sábado, 12 de maio de 2012

Ausência de qualificação

Não é de agora e todo mundo sabe, menos o governo, que os ministérios são instrumento ideal para tratar dos interesses partidários, como forma mais eficiente para apaziguar desentendimentos internos das agremiações, como bem demonstra a principal preocupação do novo ministro do Trabalho, que, logo depois de confirmada sua escolha pela presidente da República, disparou: "O fundamental é a unidade do partido e acabar com qualquer tipo de insatisfação" e concluiu: "Não teremos grandes dificuldades para seguir o projeto de unidade do partido". No entanto, em nenhum momento foi aventado sobre projeto de trabalho no Ministério, para justificar a sua indicação, fato que só confirma a falta de importância que tem a existência ou não de algum plano de trabalho para o cargo. No dia seguinte, ele só ratificou o esvaziamento de ideias e propostas para a ação ministerial. Todavia, isso evidencia a coerência da completa incapacidade e do despreparo da equipe desse governo, que preenche os principais cargos da Esplanada exatamente com políticos sem qualquer vocação para comandar senão as ações de interesse pessoal ou partidário, em perfeita sintonia com o nivelamento por baixo adotado para evitar a eficiência da administração pública e o desenvolvimento da nação. A presidente da República foi fiel e coerente quanto ao padrão de loteamento do governo, mantendo o Ministério do Trabalho sob o comando do PDT, agremiação que demonstrou, na pessoa do seu presidente, total incompetência gerencial, confirmado com o afastamento do seu titular por graves denúncias de corrupção com dinheiros públicos e inúmeros casos de irregularidades, comprometendo seriamente a imagem dos brasileiros dignos. É bastante estranho que, apesar de ter sido escorraçado do governo como um cão sardento, por ter se tornada insustentável a sua permanência no cargo, o falastrão ex-ministro foi alvo de honraria no anúncio do novo ministro, como se a sua liderança pedetista o qualificasse para tamanha deferência. Na verdade, essa nomeação mantém incólume a vergonhosa e abominável forma de loteamento da administração pública entre os partidos da base de sustentação do governo, em absoluto respeito e homenagem às siglas da inescrupulosa coalizão em vigor. Em princípio, a nomeação de ministros, num regime republicano, é ato de inteira e exclusiva responsabilidade do presidente da República, mas isso, na verdade, não acontece, como mostra o caso em foco, em que sai o ministro e entra outro do mesmo partido, que também ganha o direito de nomear o restante dos cargos desse órgão com seus apaniguados, como demonstração da partilha da administração com os componentes da base governista, em nítida evidência de que a presidente não é a responsável máxima pela gestão pública brasileira, que falece por completo à mingua de qualidade e objetividade programáticas, fatos estes que se tornam irrelevantes para quem participa do banquete do poder. A sociedade brasileira tem o dever cívico de contestar, de forma veemente, esse indecente e prejudicial loteamento dos cargos da administração pública, por ser visivelmente contrário à dignidade e aos valores e interesses nacionais, principalmente pela clara falta de seriedade e pelo aviltamento da eficiência e da eficácia, resultando descrédito e desconfiança no gerenciamento do patrimônio do povo, ante a ausência de compromissos principalmente com as causas públicas, a moralidade, a integridade e a competência para comandar e gerenciar os negócios do Estado. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 11 de maio de 2012

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