quinta-feira, 12 de abril de 2012

Os pecados dos políticos

Conforme reportagem publicada na Folha de S. Paulo, a governadora do Maranhão viajou aos Estados Unidos em jatinho de propriedade de empresário do seu Estado, sob a alegação de que o avião teria sido cedido pelo dono de uma gráfica e de uma universidade privada em São Luís, que tem convênio com o governo. O embarque da governadora ocorreu no dia 4 último, segundo confirmou a assessoria do governo, nestes termos: "O avião que levou a governadora aos EUA faria a mesma viagem, na mesma data e no mesmo horário, vez que naquele período passaria por procedimento de manutenção". Na ocasião, essa assessoria aproveitou para negar que tivesse havido irregularidade nesse episódio, ao afirmar que "Não há problema em aceitar a carona oferecida por um amigo", ”a viagem de Roseana foi oficial” e "Não houve fretamento nem qualquer outro procedimento que gerasse despesa ao Estado", tendo concluído que a governadora encontrou-se com a presidente da República no último domingo e a acompanhou em reunião com empresários brasileiros. Na verdade, contrariamente ao que foi justificado, o simples fato de o empresário manter convênio com o Estado já é motivo mais do que suficiente para caracterizar irregularidade e suscitar suspeições, sem mencionar a tremenda coincidência entre a agenda da governadora e o período compreendido da revisão da aeronave, em dias, horário e destino, tudo certinho. Não há a menor dúvida de que o fato em si constitui evidente conflito de interesses, por envolver relações entre político e empresário, em razão da existência de negócio entre o Estado representado por aquele e este último, não podendo, em absoluto, ser considerado normal tal procedimento, quanto mais em se tratando de viagem oficial, para encontro com empresários brasileiros. Esse fato é mais uma demonstração da falta de escrúpulo e de dignidade dos políticos brasileiros, não sendo lícito que somente eles tenham o direito de achar normais os procedimentos escusos e indecentes. É pena que o povo brasileiro ainda não tenha alcançado a necessária inteligência, a maturidade capaz de distinguir, nas eleições, o joio do trigo, para o fim de eleger somente as pessoas que tenham reais condições de representá-lo com dignidade, excluindo dos seus pleitos aqueles políticos calejados da prática de atos sujos e vergonhosos, que não se coadunam com os princípios da ética e da moral. Também é de se lamentar que, em regra geral, depois de eleitos, os chamados representantes do povo não se envergonham de desempenhar atividades voltadas quase exclusivamente em benefício próprio ou partidário, em verdadeiro desrespeito aos compromissos de campanha e da própria essência da função política, que é de servir ao interesse público, como forma de se reafirmar a conduta ética que se exige de todo homem público. Seria justo que a sociedade pudesse, concomitantemente à pratica de ato suspeito, julgar os maus políticos e puni-los, inclusive com a perda do mandato, tendo em conta que foi ela que os elegeu. O povo brasileiro anseia porque os políticos se conscientizem de que o desempenho dos cargos públicos exige estrito respeito aos princípios da administração pública, decência e honradez, não podendo praticar atos que possam suscitar questionamento quanto à sua licitude. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 12 de abril de 2012

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