sábado, 21 de maio de 2011

A verdade de todos

O governo conseguiu fechar acordo com os parlamentares, no sentido de ser aprovada a criação da denominada Comissão da Verdade, com vistas às apurações sobre as circunstâncias das mortes e dos desaparecimentos políticos na ditadura de 1964, como forma de acerto de contas oficial com a história, segundo a pretensão dos interessados. Nos termos do projeto de lei em tramitação no Congresso Nacional, a citada comissão irá apurar o que realmente aconteceu com as pessoas vitimadas no período de chumbo. Esse procedimento, a princípio e à luz do bom senso, se revela insensato e oportunista, principalmente porque, por uma questão de justiça, devem ser apuradas também as motivações das ações e dos atos violentos, igualmente imprevisíveis e arbitrários, dos terroristas que praticaram bandidagem de toda ordem, assassinando, assaltando, sequestrando, enfim, implantando terror, barbárie e intranquilidade. No caso, para o bem da verdade, da isonomia, da idoneidade, da conduta ética, da identificação com a defesa da democracia, da institucionalidade constitucional e principalmente do respeito dos direitos humanos, os atos da bandidagem terrorista não podem ser excluídos do objeto dessa importante investigação, para que não restem dúvidas sobre nada e que isso sirva de acerto de contas com a sociedade, que foi obrigada a conviver atormentada com as constantes barbaridades da época. A verdadeira democracia não pode ser construída com a adoção de medidas visivelmente de cunho parcial e partidário, porquanto, no Estado Democrático de Direito, todos, indistintamente, têm direito a conhecer, de forma igualitária, o resultado dos fatos, não importando a sua origem ou circunstância, porque não é justo nem crível que a história registre apenas a verdade de uma parte envolvida e omite deliberadamente o que houve com a outra, sem qualquer fato que a justifique.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 21 de maio de 2011

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