terça-feira, 15 de maio de 2012

Hipocrisia na política

Pelo menos em época eleitoral, o Santuário Terço Bizantino, situado na zona sul da capital de São Paulo, já se tornou campeão de audiência entre os candidatos que se dizem católicos, por certo na tentativa de convencer significativa parcela do eleitorado sobre sua preferência à mesma religião e seu culto aos princípios verdadeiramente cristãos, foto esse que poderá ser fortalecido se contar com o respaldo do seu pároco mais famoso, que arrasta multidões por ali. No último sábado, o pré-candidato petista à prefeitura paulistana esteve frequentando aquele templo, recebendo a hóstia consagrada, em missa que seria comandada pelo referido padre, mas ele, de forma inteligente, não compareceu ao santuário, talvez para não participar de uma abominável farsa. Essas missas, como se sabe, já se tornaram tradicionais agendas de campanha de candidatos, como ocorreu em 2010, quando os principais candidatos à Presidência da República se duelaram de forma ardorosa, com a finalidade de defender posições de fé, a ponto de desprezar os reais compromissos de campanha e, por causa disso, quase foram considerados freira e padre, de tanto se enfronharem em assuntos religiosos e mostrarem fidelidade aos princípios cristãos. Agora, parece estranha e inconcebível a forma pela qual o aludido pré-candidato, sendo cristão ortodoxo, seja anunciado como "presença especial" pelo celebrante, participe das orações católicas, faça, pasmem, até leitura dos Atos dos Apóstolos e receba a hóstia das mãos do celebrante. Tudo esse “sacrifício” deve se justificar pelo fato de sua pessoa sofrer sérias críticas de setores religiosos mais conservadores, por causa do kit anti-homofobia, produzido pelo Ministério da Educação para combater a homofobia nas escolas, que não chegou a ser distribuído, mas valeu a iniciativa da sua elaboração, com recursos públicos jogados pelos ralos. Esse estranho expediente petista não é novidade, como relatado acima, o candidato em situação periclitante nas pesquisas de preferência, embora de índole comunista-leninista, inclusive com livros publicados sobre o tema, de repente se apresente ao povo como fervoroso católico, com cara de anjo e todo piedoso, diante de plateia incrédula e não acreditando no que estava ocorrendo, mas entendendo perfeitamente que se tratava de fato de desespero de um candidato que não consegue convencer a população sobre as suas qualificações para administrar a principal e mais importante cidade do país. Essa sua súbita pseudoconversão de ateu para o cristianismo pode ser mera coincidência com o ano eleitoral, mas isso pode ser apenas o começo de tantas invenções maquiavélicas petistas. Na verdade, logo ele vai se declarar contrário ao aborto, ao kit gay, à eterna e completa incompetência no gerenciamento do Ministério da Educação, onde foi titular e o ensino público conseguiu regredir na sua gestão, etc., porque em ano eleitoral e não emplacando nas pesquisas, o povo adora acreditar em artimanhas e mentiras deslavadas. Esse artifício petista faz lembrar outra esperteza de “famoso” político brasileiro que, após cumprimentar o povo nas ruas, imediatamente desinfetava as mãos com álcool, demonstrando a sua repugnância e ojeriza àquele que o elege, sem que este desconfie que era usado com atos de insinceridade e indignidade. Em muitos casos, os candidatos extrapolam e exageram suas encenações, como no caso em comento. A sociedade tem a obrigação moral de recriminar as atuações artificiais e hipócritas de políticos que nada possuem em termos de bagagem e conteúdo para oferecer como compromisso de gestão e exigir mais seriedade dos candidatos, deixando claro que os púlpitos das igrejas não podem servir de palanques de políticos para as suas campanhas eleitorais. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 14 de maio de 2012

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