quinta-feira, 17 de maio de 2012

Anomalia política

Embora o anômalo pagamento dos 14º e 15º salários tenha sido extinto, por unanimidade, pelo Senado Federal, em absoluta consonância com a posição defendida pela sociedade, por considerá-lo regalia esdrúxula e indecente, os deputados federais resistem à pacífica aprovação da medida e se dizem desconfortados em discutir a matéria, alegando, no caso do líder do PT na Câmara, que “Vamos discutir se iremos reduzir nosso salário?”. Outro líder do grande partido PMDB alegou que “Ainda não me dediquei a pensar sobre o assunto.”, apesar da demorada e calorosa discussão do tema no Senado. Na verdade, essa classe política que pensa com órgão diferente do cérebro não é digna nem de misericórdia, porque esse sentimento de piedade somente se tolera manifestar por quem tem o mínimo de racionalidade. Veja-se que qualquer Homo sapiens médio percebe, sem dificuldade, que se trata de ignominiosa vantagem somente paga, de forma arbitrária e espúria, aos parlamentares, em evidente privilégio totalmente inaceitável, diante da insignificante representatividade desses “ilustres” cidadãos, que dão o péssimo exemplo à nação, ao comparecerem ao local de trabalho - o Congresso Nacional – somente de terça-feira à quinta-feira, sem qualquer compromisso com a produção de coisa alguma e muito menos a obrigação de prestar contas sobre suas atividades ao seu patrão, que, infelizmente, somos nós, os bestas dos contribuintes, que, de forma compulsória, custeiam o parlamento mais dispendioso do mundo e certamente o que menos produz em benefício da sociedade, mostrando que seu sacrifício é enorme, à luz da avaliação de resultado, em termos e custo-benefício, cuja atuação também não resiste a qualquer critério de honestidade e honradez. Prova disso, basta apenas sentir o que disse, com muita propriedade, o deputado ex-jogador de futebol sobre seus pares, nestes termos: “Fiz amizade com um pessoal, mas, vou lhe dizer uma coisa, ali só uma minoria de gente vale a pena conhecer. De mais de 500 deputados, uns 400 não querem saber de nada. Nada mesmo. Dão as caras, colocam a digital pra marcar presença e se mandam. Vejo isso o tempo todo.” e “Virou cena tão comum que ninguém demonstra um pingo de constrangimento em fazer o teatro. Muita gente ali ocupa cargo de líder, é tratado como autoridade, mas está no quarto mandato e nunca propôs nenhuma emendazinha. Como pode? Passam anos no bem-bom do poder sem cumprir uma vírgula do que prometeram. Mas, quando vão à tribuna, os caras falam bonito que só vendo.”. Como é constrangedor e deprimente ouvir isso de alguém que faz parte de um Congresso desmoralizado e desacreditado e ainda tem gente ali defendendo, na maior cara de pau, uma indignidade, verdadeiro absurdo, como o pagamento de salários sem o devido amparo legal e constitucional. A sociedade tem a obrigação moral e cívica de manifestar, com veemência, contrariedade à continuação desse indecente privilégio, exigindo que os parlamentares se conscientizem sobre a necessidade de acabar com essa excrescência, que tanto desmoraliza a classe beneficiada, ante a evidente falta de plausibilidade e de consistência constitucional. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES

Brasília, em 16 de maio de 2012

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