segunda-feira, 7 de maio de 2012

Por urgente reforma

Algo muito inusitado acaba de acontecer na Câmara Municipal de Coivaras, cidade de pouco mais de 3.800 habitantes, que se situa a 88 km de Teresina, capital do Estado do Piauí. Ali, com apenas o seu voto, uma professora aposentada, de 79 anos, tomou posse no cargo de vereadora. Na qualidade de Evangélica, ela diz que somente assumiu o mandato porque "Deus quis" e concluiu "É como diz a palavra de Deus, nos provérbios de Salomão: 'O homem pode fazer os planos, mas a resposta vem do Senhor.'".  Segundo a política, a sua performance ruim no pleito deveu-se ao fato de ter desistido da campanha para cuidar do filho, acometido de doença que, meses mais tarde, o levou à morte. Ela disse que "O Neto, meu filho, era minha pedra forte. Ele queria que me candidatasse, mas eu não queria. Dizia para meus eleitores que meu nome tinha ficado lá, mas que não era mais candidata.". Entretanto, no dia da votação, ela decidiu: "Pensei: 'Sabe de uma coisa? Vou votar em mim. Não vou ser besta'. Se eu votasse em mim, sustentaria o PMDB, o PSB e o PSDB, (partido) do meu prefeito.". Por obra do destino, os outros suplentes não puderam assumir o cargo, por terem, com a aproximação das eleições, trocados de partido. Com discurso afiado, a política eleita com a menor quantidade de votos e nenhum do povo, disse que "Vou me comportar como simples vereadora que quer trabalhar pelo povo, mas não foi eleita pelo povo. Ainda assim, o povo é meu povo". Em princípio, não fosse o famigerado sistema das coligações partidárias, essa cidadã jamais poderia tomar posse, porque, na forma da Constituição Federal, as casas legislativas compõem-se de representantes do povo, eleitos pelo povo, e, não havendo voto do povo no caso, a vereadora não poderia preencher o requisito constitucional necessário para representá-lo. Naquele Estado, têm-se revelados casos de verdadeiros absurdos, como este em comento e outro em que a primeira-dama, a esposa do governador, foi recém-aprovada pela Câmara Legislativa para o cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado, não tendo a sociedade se manifestado contra essas aberrações e esquisitices políticas. No caso da vereadora, espera-se que, não tendo havido compra de voto, envolvimento em processo de manipulação de votos, comprometimento com coligações espúrias, recebimento de dinheiro sujo de empresários nem venda da sua dignidade e consciência ética e moral, como costumeiramente faz significativa parcela dos políticos brasileiros, é bem provável que ela consiga realizar algo em benefício da sua comunidade e fazer mandato proficiente. Não há dúvida alguma de que o caso em apreço e também o preenchimento da vacância do cargo de senador por seu suplente, que não obteve voto, são verdadeira prova do retrógrado e falido sistema político-eleitoral e do retrato fiel do Brasil desgastado e desacreditado politicamente, apesar de os homens públicos preferirem manter essa demência política, porque isso lhes satisfaz em benefício de seus interesses, com o respaldo de uma legislação antiquada e ineficiente, em evidente desprezo à evolução dos sistemas políticos mundiais, que têm por objetivo o seu aprimoramento para o benefício do povo. Não obstante, qualquer proposta de reforma política fica sempre emperrada nalguma gaveta, sendo freada pelas forças que se beneficiam dessa esdrúxula situação. Em razão de exóticas distorções motivadas pelo obsoleto sistema político-eleitoral vigente, que denigre a consciência cívica dos brasileiros, urge a realização de reforma política profunda e abrangente, como forma de legitimar o aperfeiçoamento do sistema eleitoral à altura das civilizações modernas, onde o futuro político convive normalmente com o progresso científico e tecnológico. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 06 de maio de 2012

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