quarta-feira, 11 de abril de 2012

Socorro à educação pública

O Jornal Hoje da Rede Globo, depois de manter repórteres por 30 horas em sala de aulas, mostrou mais uma vez as condições de precariedade das instalações e do funcionamento de uma escola pública, desta feita na capital do Estado do Pará, mais precisamente no bairro da Cabanagem. O maior paradoxo dessa triste reportagem é que se trata da escola estadual denominada Cristo Redentor, periferia de Belém, cujas instalações dão a nítida impressão de que o local acaba de ser resgatado de arrasadora guerra, inclusive com uso de bombardeios pesados, ante a destruição do telhado, deixando telhas quebradas espalhadas pelo chão, junto às carteiras. As condições sofríveis desse local não têm a mínima condição de sequer ser denominado de educandário, diante do deplorável estado em que se encontram as suas instalações, evidenciando verdadeiro abandono das autoridades do estado, ao permitirem que aulas sejam ministradas em local inóspito, sem banheiros, porque suas instalações estão servindo de depósito para guardar cadeiras quebradas; sem material apropriado para limpar a lousa, sendo usado papel como apagador; com as salas alagadas, devido à falta de vidros nas janelas, facilitando a entrada da água da chuva; e, de resto, a reportagem registra a nítida falta de estrutura do ensino público e o descaso dos governantes pela educação. Na verdade, o JH teve a ousadia e a brava coragem de trazer à lume o retrato fiel do real interesse do Estado com a educação, ou seja, absolutamente nenhum, porque o tratamento dispensado às escolas públicas é de clara penúria e de completo desprezo. E isso naturalmente tem explicação sob o ponto de vista de que, quanto menos instruído, mais facilmente o povo pode ser manobrado e convencido a evitar reivindicar seus direitos de cidadania, inclusive reclamar desse inaceitável tratamento de péssima qualidade, i.e., de inqualificável tratamento. Não há a menor dúvida de que a escola em referência, à vista dos inferiores e desumanos meios de ensino oferecidos aos esforçados alunos e abnegados professores, é típico esboço e formulação do modelo do futuro homem a ser sendo adotado pelos bestas dos brasileiros, mediante cadastramento no programa Bolsa Família, justamente porque esses heroicos alunos certamente não terão suficiente força nem estímulo para continuar estudando em escolas tão desqualificadas e de nível sem comparação de precariedade, sendo obrigados a ingressar na imensa massa das pessoas analfabetas e despreparadas profissionalmente, se enquadrando exatamente no perfil desejado pelos responsáveis pela execução dos programas assistenciais do Estado. É bastante lamentável que, neste país, não haja prioridade para o ensino público, porque esse claro prejuízo à sabedoria e à cultura faz com que a ignorância do seu povo satisfaça plenamente os interesses das classes dominantes, que terão a certeza de não serem incomodadas nas suas pretensões de eterno poder e de manutenção nos cargos públicos. Não obstante, enquanto a realidade do ensino público brasileiro se compara ao nível talvez nem mais praticado no submundo, a mandatária tupiniquim discursa em Harvard, defendendo ensino de qualidade para um país de sexta economia mundial, em verdadeiro contrassenso e contraste por parte de quem, na prática, não demonstra sentimento nem efetividade quanto à possível melhoria da educação pública, que não merece qualquer prioridade como principal programa de governo, como forma de, ao menos, perseguir os avanços, em franco progresso no resto do mundo, do conhecimento humano. Urge que a sociedade brasileira mais instruída e liberada do malefício da deseducação, no uso do seu intrínseco dever cívico, exija dos governantes do país devida priorização à educação pública de qualidade, não permitindo que a escola pública Cristo Redentor, do Estado do Pará, sirva de modelo de deplorável ensino para a nação. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 10 de abril de 2012

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