quinta-feira, 3 de maio de 2012

A festa da ironia

O festeiro e falastrão governador do Rio de Janeiro foi flagrado, novamente, acompanhado do presidente licenciado da empreiteira Delta, num chiquérrimo restaurante em Monte Carlo, no Principado de Mônaco, em momento de celebração, muita animação e brindes com champanhe. Nada disso passaria de mera confraternização sem a menor suspeita se o empresário não mantivesse milionários contratos com o Estado por ele governado e também com a União. Afora essa viagem a Monte Carlo, outras fotos mostraram o governador e sua mulher em viagens à Europa, também acompanhados daquele empresário, comemorando o aniversário da primeira-dama carioca, num restaurante em Paris. Os cariocas sabem perfeitamente que a empreiteira Delta é responsável por 70% das obras do Programa de Ação do Crescimento – PAC, que foi concebido e parido pela presidente da República, pois ela é considerada a mãe desse famigerado programa, que tem a finalidade de facilitar a gastança do dinheiro do povo brasileiro em obras superfaturadas e pouco úteis para beneficiar as condições de vida da população. Diante desse fato, não há qualquer dificuldade de se vislumbrar que essa festinha no “modesto” principado de Mônaco teve o patrocínio, mais uma vez, do já sacrificado contribuinte. As fotos do luxuoso recinto e do glamour dos convivas, todos animadamente rindo e se divertindo fogosamente, são o retrato sem retoque do sentimento dos políticos com relação ao povo brasileiro, demonstrando a forma banalizada de se divertirem em encontros nababescos, regados com cardápios e bebidas caríssimos à custa daqueles que, ironicamente, os elegeram, na expectativa de que eles não seriam capazes de protagonizar tamanha indignidade e cafajestagem. O episódio em comento, por si só, é bastante grave, mas se torna ainda mais deplorável por se referir ao governador do Rio, que, de forma dramática e espalhafatosa, recentemente implorava de maneira patética pelos recursos do pré-sal, por certo temendo que a redução dessas verbas possa prejudicar suas sacanagens contra o povo. O certo é que esse câncer político da corrupção com dinheiros públicos foi sedimentado e fortalecido a partir da impunidade dos fraudadores do mensalão, cujo procedimento por certo serviu de estímulo e fertilidade às práticas indecentes e inescrupulosas, vicejando de forma descontrolada na administração pública, nas esferas municipal, estadual e federal. Essa evidente destruição moral da gestão dos recursos públicos tem o beneplácito do povo brasileiro, que convive com a imundice e a contaminação dos efeitos da corrupção intrínseca no DNA dos políticos e nada faz para combatê-la com a necessária eficácia, nem tampouco se movimenta com a finalidade de recriminá-la, com iniciativa da criação de mecanismos para punir ao seu alcance o malfeitor, pelo menos com a imediata decretação da perda do cargo que foi conquistado com o voto do povo, que teria o legítimo direito de igual modo revogar o seu voto para aquele cidadão, destituindo-o desse cargo, justamente por ter se tornado indigno e desmerecedor de continuar o ocupando. Urge que a sociedade se conscientize sobre a necessidade de reforma política, que possibilite a imediata destituição, pelo voto popular, do político corrupto do cargo, tão logo seja flagrado praticando irregularidades com dinheiros públicos ou considerado indigno de continuar representando o povo que o elegeu de forma democrática. Acorda, Brasil!   
ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 03 de maio de 2012

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