oportuno, importa sublinhar que o interesse do povo sempre tem preferência sobre todos os outros, notadamente diante da existência de atos considerados antidemocráticos, que exigem ser execrados pelo povo.

Por fim, convém ficar bastante claro que a maior presença da população brasileira à Avenida Paulista é de suma importância somente para ajudar a consolidar a robusteza de alguma decisão discutida no momento, em termos de mudanças significativas e de interesses do Brasil, mas, afora isso, caso os brasileiros compareçam em peso somente para dizerem que são contra os atos antidemocráticos, conjugados com o dizer: “fora fulano”, nada disso tem valor aproveitável para reverter absolutamente nada, salvo como perda de tempo.       

Brasília, em 28 de agosto de 2024

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