terça-feira, 3 de abril de 2012

Copa, pra quê?

Sem papas na língua, o presidente da Fifa atacou com duras palavras o atraso nas obras da Copa, ao afirmar que é hora de o Brasil agilizar os preparativos para a Copa-2014. A sua afirmação se insere no contexto da irritação da entidade com os evidentes atrasos nas obras dos estádios, aeroportos e da infraestrutura do Mundial. O dirigente foi bastante enfático, afirmando que "Convidamos o Brasil a continuar o desenvolvimento do que eles começaram. Pelo menos votaram a lei no Congresso. A bola está no campo deles agora para jogar. Queremos atos e não mais só palavras". A preocupação da Fifa não é somente com as obras em alguns estádios, porquanto as críticas se estendem ao andamento da modernização de aeroportos, ao reduzido número de hotéis e ao transporte interno local. Essa cobrança apenas reforça as declarações do secretário-geral da entidade, que disse que o país deveria levar "um chute no traseiro" para acelerar as obras. Em reunião anterior, membros da Fifa já haviam se queixado sobre os atrasos nas obras. Por mais incrível que possa parecer, essas rusgas entre a Fifa e o governo brasileiro não passam de lances estratégicos, ensaiados para desviar o foco da mídia sobre as graves questões que afetam a vida dos brasileiros e que o Estado já demonstrou desinteresse e plena incapacidade para solucioná-las. Na realidade, essa Copa nem começou, mas já tem vitorioso e derrotado, que são, respectivamente, a Fifa, que já firmou contratos bilionários, sem precisar desembolsar um centavo, porém terá trabalhão imenso para transportar montanha de dinheiro, e o povo brasileiro, que está arcando com o pesado ônus pela estruturação e garantia do total apoio à realização dos eventos, que não estará ao  seu alcance, ante os altos preços dos ingressos, além da nítida desqualificação da seleção Canarinha, que já demonstrou incapacidade técnica e de competição com as demais seleções, à vista do que já foi mostrado em amistosos, não conseguindo convencer ninguém sobre a sua real condição para ganhar nada. Está mais do que provado que a conquista do direito de sediar a Copa do Mundo, a duras penas, teve por objetivo satisfazer o ego do então governante fanfarrão, incompetente e inconsequente, sem a mínima preocupação com adequado planejamento quanto às consequências desse desastroso e desatinado procedimento, deixando as atribuições para o seu sucessor, que de igual modo vem demonstrando pouca habilidade e competência para imprimir ritmo suficiente e necessário à agilização das sonhadas obras. Caso o governo tivesse um pinguinho de responsabilidade e respeito aos princípios da administração pública, em especial quanto à observância às prioridades da sociedade, no que tange às suas necessidades primaciais, como educação, saúde, segurança, infraestrutura e demais assistências de qualidade que o Estado vem negando aos brasileiros, mas tem a insensibilidade e generosidade de organizar eventos efêmeros, cujos custos superam exageradamente as suas condições econômicas. De certa forma, a Fifa tem razão em se preocupar com a conclusão das obras, temendo que o Brasil não consiga dar conta do recado, o que a obrigará a buscar outro  país para realizar a Copa e garantir a manutenção da sua indústria de arrecadação. Parodiando o presidente da Fifa, que sentenciou: “Queremos atos e não só palavras”, é mais do que justo se afirmar: “basta de hipocrisia, o povo brasileiro não precisa de Copa. Ele exige a devida atenção às suas prementes necessidades”.

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 02 de abril de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário