segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Só cinzas e fumaças

 

Por incrível que possa parecer, a fumaça de incêndios na Amazônia e no Pantanal se espalha sobre mais de dez estados e o Distrito Federal, chegando até o Rio Grande do Sul, causando transtorno por onde passa, por milhares de quilômetros.

Pior para a população de cidades do Amazonas, do Acre e de Rondônia, que é afetada diretamente pela fumaça que ficará armazenada na região.

A cidade de Manaus é a mais afetada, que sofre atualmente com as névoas de poluição oriundas dos incêndios mais próximos.

Esse trajeto começa com os ventos na parte norte do Brasil, que correm de leste a oeste durante todo o ano, do oceano Atlântico para o continente.

De acordo com um especialista em meio ambiente, a rota da fumaça segue até a Cordilheira dos Andes, que atua como uma parede.

Ele esclareceu que as fumaças são levadas "Pelos ventos que seguem o circuito ao longo da Cordilheira, viram no Acre e passam por Rondônia, Bolívia, pelo pantanal e vão ao sul do Brasil. Dependendo da situação meteorológica, eles são canalizados para a região Sul ou para a região Sudeste. Depende de como estão posicionadas as frentes frias.".

Imagens de satélite registradas pelo Instituto de Cooperação para a Pesquisa na Atmosfera mostram as fumaças que passam sobre áreas de Acre, Amazonas, Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Segundo o meteorologista, a movimentação dos ventos e da fumaça sinalizam para dois alertas, sendo um de aquecimento das regiões afetadas, devido à concentração de partículas dos materiais queimados, que são transformados em e gases como o monóxido de carbono, que contribui para o efeito estufa.

O outro alerta diz respeito ao dano à saúde humana, que dificulta a respiração e causa irritação nos olhos, além de tosse, afetando diretamente as pessoas com doenças respiratórias, notadamente asma e bronquite, além de idosos e crianças, para os quais devem redobrar os cuidados, por meio de medidas para aumentar a hidratação, procurando se evitar sair de casa em momentos de fumaça mais intensa.

Ele explicou que a movimentação de ventos e fumaça é típica da época de estiagem no país, quando aumenta significativamente a incidência de focos de incêndio.

Um pesquisador esclareceu acerca da importância da fiscalização sobre os focos, que tem por objetivo a redução, de forma substancial, da ocorrência da ação humana, nos incêndios.

Não obstante, o problema grave está ligado diretamente às secas prolongadas, conforme disse o pesquisador, nestes termos: “Cada vez mais percebemos que os eventos climáticos estão mais graves. Nos últimos 20 anos, foram quatro eventos extremos de seca, em 2005, 2010, 2015 e 2023. Isso também intensifica o fogo na região.".

O certo é que, tanto a floresta amazônica quanto a região do Pantanal têm registrado aumentos expressivos nos focos de incêndio e a consequência é essa horrorosa quantidade de fumaças, que se alastra por vários estados e o Distrito Federal.

Conforme registros de satélites, as queimadas do meio ambiente cresceram de forma vertiginosa, batendo recorde sobre recorde, em números alarmantes e incontroláveis, sendo traduzidos como os mais agressivos das últimas décadas.

No Pantanal, a temporada de fogo começou antes do previsto e os focos de incêndio tiveram aumento de 1.593%, em comparação entre janeiro e 1º de agosto de 2024, em relação ao mesmo período do ano passado.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) mantém alerta de perigo para onda de calor na faixa que vai do sul de Minas Gerais ao norte do Rio Grande do Sul e se estende até o sudeste de Rondônia.

O mesmo instituto também mantém aviso de perigo potencial para baixa umidade do ar, entre 30% e 20%, para a área central do país, indo do sul do Amazonas e do Pará até o Ceará e, ao Sul, até o Rio Grande do Sul.

A verdade é que nem alerta nem aviso vão resolver o estado de calamidade instalada com os incêndios e, por via de consequência, com as fumaças, que já caracterizam situação de emergência e preocupação, não só do Brasil, mas também do mundo, diante da evidente demonstração de descontrole da situação, quando o governo se mostra sem qualquer iniciativa de efetivo combate às queimadas, quando elas só aumentam, nos últimos tempos.

Nesse caso, pouco importa se os incêndios são naturais ou provocados, uma vez que interessa mesmo é o seu devido controle e a responsabilização dos culpados, mas a incompetência gerencial tem sido a marca que permite que as florestas do Brasil sejam transformadas em cinzas, conforme mostram as fumaças que cobrem praticamente todo o país, com graves prejuízos também para a saúde das pessoas.

A par da demonstração de completo abandono da floresta brasileira, conforme mostram as queimadas e as fumaças, ainda se tem a ausência dos defensores do meio ambiente, que, antes cobravam providências das autoridades ambientais, mas agora eles sumiram, em que pese a incidência das queimadas ter se multiplicado, em escala alarmante, conforme indicam os incêndios.

Diante do estado catastrófico inerente à incidência das queimadas do bioma nacional, compete à sociedade protestar contra as autoridades públicas incumbidas da preservação do meio ambiente, exigindo delas medidas efetivas e urgentes de salvaguarda das florestas brasileiras.  

Brasília, em 26 de agosto de 2024

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