quinta-feira, 19 de maio de 2011

O requinte do poder

O presidente do Senado Federal decidiu devolver aos cofres públicos a quantia de R$ 23,9 mil, paga separadamente a três empresas, referente ao pagamento de um jantar que teria oferecido a 60 convidados, na residência oficial do Senado, com recursos do Legislativo. O cardápio oferecido no evento foi bastante imodesto, constando, de entrada, queijo padano com mel e caviar, e, principal, posta de bacalhau sobre ninho de legumes, acompanhados de bebidas alcoólicas, salgadinhos variados e sobremesas. Embora os pareceres tenham sido pela regularidade das despesas, uma vez que, na forma da lei de licitações, o valor limite de dispensa de licitação é de R$ 8 mil, aquela autoridade preferiu ressarcir os gastos em apreço, talvez receoso por possível questionamento sobre fracionamento. Parafraseando o próprio presidente do Senado, por ocasião da sua posse nesse cargo, pode-se afirmar que é grande “sacrifício” alimentar-se de seletos pratos contendo caviar e outras iguarias nobres, quando é do costume se comer buchada de bode e baião-de-dois, gororobas da terrinha, em comparação ao que foi servido. No caso em comento, chama a atenção dos pobres mortais o escárnio com que isso causa àqueles que nada têm de alimento para saciar a sua fome, tendo que sobrevive com migalhas, como é o caso de muitos brasileiros, aliado ao fato de que um país com tanta fartura, onde “farta” tudo, como saúde de qualidade, ensino eficiente, segurança suficiente, estradas confiáveis, moradias confortáveis etc. A liturgia do cargo de presidente do Senado, além de não permitir abusos no emprego dos recursos dos contribuintes, exige, ante a situação de precariedade e de deficiência latentes quanto à forma da assistência prestada pelo Estado, em que as necessidades básicas não são atendidas de forma satisfatória, e o bom-senso, que o administrador público seja parcimonioso com os gastos e modesto nas comemorações oficiais, sendo condenável, por todos os meios, o exagero como o aqui comentado, por ferir de morte a dignidade de toda sociedade, que é obrigada a sustentar tamanha intolerância nababesca e requintada.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 19 de maio de 2011

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