Algo muito inusitado acaba de acontecer na Câmara
Municipal de Coivaras, cidade de pouco mais de 3.800 habitantes, que se situa a
88 km de Teresina, capital do Estado do Piauí. Ali, com apenas o seu voto, uma
professora aposentada, de 79 anos, tomou posse no cargo de vereadora. Na
qualidade de Evangélica, ela diz que somente assumiu o mandato porque "Deus quis" e concluiu "É como diz a palavra de Deus, nos provérbios
de Salomão: 'O homem pode fazer os planos, mas a resposta vem do Senhor.'". Segundo a política, a sua performance ruim no
pleito deveu-se ao fato de ter desistido da campanha para cuidar do filho, acometido
de doença que, meses mais tarde, o levou à morte. Ela disse que "O Neto, meu filho, era minha pedra forte.
Ele queria que me candidatasse, mas eu não queria. Dizia para meus eleitores
que meu nome tinha ficado lá, mas que não era mais candidata.".
Entretanto, no dia da votação, ela decidiu: "Pensei: 'Sabe de uma coisa? Vou votar em mim. Não vou ser besta'. Se eu
votasse em mim, sustentaria o PMDB, o PSB e o PSDB, (partido) do meu prefeito.". Por obra do
destino, os outros suplentes não puderam assumir o cargo, por terem, com a
aproximação das eleições, trocados de partido. Com discurso afiado, a política
eleita com a menor quantidade de votos e nenhum do povo, disse que "Vou me comportar como simples vereadora que
quer trabalhar pelo povo, mas não foi eleita pelo povo. Ainda assim, o povo é
meu povo". Em princípio, não fosse o famigerado sistema das coligações
partidárias, essa cidadã jamais poderia tomar posse, porque, na forma da
Constituição Federal, as casas legislativas compõem-se de representantes do
povo, eleitos pelo povo, e, não havendo voto do povo no caso, a vereadora não poderia
preencher o requisito constitucional necessário para representá-lo. Naquele
Estado, têm-se revelados casos de verdadeiros absurdos, como este em comento e
outro em que a primeira-dama, a esposa do governador, foi recém-aprovada pela
Câmara Legislativa para o cargo de conselheira do Tribunal de Contas do Estado,
não tendo a sociedade se manifestado contra essas aberrações e esquisitices
políticas. No caso da vereadora, espera-se que, não tendo havido compra de
voto, envolvimento em processo de manipulação de votos, comprometimento com
coligações espúrias, recebimento de dinheiro sujo de empresários nem venda da
sua dignidade e consciência ética e moral, como costumeiramente faz
significativa parcela dos políticos brasileiros, é bem provável que ela consiga
realizar algo em benefício da sua comunidade e fazer mandato proficiente. Não há
dúvida alguma de que o caso em apreço e também o preenchimento da vacância do
cargo de senador por seu suplente, que não obteve voto, são verdadeira prova do
retrógrado e falido sistema político-eleitoral e do retrato fiel do Brasil
desgastado e desacreditado politicamente, apesar de os homens públicos preferirem
manter essa demência política, porque isso lhes satisfaz em benefício de seus
interesses, com o respaldo de uma legislação antiquada e ineficiente, em evidente
desprezo à evolução dos sistemas políticos mundiais, que têm por objetivo o seu
aprimoramento para o benefício do povo. Não obstante, qualquer proposta de reforma política fica sempre emperrada nalguma gaveta,
sendo freada pelas forças que se beneficiam dessa esdrúxula situação. Em razão de exóticas distorções motivadas
pelo obsoleto sistema político-eleitoral vigente, que denigre a consciência
cívica dos brasileiros, urge a realização de reforma política profunda e
abrangente, como forma de legitimar o aperfeiçoamento do sistema eleitoral à
altura das civilizações modernas, onde o futuro político convive normalmente
com o progresso científico e tecnológico. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 06 de maio de 2012
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