A denúncia de possível
chantagem feita pelo ex-presidente da República a um ministro do Supremo
Tribunal Federal, com a finalidade de adiar o julgamento do mensalão, em troca
de “proteção” nas investigações da CPI do Cachoeira, causou repercussões nos
meios políticos, principalmente por parte da oposição ao governo, que promete
ingressar com pedido à Procuradoria Geral da República, para investigar o caso,
e discutir possibilidades da adoção de outras medidas no âmbito do Poder
Judiciário. A OAB também prometeu reagir contra o que denominou de inadmissível
interferência na autonomia desse poder, entendendo que o acusado seja compelido
a esclarecer o fato. A assessoria do Instituto Lula disse que o ex-presidente nega
a reportagem, considerando inverídicas as conversações. Os partidários do
ex-presidente se adiantaram em defendê-lo com argumentações as mais ardorosas
possíveis, dizendo que Sua Excelência sempre “respeitou as instituições”, “tem a seu favor a sua história. Ele esteve
por oito anos no governo e jamais mudou a Constituição a seu favor.”, "O presidente Lula é amado por todo povo
brasileiro (isso não é verdade). A oposição
não tem o que fazer. Está sem discurso". Por sua vez, um ex-ministro
confirmou o encontro dos interlocutores no escritório dele, mas preferiu se
esquivar às perguntas, dizendo que “O
assunto está encerrado”. É evidente que a matéria suscita questionamentos,
por se tratar de tentativa patética e absurda de chantagear, pressionar e
cooptar importante magistrado da República, de quem se espera conduta ilibada, imparcialidade
e independência nas suas decisões e plena autonomia de expressão e de
pensamento. O fato em si, se verdadeiro, é muito grave, quando o ato falho é
cometido por ex-mandatário do país, que não tem direito de se imiscuir em
assuntos inerentes ao Judiciário e poderia ter incorrido em sério risco de ser
desqualificado e mascarado caso o ministro fosse o delegado que denunciou o
esquema da Caixa de Pondora/DF, que gravou as conversas dos infratores. O que
se pode concluir de quem teve o descaramento de dizer que o mensalão não passou
de uma tentativa de golpe contra o seu governo, nestes termos: "O PT era atacado por grande parte dos
políticos da oposição e por uma parte da imprensa brasileira. Na verdade, era
um momento em que tentaram dar um golpe neste país"? A quem acreditar
nesse caso, no ministro do Supremo ou no político que nunca teve senso
democrático e ético, conforme demonstração de desprezo às multas aplicadas pela
Justiça Eleitoral, por reiterado desrespeito às regras eleitorais, e de exortação
à extinção dos partidos de oposição, em clara atitude ditatorial. A sociedade
espera que o Supremo Tribunal Federal se encoraje ainda mais diante das pressões
surgidas, fortalecendo a sua competência constitucional de julgar, com urgência,
o famigerado processo do mensalão, em consonância com as costumeiras autonomia,
independência e competência jurídica. Acorda, Brasil!
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
Brasília, em 28 de maio de 2012
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