terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Liderança da mulher

 

O papa nomeou a primeira mulher, a irmã Simona Bramblia, para o comando do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica, do Vaticano, que tem a similitude de ministério estatal, cuja decisão indica, de alguma forma, avanço no legado do religioso, embora de forma discreta para quem teria se comprometido a expandir a liderança feminina na Igreja Católica, em seu pontificado.

A mencionada freira nasceu em Monza, na Itália, e se formou em enfermagem antes de entrar para a vida religiosa, em 1988.

Ela já trabalhava, desde 2019, no dicastério que agora comanda. 

Ressalte-se que religiosas podiam comandar dicastérios desde 2022, mas as mulheres somente ocupavam posições secundárias ou interinas, até o momento, sem jamais assumirem as chefias desses órgãos.

Ou seja, eram pouquíssimos órgãos comandados por mulheres, em relação ao que elas têm condições de ocuparem, como fazem normalmente os homens, que chefiam quase tudo, no Vaticano.

Além disso, apesar da mudança teórica, na prática, nem todo dicastério é acessível às mulheres, tendo em conta que somente homens podem ser sacerdotes no catolicismo, porquanto o dicastério estar para os bispos e ele, para o clero, tendo prioritariamente as chefias masculinas.

O dicastério agora chefiado pela freira tem a incumbência de supervisionar as ordens religiosas, não tendo a privacidade se serem chefiados exclusivamente por homens.

Mesmo assim, o vice desse órgão é um religioso, na função de colíder, fato que restringe a participação de mulheres no comando de chefia.

A citada irmã esteve em missão religiosa em Moçambique, tendo exercido o cargo de diretora da congregação a que pertence, o Instituto das Irmãs Missionárias da Consolata, em 2011 e 2017.

Enfim, o papa tem pregado a abertura da Igreja Católica a grupos de alguma maneira às margens dela, fato esse que se recomendaria se eleger as mulheres para o exercício de importantes cargos, mas, na prática, as medidas nesse sentido são extremamente acanhadas, o que vale se afirmar que ele não demonstra o menor empenho para ser coerente com a própria palavra, conforme mostram os fatos.   

A verdade é que, no curso do seu pontificado, houve sim aumento na porcentagem de funcionárias femininas no Vaticano e na Santa Sé, mas em ritmo extremamente insignificante, de 19,3% em 2013 para 23,4% em 2023, de acordo com informações produzidas pelo portal Vatican News.

Diante da nomeação em comento, vaticanistas criticam as super acanhadas transformações envolvendo mulheres, no âmbito do Vaticano, afirmando que elas são insuficientes e pouco representativas, evidentemente em relação ao destaque ostentado pelos religiosos.

Nessa linha de análise, muitos especialistas em Vaticano ressaltam que, seja na cúpula da Igreja Católica ou nas paróquias locais, mulheres, em geral irmãs consagradas e competentes são comumente relegadas ao servil papel de empregadas domésticas de padres, bispos e cardeais, quase sempre sem nenhum direito reconhecido, principalmente no que diz respeito à sua sensibilidade religiosa, que poderia ser muito bem aproveitada pela causa do bem da comunidade cristã.

A realidade é praticamente isso aí, sim, visto que, tradicionalmente, as mulheres nunca tiveram voz em defesa de suas posições religiosas, evidentemente diante do império vitalício e pernicioso dos homens ditos religiosos.

Urge que essa situação de abominável submissão aos caprichos dos religiosos precisa sim ser denunciada e eliminada dos inadmissíveis ritos da importante instituição criada por Jesus Cristo, exatamente porque a importância da sua dignidade cristã não se harmoniza com qualquer forma de discriminação nem abusos.

O correto é precisamente haver o devido tratamento isonômico entre homens e mulheres, em sintonia com as próprias evolução e modernização da humanidade, além do imperioso respeito aos princípios fundamentais da evangelização sedimentada na melhor forma de amor ao próximo, que implica tratamento igualitário, em todas e quaisquer condições, segundo os ensinamentos pregados pelo Salvador da humanidade.   

Em questão de direitos, ressalte-se que, à luz do bom senso e da razoabilidade, tudo que os homens fazem dentro da Igreja Católica as mulheres estão absolutamente aptas a desempenharem as mesmas tarefas, sendo que, em muitos casos, até em melhores condições, visto que elas são muito mais sensíveis às questões sociais e certamente espirituais, o que redundaria em maior benefício para os cristãos, em harmonia com a finalidade institucional da própria igreja.

É preciso, sim, se reconhecer que a maior participação da mulher nas atividades da Igreja Católica condiz precisamente, de forma notória, com a boa vontade e o interesse papais, porque há motivos mais do que suficientes para o convencimento sobre a implantação do maior aproveitamento de mulheres no exercício de cargos de chefia e de importantes funções nessa instituição tão carente de excelentes colaboradoras, que se esforça  e se dedicam tanto quanto os homens.

A verdade é que, caso o papa tivesse realmente interessado em  expandir a liderança feminina na Igreja Católica, em seu pontificado, ele tem absoluta competência para mudar o status quo, que somente privilegia o arraigado dogmatismo nada plausível, à vista da modernidade dos tempos modernos, cuja evolução se traduziu em benefício da humanidade, exigindo, por isso, como consequência, o aperfeiçoamento também dos mecanismos institucionalizados, inclusive na igreja comandada por ele.

Com certeza, o papa passaria para a história da Igreja Católica, caso ele conseguisse implantar a igualdade entre homem e mulher no exercício de todas as atividades inerentes à evangelização sob a sua incumbência, inclusive no que se refere ao comando dos principais órgãos do Vaticano.  

Enfim, apelam-se por que as religiosas que labutam na Igreja Católica precisam se conscientizar sobre o seu direito de reivindicar efetivas transformações no âmbito do Vaticano, de modo que as mulheres sejam inseridas ativa e mais intensamente nos cargos de comando da instituição, além de terem ampliadas as funções em igualdade com os homens, ante à injusta discriminação que representa o desprezo à competência delas.

Brasília, em 6 de janeiro de 2025

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