segunda-feira, 23 de maio de 2011

Os fatos conflituosos

Um dia após ter sido revelado o nome da sua empresa como cliente do então deputado federal, o presidente do grupo WTorre se adiantou em elogiar o referido parlamentar, dizendo que ”Me orgulho muito de tê-lo conhecido” e “Contratei a sua assessoria técnica para vir ao escritório toda última sexta do mês, onde dava a sua opinião do mercado e das alternativas para toda a minha diretoria, e em algumas vezes para os clientes e amigos da minha companhia.” .  Ressalte-se que a empresa em questão fechou contratos com a Petrobras e a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil). É curiosa a rapidez com que o cliente da autoridade tenha se manifestado, na tentativa de mostrar sua satisfação pelo trabalho por ele realizado. A obviedade do elogio é tanto dispensável, posto que o cliente não seria ingênuo em cometer perversidade à sua própria empresa ao se manifestar em contrário, quanto insípido o objeto dos serviços contratados: opinar sobre o mercado. Não há qualquer dúvida de que a assessoria técnica em tela, remunerada a preço de ouro, é profundamente intrigante quanto à sua intrínseca superficialidade, fragilidade e insuficiência de substância, parecendo mais uma verdadeira meia-sola imperfeita, exatamente por ter sido prestada por quem tinha a política como principal atividade, ou seja, não se pode dar crédito à assessoria com cara e rosto de fajutice. Na prática, uma empresa séria, responsável e cônscia do seu interesse na eficiência do desempenho dos seus negócios, por certo contrataria profissional experiente e especializado, que labuta normalmente no ramo dos serviços objetivados, tendo pleno domínio da área, comprovado com atuação, dedicação e exclusividade, e ainda seria remunerado com valores condizentes com o mercado de trabalho e a eficiência incomparável. A ausência de clareza entre os limites do público e do privado e o evidente conflito de interesses na administração pública reforçam, de forma decisiva, a necessidade de justificativas plausíveis para o affaire, sob pena de que as dúvidas e suspeitas se tornem mais robustecidas à medida de que as explicações forem sendo prestadas indevidamente por terceiros e não pelo principal envolvido.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 23 de maio de 2011

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