sexta-feira, 25 de maio de 2012

Legalização da sujeira na política

A Câmara Federal acaba de aprovar projeto que autoriza a candidatura de políticos que tiveram suas contas rejeitadas em eleições passadas, quer por não prestarem contas, quer por prestá-las de forma incorreta ou com irregularidade, contrariando interpretação normativa do Tribunal Superior Eleitoral, que, em março último, vetou o registro de candidatos incursos numa dessas situações. O presidente daquela Casa Legislativa justifica o ato com esses argumentos: "O que acontece é que o TSE criou uma regra nova num período menor que um ano antes da eleição. E esta regra nova está impedindo que 21 mil cidadãos que se candidataram nas últimas eleições possam concorrer, inclusive pessoas com processos que não foram julgados pelo TSE", "O que estamos tentando fazer é corrigir uma distorção que foi criada pelo Tribunal Superior Eleitoral no processo eleitoral deste ano. Um cidadão lá atrás que não foi eleito e que pelo fato de não ter sido eleito não prestou contas, ele não pode ser impedido de concorrer agora" e “é um atentado contra a democracia impedir a candidatura de um político por um erro formal de prestação de contas.”. Não deixa de ser decepcionante a tentativa de contrariar o entendimento do órgão máximo da Justiça Eleitoral, por meio da institucionalização de norma absurda, que estabelece: “serão considerados quites aqueles que apresentarem à Justiça Eleitoral a prestação de contas de campanha eleitoral nos termos desta lei, ainda que as contas sejam desaprovadas.”. Isso constitui verdadeiro contrassenso, por legitimar uma irregularidade, contrariando os princípios constitucionais da legalidade, da moralidade e da decência. A Câmara Federal poderia prestar significativa contribuição ao Estado Democrático de Direito se o seu projeto traduzisse o nobre sentimento do povo brasileiro, que já demonstrou à unanimidade que não suporta mais conviver com esse bando de fichas sujas, de desonestos e aproveitadores dos recursos dos contribuintes, que sequer prestam contas das despesas de campanha ou, se as prestam, elas estão irregulares. Esses cidadãos e aqueles que os apoiam não são dignos da credibilidade dos brasileiros, que, aliás, são os responsáveis por essa demonstração de falta de transparência e de desrespeito às regras de moralização do país, por votarem neles e os elegerem. Os parlamentares que integram aquela instituição certamente estão decidindo em benefício de causa própria ou de seus pares, quando criam norma que contradiz os princípios da moralidade e do respeito à regularidade dos seus atos, no que diz respeito às contas da sua campanha eleitoral. A sociedade não pode compactuar com atos que contribuam para banalizar a inobservância das normas reguladoras sobre as eleições, amparando candidaturas de políticos que sequer têm a dignidade de prestar contas sobre a origem e a aplicação dos recursos movimentados na sua campanha eleitoral. Acorda, Brasil!

ANTONIO ADALMIR FERNANDES
 
Brasília, em 24 de maio de 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário