sexta-feira, 20 de abril de 2012

Por proteção ao ciclista

Até há pouco tempo, era motivo de muito prazer circular de bicicleta nas aconchegantes e belas vias públicas de Brasília, curtindo saudáveis pedaladas ao sabor dos ventos e da pureza do ar, com plena certeza do regresso ao lar com tranquilidade e segurança. Todavia, na atualidade, nem pensar em sair por aí pedalando nesse trânsito louco e agressivo, onde existe pouco respeito ao próximo, por haver feroz disputa por espaço e pela melhor ocupação das pistas, sem qualquer preocupação com o direito à individualidade de transitar livre e democraticamente, nas velozes pistas candangas. Têm sido estarrecedoras as estatísticas sobre acidentes envolvendo ciclistas, resultando, quase sempre, sequelas graves ou óbitos, em razão da imprudência dos condutores de automóveis, que acham que são os proprietários das vias, menosprezando o sagrado direito dos ciclistas. No caso específico de Brasília, esse tipo de caos poderia ser evitado ou substancialmente amenizado. Não há dúvida de que são notórios o desconforto e a tristeza com esse paradoxo existente entre os incentivos dos governos para maior uso de bicicletas, com a finalidade de contribuir para despoluição do meio ambiente e principalmente para desafogar o caótico trânsito das cidades, e a falta de medidas efetivas para garantir proteção aos ciclistas. Infelizmente, essa situação vem se tornando desastrosa diante da fragilidade dos ciclistas, que são desrespeitados pela selvageria e incompreensão dos condutores de automóveis, como se aqueles fossem obstáculos ao livre tráfego de veículos. Em Brasília, os atropelamentos de ciclistas já se tornaram rotina, com maior incidência envolvendo ônibus, que são responsáveis pelo crescente abastecimento das estatísticas de mortes, mostrando que, somente em 2012, já houve, somente do que se tem conhecimento, a bárbara retirada do nosso convívio de mais de 35 ciclistas, que perderam o direito de viver por falta da sensibilidade humana, no trânsito. Não se pode negar que, nas partes envolvidas, pode haver imprudência, negligência e até imperícia, mas essa trágica constatação poderia ser drasticamente reduzida caso houvesse interesse e vontade políticos, convergindo para a aprovação de planos urbanísticos contemplando políticas destinadas à construção de ciclovias pela cidade, quanto mais em se tratando de Brasília, possuidora de áreas e canteiros vastos, amplos e disponíveis, que podem perfeitamente ser aproveitados para essa finalidade tão importante e mais do que justa, porquanto são destinados prioritariamente à proteção da vida dos ciclistas. Além dessa nobre função de preservação da vida, as ciclovias poderiam contribuir como forma de modelo, a evidenciar vitrine de orgulho brasiliense para o resto do país, como já aconteceram em tantos outros casos em que Brasília tem sido lembrada, por ter servido de marco pelas excelentes práticas de pioneirismo no trânsito, a exemplo da faixa de pedestre, do cinto de segurança etc. Na verdade, falta vontade política para que os ciclistas tenham liberdade para pedalar, com segurança e tranquilidade, entre as árvores, sem se preocuparem com o trânsito maluco dos automóveis. Não há qualquer dúvida de que os governantes têm parcela significativa nos óbitos de ciclistas no Distrito Federal, à vista da sua omissão quanto à implantação de políticas destinadas à valorização da vida desses corajosos do trânsito, cuja sina poderia ser modificada tendo como inspiração o modernismo e o arrojo desta cidade que propicia todas as condições estratégicas e urbanísticas para construção de ciclovias seguras e ecologicamente corretas, sem causar nenhum prejuízo ou mesmo interferência na normalidade do tráfego dos veículos considerados donos das vias públicas. Não à toa, o povo de Brasília sempre se vangloria quando são merecidamente enaltecidos os feitos pioneiros desta cidade em benefício e dignificação do ser humano, principalmente quando diz respeito ao alcance da civilidade no trânsito, onde tem possibilitado se vislumbrar com facilidade o seu elevado grau de inteligência e de maturidade. A sociedade brasiliense anseia por que os governantes se sensibilizem quanto à urgente necessidade de o Distrito Federal se tornar também pioneiro na construção de ciclovias em áreas e canteiros livres e abundantes, existentes por todas as cidades, como forma de priorizar e proteger a vida dos ciclistas e possibilitar a ostentação de mais um troféu de campeão nacional de valorização do ser humano.

     
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 20 de abril de 2012

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